Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Em nome de Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-prefeita Marta Suplicy, coordenadora em São Paulo da campanha da ministra Dilma Rousseff a presidente da República, anuncia que percorrerá o Estado para viabilizar a candidatura do deputado Antonio Palocci ao Palácio dos Bandeirantes.
Esta candidatura seria uma exigência do presidente com o objetivo de ampliar a votação que o PT recebe no maior colégio eleitoral do país. Segundo dados em poder do partido, a candidata petista à sucessão presidencial tem condições de chegar ao fim deste ano com 35% das intenções de voto, somando-se a força do partido com a transferência do carisma lulista. Mas para isto precisa ter votação expressiva em São Paulo. Sem uma candidatura forte ao governo do Estado, mesmo que não logrando êxito ao fim do processo, o governo teme que o adversário conquiste 80% do eleitorado de quase 25 milhões de votantes.
É em nome de Lula, também, que a tropa eleitoral petista simpática à candidatura de Emídio Souza ao governo do Estado, liderada pelo ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, trabalha para viabilizá-lo sob o argumento de que não sofre os vetos judiciais que atrapalham Palocci.
Dirigente petista próximo ao presidente diz que nenhum desses dois grupos está com ordens de Lula para agir. Havia uma avaliação, bem antes de o processo eleitoral chegar ao estágio avançado em que se encontra hoje, que se Antonio Palocci se livrasse da acusação de ter ordenado a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, seria imediatamente lançado à disputa eleitoral pelo governo de São Paulo.
Num sondagem ao Supremo Tribunal Federal, o governo ficou sabendo que esta definição não ocorrerá tão cedo. Pode até sair este ano, mas não agora. Diante do fato, o presidente teria então concordado com o grupo que decidiu dar logo os primeiros passos na exposição do nome do ex-ministro da Fazenda. A reação do outro grupo que defende a candidatura de Emídio, porém, não foi boa. Ao governo foi transmitido o recado de que os partidários de Emídio consideravam a iniciativa "um tiro no pé". E dado um conselho: Se nada impede que Palocci lance sua candidatura, independentemente do veredito do caso Francenildo, ele pode também voltar ao governo, como ministro, sem problemas.
Como Lula achou que não é o caso, no momento, afastou-se do problema e deixou que os partidários de Palocci agissem, sem vetos. Imediatamente, Marta Suplicy, como chefe da campanha de Dilma e de Palocci em São Paulo, pôs a campanha na rua. Impossível haver maior identificação com o PT do que esta divisão dentro da mesma facção, todos anunciando estar cumprindo ordens de Lula.
Segundo o dirigente que acompanha o trânsito dessas relações, o PT está, neste momento, em estado eleitoral agudo, nervoso, naquela tensão prazerosa dos períodos de campanha, desta vez iniciada com antecipação de um ano e meio. Quando se encontra nesta situação, o clima é de frenesi nesta grande máquina eleitoral, com iniciativas para todos os lados.
Diz agir em nome de Lula, também, o ex-deputado José Dirceu, que emergiu da cassação e de processo ainda inconcluso no Supremo Tribunal Federal para articular, como líder do PT, o apoio do PMDB à candidatura da ministra Dilma Rousseff. Em alguns Estados, a começar por São Paulo, a missão enfrenta obstáculos de difícil superação, mas o ex-braço direito do presidente Lula segue executando o que seriam ordens com grande desenvoltura.
Político próximo ao presidente, o dirigente petista informa que foi a candidata do partido, Dilma Rousseff, quem pediu ajuda a Dirceu na tarefa de conquistar o PMDB, e não Lula. Mas como Dirceu não aceita que ela tenha feito isto sem consultar o presidente - o PT diz que Dilma agiu com autonomia neste caso-, atribui logo ao chefe de todos o convite para atuar. "Lula é como a Blíbia, cada um lê e interpreta como quer", diz o integrante da cúpula que não crê em opções claras e definitivas do presidente em nenhuma dessas iniciativas.
O presidente, bom entendedor do partido, vai deixando que as ações se deem sem interferências. Se a ordem funciona bem aos olhos do eleitorado, a confirma; quando não dá certo, desautoriza-a internamente, com discrição. O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), o homem do terceiro mandato consecutivo para o presidente Lula, sabe do que se fala.
Distensão
O ministro Luiz Dulci, secretário geral da Presidência da República, foi enquadrado. Perfilava-se ao lado do ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social, na contestação à liderança do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e sua presença na definição de rumos para o PT de Minas Gerais.
A Presidência da República está com Pimentel, que inclusive integra a comissão encarregada de traçar estratégias para a campanha de Dilma Rousseff à sucessão de Lula. Dulci foi aconselhado a suspender a luta interna, e há sinais de que aceitou. O argumento, que ainda não funcionou com Patrus, é que ministro do governo não pode fazer a campanha fratricida.
Autonomia
O vestibular único para acesso a todas as universidades federais, anunciado oficialmente esta semana aos reitores, é a proposta sem dúvida inovadora do governo Lula para a área da Educação, e assim saudada por especialistas e educadores. Pode, entretanto, provocar um grave efeito colateral, pois transgride a autonomia universitária, uma conquista obtida depois de anos de luta e, mesmo assim, ainda em processo. Há risco real de retrocesso que só será evitado se a implantação do novo sistema não for feita aos atropelos, sob pressão inexplicável que impõe avaliações rápidas e respostas apressadas.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Em nome de Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-prefeita Marta Suplicy, coordenadora em São Paulo da campanha da ministra Dilma Rousseff a presidente da República, anuncia que percorrerá o Estado para viabilizar a candidatura do deputado Antonio Palocci ao Palácio dos Bandeirantes.
Esta candidatura seria uma exigência do presidente com o objetivo de ampliar a votação que o PT recebe no maior colégio eleitoral do país. Segundo dados em poder do partido, a candidata petista à sucessão presidencial tem condições de chegar ao fim deste ano com 35% das intenções de voto, somando-se a força do partido com a transferência do carisma lulista. Mas para isto precisa ter votação expressiva em São Paulo. Sem uma candidatura forte ao governo do Estado, mesmo que não logrando êxito ao fim do processo, o governo teme que o adversário conquiste 80% do eleitorado de quase 25 milhões de votantes.
É em nome de Lula, também, que a tropa eleitoral petista simpática à candidatura de Emídio Souza ao governo do Estado, liderada pelo ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, trabalha para viabilizá-lo sob o argumento de que não sofre os vetos judiciais que atrapalham Palocci.
Dirigente petista próximo ao presidente diz que nenhum desses dois grupos está com ordens de Lula para agir. Havia uma avaliação, bem antes de o processo eleitoral chegar ao estágio avançado em que se encontra hoje, que se Antonio Palocci se livrasse da acusação de ter ordenado a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, seria imediatamente lançado à disputa eleitoral pelo governo de São Paulo.
Num sondagem ao Supremo Tribunal Federal, o governo ficou sabendo que esta definição não ocorrerá tão cedo. Pode até sair este ano, mas não agora. Diante do fato, o presidente teria então concordado com o grupo que decidiu dar logo os primeiros passos na exposição do nome do ex-ministro da Fazenda. A reação do outro grupo que defende a candidatura de Emídio, porém, não foi boa. Ao governo foi transmitido o recado de que os partidários de Emídio consideravam a iniciativa "um tiro no pé". E dado um conselho: Se nada impede que Palocci lance sua candidatura, independentemente do veredito do caso Francenildo, ele pode também voltar ao governo, como ministro, sem problemas.
Como Lula achou que não é o caso, no momento, afastou-se do problema e deixou que os partidários de Palocci agissem, sem vetos. Imediatamente, Marta Suplicy, como chefe da campanha de Dilma e de Palocci em São Paulo, pôs a campanha na rua. Impossível haver maior identificação com o PT do que esta divisão dentro da mesma facção, todos anunciando estar cumprindo ordens de Lula.
Segundo o dirigente que acompanha o trânsito dessas relações, o PT está, neste momento, em estado eleitoral agudo, nervoso, naquela tensão prazerosa dos períodos de campanha, desta vez iniciada com antecipação de um ano e meio. Quando se encontra nesta situação, o clima é de frenesi nesta grande máquina eleitoral, com iniciativas para todos os lados.
Diz agir em nome de Lula, também, o ex-deputado José Dirceu, que emergiu da cassação e de processo ainda inconcluso no Supremo Tribunal Federal para articular, como líder do PT, o apoio do PMDB à candidatura da ministra Dilma Rousseff. Em alguns Estados, a começar por São Paulo, a missão enfrenta obstáculos de difícil superação, mas o ex-braço direito do presidente Lula segue executando o que seriam ordens com grande desenvoltura.
Político próximo ao presidente, o dirigente petista informa que foi a candidata do partido, Dilma Rousseff, quem pediu ajuda a Dirceu na tarefa de conquistar o PMDB, e não Lula. Mas como Dirceu não aceita que ela tenha feito isto sem consultar o presidente - o PT diz que Dilma agiu com autonomia neste caso-, atribui logo ao chefe de todos o convite para atuar. "Lula é como a Blíbia, cada um lê e interpreta como quer", diz o integrante da cúpula que não crê em opções claras e definitivas do presidente em nenhuma dessas iniciativas.
O presidente, bom entendedor do partido, vai deixando que as ações se deem sem interferências. Se a ordem funciona bem aos olhos do eleitorado, a confirma; quando não dá certo, desautoriza-a internamente, com discrição. O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), o homem do terceiro mandato consecutivo para o presidente Lula, sabe do que se fala.
Distensão
O ministro Luiz Dulci, secretário geral da Presidência da República, foi enquadrado. Perfilava-se ao lado do ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social, na contestação à liderança do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e sua presença na definição de rumos para o PT de Minas Gerais.
A Presidência da República está com Pimentel, que inclusive integra a comissão encarregada de traçar estratégias para a campanha de Dilma Rousseff à sucessão de Lula. Dulci foi aconselhado a suspender a luta interna, e há sinais de que aceitou. O argumento, que ainda não funcionou com Patrus, é que ministro do governo não pode fazer a campanha fratricida.
Autonomia
O vestibular único para acesso a todas as universidades federais, anunciado oficialmente esta semana aos reitores, é a proposta sem dúvida inovadora do governo Lula para a área da Educação, e assim saudada por especialistas e educadores. Pode, entretanto, provocar um grave efeito colateral, pois transgride a autonomia universitária, uma conquista obtida depois de anos de luta e, mesmo assim, ainda em processo. Há risco real de retrocesso que só será evitado se a implantação do novo sistema não for feita aos atropelos, sob pressão inexplicável que impõe avaliações rápidas e respostas apressadas.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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