quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Ativamente constrangido, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Tarcísio de Freitas nega a pretensão de disputar a Presidência, mas alimenta com gestos a especulação

No folclore da política, corre uma história sobre um ex-presidente a respeito do qual havia boatos acerca de um namoro com bela senhora ocupante de alta função na República. Consultado, o mandatário negou, mas aconselhou: "Espalhem, fico lisonjeado".

É mais ou menos o que faz Tarcísio de Freitas (Republicanos) com as recentes andanças de cunho eleitoral. Refuta a pretensão de se candidatar à Presidência, mas alimenta a versão dando sinais de que se sente envaidecido com as especulações.

O governador de São Paulo, contudo, não o faz por mera vaidade. Há estratégia nos gestos. O mais recente deles, um tanto desprovido de imaginação, mas bastante explícito: a adoção do slogan "40 anos em 4", em referência aos "50 anos em 5" de Juscelino Kubitschek.

Tarcísio se posiciona na rampa de lançamento, mas não dá o salto a fim de evitar o pulo no escuro. O cenário ainda incerto não permite precipitações. É preciso preparo e, pelo visto, é o que o governador está fazendo.

Talvez atire em 2026 para acertar o alvo em 2030. Ou não, depende de como andarão as carruagens, cujas rédeas ainda estão nas mãos de Luiz Inácio da Silva (PT) e cada vez menos nas de Jair Bolsonaro (PL).

Uma das variantes teria a ver com a reação à possível condenação do ex-presidente. A julgar pelos dados na pesquisa do instituto Quaest, que apontam 55% das pessoas considerando justa a punição, não haverá o levante popular presumido por bolsonaristas. Ou melhor, por parte deles.

Valdemar Costa Neto, presidente do PL, parece conformado. Atesta que "a maioria apoia Alexandre de Moraes" e, desacorçoado, vê em Donald Trump "a única salvação". Como sabe da impossibilidade de o presidente americano interferir na decisão do Supremo Tribunal Federal, na avaliação dele a batalha estaria perdida.

Sendo como diz Valdemar, caberia à direita virar a página e sair à francesa da aba da família Bolsonaro, como de resto vêm fazendo políticos do centrão ao cortejar Tarcísio que, penhorado, corresponde e agradece.

 

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