Valor Econômico
Governador de São Paulo é visto como nome que
une centro, direita e bolsonaristas
Aliados do núcleo principal de Jair Bolsonaro avaliam que o episódio da prisão preventiva, que revogou a domiciliar e remanejou o ex-presidente para uma cela na sede da Polícia Federal, dificulta as comunicações, mas não interdita as discussões sobre quem será o herdeiro político do líder da oposição. A percepção é de que o fato fortalece o favoritismo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao mesmo tempo em que esvazia a possível candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Um desses aliados disse ao Valor que Tarcísio continua sendo o nome que une o centro, a direita e o bolsonarismo, especialmente se for ungido pelo ex-mandatário como o seu candidato à Presidência. Na visão desta fonte, a retirada de Bolsonaro do regime domiciliar deverá alertá-lo para a importância de ele escolher o nome mais competitivo de seu campo político para ganhar o seu apoio e enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2026.
Se Bolsonaro errar e Lula se reeleger, o
ex-presidente terá chances muito reduzidas de melhorar as condições de
cumprimento da pena de mais de 27 anos pela tentativa de golpe de Estado, de
progressão de regime, ou até mesmo, de revisão de sua inelegibilidade junto ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Bolsonaro é instável, mas esperamos que ele
tome a decisão correta diante da realidade”, disse. Este aliado enxerga Flávio
movimentando-se para se viabilizar como sucessor do pai, mas não acredita que o
nome dele ganhe fôlego. Relembra que nas pesquisas, no campo da oposição,
apenas Tarcísio e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro aparecem competitivos junto
a Lula.
Prisão não interdita as discussões sobre quem
será o herdeiro político do líder da oposição
Nessa mesma linha, um auxiliar com acesso
direto a Tarcísio, que falou com o Valor em
condição de anonimato, disse que a decisão sobre a sucessão cabe unicamente à
família Bolsonaro, que deveria agora ter “sabedoria” para escolher uma via que
“precisa ser muito assertiva”.
“O Tarcísio está com uma reeleição
confortável e não irá para uma aventura sem o consentimento de todos”, diz essa
fonte, em alusão às resistências vindas principalmente do deputado federal
Eduardo Bolsonaro (PL-SP), contrário à ideia de repassar o capital político do
pai para alguém de fora do clã.
Uma preocupação é com o regime de visitas a
partir da conversão da prisão em definitiva, o que deve ocorrer nos próximos
dias. Alguns aliados acham que ficará a cargo do Juízo da Vara de Execução
Penal do Distrito Federal, o que diluiria a pressão do relator no Supremo
Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Porém, como o STF consolidou a sua
competência para todos os processos relativos à tentativa de golpe, há dúvida
se caberia a Moraes decidir, apenas, sobre progressão de regime, ou sobre todas
as questões, incluindo regime de visitas.
Em vídeo divulgado no sábado (22), Flávio
disse que o ex-presidente não deveria apontar um nome como herdeiro político
nesse momento, e chamou de “canalhas” quem cobrar essa definição. “Quem falar
agora de sucessão do presidente Bolsonaro é canalha. O momento não é de
discutir isso, é de dar suporte a um cara que está doente dentro do cárcere”,
afirmou.
Já no entorno do governador Tarcísio de
Freitas, a percepção é de que ele reafirmou a fidelidade política a Bolsonaro
nesse episódio, mas essa reviravolta deve prolongar a indefinição da direita
para 2026. Tarcísio endossou o discurso bolsonarista de que a decisão do STF
sobre a preventiva foi injusta e arbitrária, principalmente por causa da saúde
dele.
A tendência nos bastidores, segundo apurou
o Valor, é que
o governador mantenha a linha de se apresentar publicamente como pré-candidato
à reeleição, uma vez que o quadro político permanece congestionado. A prisão
preventiva, que foi classificada por Tarcísio como atitude “irresponsável” e
“contra o princípio da dignidade humana”, ocorreu no momento em que cresciam
especulações sobre uma eventual candidatura de Flávio. Em seu posicionamento
público, no sábado, Tarcísio também afirmou que “Bolsonaro é inocente” e que
“segue firme” ao lado do ex-presidente.
Tarcísio tinha um encontro previsto com
Bolsonaro para o dia 10 de dezembro, mas as visitas foram canceladas com a
prisão preventiva. Na última semana, indagado sobre seu futuro, Tarcísio voltou
a dizer que está “focado no trabalho em São Paulo” e que as eleições “estão
longe”. No entanto, setores da direita e do Centrão veem o prazo ficando curto
e pressionam por um encaminhamento.
Representantes bolsonaristas da base de
Tarcísio na Assembleia Legislativa de São Paulo endossam as críticas à prisão
preventiva e à condenação de Bolsonaro pelo STF. Sobre a corrida eleitoral, no
entanto, o entendimento é de que será preciso esperar o desenrolar jurídico e
eventuais repercussões no Congresso, como a votação de um projeto de anistia
para envolvidos na trama golpista, como os condenados do 8 de janeiro.
O deputado estadual Danilo Campetti
(Republicanos-SP) diz que é preciso prudência sobre o quadro eleitoral:
“Acredito que a direita só definirá em abril de 2026, com as orientações de
Bolsonaro e Tarcísio. Apoiaremos quem eles indicarem.”
André Bueno (PL-SP) concorda que o momento
“exige equilíbrio e cautela” e que, “nas próximas semanas, não deverão ocorrer
decisões precipitadas”. Segundo o deputado, que também é pastor da Igreja
Assembleia de Deus/Ministério de Perus, a prisão de Bolsonaro foi recebida com
“profundo pesar” na política e na igreja. “O governador Tarcísio tem
demonstrado sensibilidade diante da situação e se solidarizado com a família do
ex-presidente”, afirma Bueno. O governador já disse que concederia indulto a
Bolsonaro se chegasse à cadeira de presidente da República.
Outros governadores também figuram como
presidenciáveis. Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e
Ratinho Junior (PSD-PR) estão entre os que buscam liderar a oposição contra
Lula.

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