1) A consistência e os desdobramentos das denúncias de tráfico de influência na Casa Civil, envolvendo os familiares de Erenice Guerra, como ministra e também enquanto secretária-executiva da antecessora Dilma Rousseff, que efeito terão nas pesquisas desta semana sobre a disputa presidencial? Ou a intensa exploração delas na campanha do oposicionista José Serra vai, enfim, provocar uma queda apreciável da candidata governista, de par com um avanço simultâneo, dos índices de intenção de votos dele e de Marina Silva, que comece a tornar possível, ainda, um adiamento da decisão para o 2º turno. Ou, ao invés disso, tais pesquisas vão repetir as anteriores (já processadas sob o impacto inicial das referidas pesquisas), que mantiveram o cenário de uma decisão rápida em 3 de outubro ao constatarem estabilidade de Dilma, queda de Serra em torno de dois pontos percentuais e crescimento de três pontos do índice nacional de Marina.
2) A novidade significativa das pesquisas (Ibope e Datafolha) da semana passada foi tal crescimento, obtido por meio da atração de eleitores do concorrente tucano e com parcela dos de Dilma nas camadas médias (desgaste que esta compensou com a ampliação do apoio do eleitorado de menores renda e grau de escolaridade).O avanço de Marina em São Paulo e sobretudo no Rio, onde pode ultrapassar Serra, leva dirigentes do PV e personalidades que a apóiam a preverem uma “onda verde” nos próximos dez dias. Cuja dimensão, porém, deverá limitar-se a uma fatia dos jovens de classe média e dos formadores de opinião, sem peso para forçar um 2º turno. Quanto à campanha de Serra, à reorientação que adotou ao passar a duplos ataques a Dilma e ao próprio Lula, até agora com dividendos negativos, ele somou as propostas de um salário mínimo de 600 reais (bem acima dos definidos pelo Palácio do Planalto para 2011) e de um 13º do Bolsa Família. Num apelo de cunho populista de improvável efeito eleitoral e com repercussão negativa no conjunto dos círculos empresariais e junto aos analistas, sobretudo os de postura oposicionista, preocupados com o equilíbrio das contas públicas, já seriamente ameaçado pela escalada dos gastos governamentais.
3) Incapaz ou insuficiente, assim - a meu ver - de suscitar uma reversão no curso da disputa presidencial, o escândalo do tráfico de influência na Casa Civil, em sua combinação com outras bombas de explosivos efeitos pós-eleitorais (além dos imediatos), lançadas pelo campo situacionista às vésperas do 1º turno, tem, entretanto, alto potencial de complicações para um governo Dilma Rousseff. As bombas foram a palestra para sindicalistas feita por José Dirceu na Bahia sobre os objetivos do PT nesse governo (com repercussão atenuada pelo referido escândalo) e a extrema agressividade usada pelo presidente Lula contra a imprensa em comício realizado em Campinas e reiterada em manifestações seguintes.
4) Quais as conseqüências previsíveis desses fatores de problemas para a provável sucessora de Lula? O escândalo da Casa Civil, que se adensa quase a cada dia, seguirá sendo acompanhado de perto pela imprensa ao longo de uma apuração (também por órgãos independentes) a estender-se no mínimo por vários meses. Bem mais importantes – ademais de efeitos contraditórios que poderão ter – serão as implicações do enunciado de metas do PT num mandato de Dilma que José Dirceu explicitou (num encontro reservado que repórteres conseguiram tornar público). Objetivos centrais indicados: controle da composição e das decisões básicas do governo pelo partido, a ser propiciado por uma sucessora muito mais dependente do que o foi Lula; hegemonia que reserve papel secundário ao PMDB no Executivo e no Congresso; ativação dos “movimentos sociais”, especialmente para fazer frente aos grandes veículos da mídia que se opõem aos principais projetos do governo Lula, como se oporão aos do próximo; e disputa de influência pessoal no Executivo em detrimento de Antonio Palocci (já atacado diretamente em declarações que fez anteriormente). Efeitos contraditórios (que indiquei acima) da estratégia de José Dirceu: contraposição de Dilma ao plano de enquadramento petista do governo, tendo em vista sua autonomia de comando e o relacionamento com o PMDB; reação semelhante de Lula, empenhado em colocar o PT a serviço de seu populismo pragmático; e Palocci pode ter preservado e até ampliado influência junto a Dilma (o que poderá ser fator de contenção do estatismo e do populismo no próximo governo).
5) A reação ao escândalo da Casa Civil e ao temor de que as denúncias empurrem o pleito presidencial para o 2º turno levaram o presidente Lula a ataques violentos a um “golpismo da mídia”, os quais, para além da radicalização eleitoreira, reforçam a possibilidade de retomada do projeto de “controle social” da imprensa, um dos objetivos petistas num governo Dilma enunciados por José Dirceu. Esse risco está motivando expressiva mobilização de juristas, intelectuais e artistas em torno de um manifesto da democracia, que começa hoje com a realização de um ato público na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. Em contrapartida, sindicalistas da CUT e das outras centrais ligadas ao governo, bem como o MST, promovem amanhã, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, uma “mobilização social” contra o “golpismo midiático”. Chavismo puro.
Jarbas de Holanda é jornailista
2) A novidade significativa das pesquisas (Ibope e Datafolha) da semana passada foi tal crescimento, obtido por meio da atração de eleitores do concorrente tucano e com parcela dos de Dilma nas camadas médias (desgaste que esta compensou com a ampliação do apoio do eleitorado de menores renda e grau de escolaridade).O avanço de Marina em São Paulo e sobretudo no Rio, onde pode ultrapassar Serra, leva dirigentes do PV e personalidades que a apóiam a preverem uma “onda verde” nos próximos dez dias. Cuja dimensão, porém, deverá limitar-se a uma fatia dos jovens de classe média e dos formadores de opinião, sem peso para forçar um 2º turno. Quanto à campanha de Serra, à reorientação que adotou ao passar a duplos ataques a Dilma e ao próprio Lula, até agora com dividendos negativos, ele somou as propostas de um salário mínimo de 600 reais (bem acima dos definidos pelo Palácio do Planalto para 2011) e de um 13º do Bolsa Família. Num apelo de cunho populista de improvável efeito eleitoral e com repercussão negativa no conjunto dos círculos empresariais e junto aos analistas, sobretudo os de postura oposicionista, preocupados com o equilíbrio das contas públicas, já seriamente ameaçado pela escalada dos gastos governamentais.
3) Incapaz ou insuficiente, assim - a meu ver - de suscitar uma reversão no curso da disputa presidencial, o escândalo do tráfico de influência na Casa Civil, em sua combinação com outras bombas de explosivos efeitos pós-eleitorais (além dos imediatos), lançadas pelo campo situacionista às vésperas do 1º turno, tem, entretanto, alto potencial de complicações para um governo Dilma Rousseff. As bombas foram a palestra para sindicalistas feita por José Dirceu na Bahia sobre os objetivos do PT nesse governo (com repercussão atenuada pelo referido escândalo) e a extrema agressividade usada pelo presidente Lula contra a imprensa em comício realizado em Campinas e reiterada em manifestações seguintes.
4) Quais as conseqüências previsíveis desses fatores de problemas para a provável sucessora de Lula? O escândalo da Casa Civil, que se adensa quase a cada dia, seguirá sendo acompanhado de perto pela imprensa ao longo de uma apuração (também por órgãos independentes) a estender-se no mínimo por vários meses. Bem mais importantes – ademais de efeitos contraditórios que poderão ter – serão as implicações do enunciado de metas do PT num mandato de Dilma que José Dirceu explicitou (num encontro reservado que repórteres conseguiram tornar público). Objetivos centrais indicados: controle da composição e das decisões básicas do governo pelo partido, a ser propiciado por uma sucessora muito mais dependente do que o foi Lula; hegemonia que reserve papel secundário ao PMDB no Executivo e no Congresso; ativação dos “movimentos sociais”, especialmente para fazer frente aos grandes veículos da mídia que se opõem aos principais projetos do governo Lula, como se oporão aos do próximo; e disputa de influência pessoal no Executivo em detrimento de Antonio Palocci (já atacado diretamente em declarações que fez anteriormente). Efeitos contraditórios (que indiquei acima) da estratégia de José Dirceu: contraposição de Dilma ao plano de enquadramento petista do governo, tendo em vista sua autonomia de comando e o relacionamento com o PMDB; reação semelhante de Lula, empenhado em colocar o PT a serviço de seu populismo pragmático; e Palocci pode ter preservado e até ampliado influência junto a Dilma (o que poderá ser fator de contenção do estatismo e do populismo no próximo governo).
5) A reação ao escândalo da Casa Civil e ao temor de que as denúncias empurrem o pleito presidencial para o 2º turno levaram o presidente Lula a ataques violentos a um “golpismo da mídia”, os quais, para além da radicalização eleitoreira, reforçam a possibilidade de retomada do projeto de “controle social” da imprensa, um dos objetivos petistas num governo Dilma enunciados por José Dirceu. Esse risco está motivando expressiva mobilização de juristas, intelectuais e artistas em torno de um manifesto da democracia, que começa hoje com a realização de um ato público na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. Em contrapartida, sindicalistas da CUT e das outras centrais ligadas ao governo, bem como o MST, promovem amanhã, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, uma “mobilização social” contra o “golpismo midiático”. Chavismo puro.
Jarbas de Holanda é jornailista
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