Há uma novidade no cenário político: a Mobilização Democrática (MD), partido que nasce da fusão do PPS e do PMN, em nível nacional. A discussão a respeito da fusão destes dois partidos é antiga, mas foi precipitada pelo casuísmo do governo federal ao colocar em votação medidas que inviabilizariam a transferência de parlamentares entre partidos, mesmo que fosse para um novo partido, como permite a lei. Na prática, caso essa iniciativa patrocinada pelo governo obtivesse êxito, seriam garantidos mais recursos e tempo de TV à candidatura de Dilma Rousseff e estariam inviabilizados partidos novos, como a REDE de Sustentabilidade, liderada por Marina Silva. Vitoriosa na Câmara Federal e em suspensão no Senado, a ameaça ainda é latente.
Contra esta violência, antecipou-se a criação da MD. Quando o PPS nasceu em 1992, em razão do esgotamento do PCB, a perspectiva era a de se construir uma força política ampla e plural, agregando setores progressistas da esquerda democrática. Duas décadas depois, a MD nasce, num outro contexto, mas mantém a mesma perspectiva: elaborar com a sociedade um projeto alternativo para o Brasil.
Como um partido que visa ser identificado como esquerda democrática, a MD se diferencia claramente da visão que fundamentou o “socialismo” soviético bem como daquela insensatez das guerrilhas identificadas com a Revolução Cubana de 1959, que levou muitos jovens no Brasil e na América Latina a um inútil sacrifício em décadas passadas. A MD estabelece também uma distância regulamentar em relação ao bolivarianismo, em qualquer de suas versões, uma vez que este tem revelado muito pouco apreço às regras e aos valores da democracia, elementos essenciais para uma esquerda democrática.
Por fim, a MD se contrapõe claramente ao “estranho projeto de esquerda” encabeçado pelo PT e sancionado nas três últimas eleições presidenciais. Um projeto que tem marketing e personagens de esquerda, é secundado pela centro-direita (PMDB) e se apoia, sobretudo, em lideranças advindas dos setores oligárquicos do atraso brasileiro; em suma, se sustenta com o apoio da direita brasileira. O resultado dos últimos anos tem sido o de alguns avanços, como o ingresso de mais pessoas no mercado de consumo (o que ocorre igualmente ao redor do mundo), mas tem-se mostrado desastroso para o país porque tem aprofundado a desindustrialização, vem sendo leniente com a inflação, o que resulta no endividamento das famílias, e, por fim, se sustenta num assistencialismo de motivação eleitoral, desfigurador da livre cidadania. Isso sem mencionarmos a chaga da corrupção, que empurrou, pela primeira vez, a esquerda para as páginas do noticiário policial e para a barra dos tribunais.
Contra esse estado de coisas, a MD, assumindo integralmente a necessária e estratégica conexão entre democracia e modernidade, quer se constituir como um instrumento de ação política de caráter reformista, capaz de afirmar a construção democrática brasileira como um novo modelo de estado social, econômico e cultural. Os termos para isso estão dados pela Constituição de 1988, cujos institutos e atributos possibilitam à cidadania se organizar e lutar por soluções positivas e inovadoras para seus problemas. Para a MD, tais soluções devem fincar os pilares de um novo futuro para o povo brasileiro.
Alberto Aggio é professor da Unesp-Franca
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