Folha de S. Paulo
Silas Malafaia é contrário à candidatura do
senador à Presidência
Conflito entre pastor e influenciador pode
voltar à cena eleitoral
Estamos caminhando para um rompimento entre
Jair Bolsonaro e Silas
Malafaia? Na semana passada, o pastor se posicionou
publicamente contra a pré-candidatura presidencial de Flávio
Bolsonaro.
As declarações de Malafaia circularam nos jornais ao lado de outra notícia relevante: o influenciador Pablo Marçal se encontrou com Flávio e, durante um culto, orou por sua pré-candidatura.
Nas eleições municipais de 2024 em São Paulo,
Malafaia e Marçal se enfrentaram publicamente na disputa pelo apoio do
ex-presidente. Bolsonaro fechou com Ricardo Nunes, mas manteve distância do
"candidato do sistema". Na ocasião, Malafaia criticou Bolsonaro e
elogiou a lealdade de Tarcísio, que bancou a candidatura de Nunes.
Agora, o pastor defende que Bolsonaro reveja
sua escolha e indique, no lugar de Flávio, a dobradinha Tarcísio–Michelle.
Malafaia argumenta de forma pragmática.
Segundo ele, Flávio preserva o apoio do bolsonarismo raiz, mas Tarcísio tem
menor rejeição e maior capacidade de disputar votos no centro político.
Michelle, por sua vez, mobilizaria o voto de mulheres evangélicas —um dos
grupos que, em 2022, se afastou de Bolsonaro e contribuiu para a vitória
apertada de Lula.
Na leitura do pastor, a proposta beneficia
Bolsonaro em dois sentidos: aumenta as chances eleitorais da direita e mantém a
família próxima do poder. É nesse ponto que entra o fator Pablo Marçal.
O influenciador surpreendeu analistas ao
seguir um caminho semelhante ao de Bolsonaro em 2018. Por pouco, sua atuação
disruptiva não o levou ao segundo turno das eleições municipais, com chances de
vitória.
Marçal é um ás do engajamento digital. Embora
tenha afirmado que disputaria um cargo executivo em 2026 e depois recuado, sua
atuação como uma espécie de "spin doctor" de Flávio pode representar
um problema para o PT.
O partido do presidente talvez não esteja
atento ao risco de enfrentar uma campanha coordenada por Marçal: barulhenta,
baseada em factoides, capaz de confundir jornalistas e dominar ciclos de
atenção —como ocorreu em 2024. Apesar da campanha milionária, Boulos não
incomodou Marçal, e o fator idade, somado à menor familiaridade do PT com a
comunicação digital, pesa contra Lula.
Marçal foi o candidato que menos gastou, não
utilizou fundo partidário, mobilizou doações de eleitores de todo o país
—apesar de disputar apenas a Prefeitura de São Paulo— e ainda ampliou sua base
de seguidores nas redes.
Por enquanto, as falas de Malafaia em defesa
de Tarcísio têm sido respeitosas. Mas ele e Marçal têm personalidades
explosivas, e o ex-coach pode reacender o conflito —anterior a 2024—, levando o
pastor a buscar outro nome da direita para apoiar.
Para Marçal, o envolvimento com a campanha de
Flávio é vantajoso. Se tiver liberdade para atuar, tende a radicalizar a
comunicação. Se der sinais de que pode alterar a percepção sobre a viabilidade
eleitoral de Flávio, pode se apresentar como um "salvador" da
direita.
Se Flávio vencer, Marçal passa a ter acesso
direto à Presidência e acumula uma dívida de gratidão de Bolsonaro —que, neste
momento, tem pouco a perder.

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