DEU EM O GLOBO
Manifesto de empresários defende banco, mas especialistas criticam política de fomento
Cássia Almeida, Aguinaldo Novo e Patrícia Duarte
RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA - Manifesto publicado ontem nos cinco principais jornais do país por 12 entidades empresariais em defesa do BNDES criou polêmica entre especialistas.
Sob o título Em defesa do investimento, o texto das entidades que reúnem indústrias que faturam R$ 672 bilhões, ou 21% da economia brasileira afirma que o BNDES tem sofrido ataques que ganharam vulto nas últimas semanas, critica os juros estratosféricos praticados no Brasil e apoia as políticas do banco. Mas especialistas divergem sobre qual deveria ser o papel de um banco de fomento num momento em que a economia brasileira cresce com força.
A iniciativa de publicar o manifesto partiu do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, que conseguiu o apoio de outros empresários.
Nosso objetivo foi provocar a discussão. No Brasil, só se ouve os bancos afirmou ele, que classificou de terrorismo as análises do mercado financeiro sobre a necessidade de elevar a taxa básica de juros (Selic).
A crítica mais recente ao BNDES está na capitalização, em 2009 e 2010, de R$ 180 bilhões feita pelo Tesouro Nacional, que capta recursos pagando Taxa Selic, hoje em 10,75% ao ano, enquanto o banco de fomento empresta cobrando das empresas 6% ao ano. E as operações de capitalização do BNDES pelo Tesouro têm impacto sobre a dívida pública bruta do país, que era de R$ 1,74 trilhão em 2008 e deve fechar este ano em R$ 2,20 trilhões.
Para o economista Armando Castelar, da Gávea Investimentos, o ideal seria dar mais transparência à concessão de empréstimos com dinheiro público.
Para ele, não deveria haver sigilo bancário para esses financiamentos: Assim, a sociedade poderia avaliar se o retorno social com os empréstimos, como geração de empregos, supera os custos de o cidadão pagar uma taxa básica de juros e carga tributária mais altas.
Castelar não vê sentido em empréstimos para grandes empresas como Petrobras e Vale, que já obtiveram grau de investimento pelas agências de risco e podem captar dinheiro lá fora a custo baixo.
Empresários criticam setor financeiro
No manifesto publicado ontem, as entidades empresariais de setores tão diversos como têxtil, produtos químicos, siderurgia e indústria plástica afirmam, porém, que os incentivos do BNDES estão permitindo a crescer 2% do PIB em investimento, ou seja, mais de R$ 60 bilhões em investimentos adicionais.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz, as críticas ao BNDES são uma campanha orquestrada pelos bancos privados. Perguntado se o manifesto não poderia ser entendido como uma declaração de guerra contra os bancos, Aubert, da Abimaq, rechaçou a ideia, mas não perdeu a chance de criticar o setor.
A média das operações aprovadas pelo BNDES é de R$ 250 mil, ou seja, se destina a pequenas e médias empresas. Esse dinheiro passa pelos bancos. Mas eles não têm interesse em aumentar isso, porque a comissão deles é pequena.
Procurada, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) afirmou que nada tem a comentar, até porque o setor financeiro é parceiro do BNDES no repasse dos financiamentos.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Vestuário, Aguinaldo Diniz Filho, disse que a decisão de publicar o manifesto em meio à campanha presidencial não teve objetivo político.
É um movimento suprapartidário.
O manifesto é apenas um reconhecimento do papel do BNDES.
O professor da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda concorda com a posição os empresários: A China e a Coreia do Sul, nossos principais competidores, financiam o investimento a custo praticamente zero.
Ou o Brasil cria instrumentos ou estamos fora da disputa internacional.
Para o economista, não há subsídio, se for levado em conta que o investimento gera arrecadação.
Para analista, BNDES concentra renda
Para o ex-professor da USP Joaquim Elói Cirne de Toledo, financiamentos com juros subsidiados devem ser concedidos apenas para inovação e para pequenas e médias empresas: Não há justificativa para se financiar grandes empresas. É transferir dinheiro do trabalhador para alguns poucos acionistas. É concentrar renda em um país já muito desigual.
Dentro do Banco Central (BC), prevalece a avaliação de que os juros subsidiados são um empecilho para que a Selic seja menor. Para o BC, o crédito a taxas mais baixas acaba alimentando a demanda.
Os créditos direcionados são um terço do total que circula no país. E a participação do BNDES na economia só cresce. Em 1997, os desembolsos do banco eram de R$ 19,1 bilhões. Este ano devem chegar a R$ 130 bilhões.
Recentemente, o presidente do BC, Henrique Meirelles, deixou claro que os juros subsidiados podem interferir na política monetária. Oficialmente, o BC não se pronunciou ontem sobre o manifesto. O BNDES também se recusou a comentar a manifestação.
Manifesto de empresários defende banco, mas especialistas criticam política de fomento
Cássia Almeida, Aguinaldo Novo e Patrícia Duarte
RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA - Manifesto publicado ontem nos cinco principais jornais do país por 12 entidades empresariais em defesa do BNDES criou polêmica entre especialistas.
Sob o título Em defesa do investimento, o texto das entidades que reúnem indústrias que faturam R$ 672 bilhões, ou 21% da economia brasileira afirma que o BNDES tem sofrido ataques que ganharam vulto nas últimas semanas, critica os juros estratosféricos praticados no Brasil e apoia as políticas do banco. Mas especialistas divergem sobre qual deveria ser o papel de um banco de fomento num momento em que a economia brasileira cresce com força.
A iniciativa de publicar o manifesto partiu do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, que conseguiu o apoio de outros empresários.
Nosso objetivo foi provocar a discussão. No Brasil, só se ouve os bancos afirmou ele, que classificou de terrorismo as análises do mercado financeiro sobre a necessidade de elevar a taxa básica de juros (Selic).
A crítica mais recente ao BNDES está na capitalização, em 2009 e 2010, de R$ 180 bilhões feita pelo Tesouro Nacional, que capta recursos pagando Taxa Selic, hoje em 10,75% ao ano, enquanto o banco de fomento empresta cobrando das empresas 6% ao ano. E as operações de capitalização do BNDES pelo Tesouro têm impacto sobre a dívida pública bruta do país, que era de R$ 1,74 trilhão em 2008 e deve fechar este ano em R$ 2,20 trilhões.
Para o economista Armando Castelar, da Gávea Investimentos, o ideal seria dar mais transparência à concessão de empréstimos com dinheiro público.
Para ele, não deveria haver sigilo bancário para esses financiamentos: Assim, a sociedade poderia avaliar se o retorno social com os empréstimos, como geração de empregos, supera os custos de o cidadão pagar uma taxa básica de juros e carga tributária mais altas.
Castelar não vê sentido em empréstimos para grandes empresas como Petrobras e Vale, que já obtiveram grau de investimento pelas agências de risco e podem captar dinheiro lá fora a custo baixo.
Empresários criticam setor financeiro
No manifesto publicado ontem, as entidades empresariais de setores tão diversos como têxtil, produtos químicos, siderurgia e indústria plástica afirmam, porém, que os incentivos do BNDES estão permitindo a crescer 2% do PIB em investimento, ou seja, mais de R$ 60 bilhões em investimentos adicionais.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz, as críticas ao BNDES são uma campanha orquestrada pelos bancos privados. Perguntado se o manifesto não poderia ser entendido como uma declaração de guerra contra os bancos, Aubert, da Abimaq, rechaçou a ideia, mas não perdeu a chance de criticar o setor.
A média das operações aprovadas pelo BNDES é de R$ 250 mil, ou seja, se destina a pequenas e médias empresas. Esse dinheiro passa pelos bancos. Mas eles não têm interesse em aumentar isso, porque a comissão deles é pequena.
Procurada, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) afirmou que nada tem a comentar, até porque o setor financeiro é parceiro do BNDES no repasse dos financiamentos.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Vestuário, Aguinaldo Diniz Filho, disse que a decisão de publicar o manifesto em meio à campanha presidencial não teve objetivo político.
É um movimento suprapartidário.
O manifesto é apenas um reconhecimento do papel do BNDES.
O professor da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda concorda com a posição os empresários: A China e a Coreia do Sul, nossos principais competidores, financiam o investimento a custo praticamente zero.
Ou o Brasil cria instrumentos ou estamos fora da disputa internacional.
Para o economista, não há subsídio, se for levado em conta que o investimento gera arrecadação.
Para analista, BNDES concentra renda
Para o ex-professor da USP Joaquim Elói Cirne de Toledo, financiamentos com juros subsidiados devem ser concedidos apenas para inovação e para pequenas e médias empresas: Não há justificativa para se financiar grandes empresas. É transferir dinheiro do trabalhador para alguns poucos acionistas. É concentrar renda em um país já muito desigual.
Dentro do Banco Central (BC), prevalece a avaliação de que os juros subsidiados são um empecilho para que a Selic seja menor. Para o BC, o crédito a taxas mais baixas acaba alimentando a demanda.
Os créditos direcionados são um terço do total que circula no país. E a participação do BNDES na economia só cresce. Em 1997, os desembolsos do banco eram de R$ 19,1 bilhões. Este ano devem chegar a R$ 130 bilhões.
Recentemente, o presidente do BC, Henrique Meirelles, deixou claro que os juros subsidiados podem interferir na política monetária. Oficialmente, o BC não se pronunciou ontem sobre o manifesto. O BNDES também se recusou a comentar a manifestação.
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