Foi-se o tempo em que a bola parava o país. Enquanto a Seleção vencia o Uruguai por 2 xl e se classificava para a final da Copa das Confederações, o Senado e a Câmara aprovavam celeremente projetos que estavam na pauta dos manifestantes, e os protestos pacíficos terminavam em pancadaria e prisões na Esplanada dos Ministérios. Em Belo Horizonte, grupo invadia lojas e provocava incêndios
A violência em rede nacional
BELO HORIZONTE e BRASÍLIA — A visibilidade internacional da Copa das Confederações serviu, mais uma vez, como pano de fundo para protestos violentos. Antes, durante e depois do jogo entre Brasil e Uruguai, na tarde de ontem, o entorno do estádio do Mineirão, na capital mineira, virou praça de guerra. Nem mesmo a aprovação, na Câmara dos Deputados, do fim do voto secreto e do projeto que transforma corrupção em crime hediondo, no Senado, acalmou os ânimos. Nas avenidas Antônio Carlos e Antônio Abrahão Caram, principais vias de acesso ao estádio, houve diversos confrontos com policiais do Batalhão de Choque. Um grupo depredou lojas, ateou fogo a concessionárias de veículos e tentou explodir um posto de gasolina. A estimativa oficial é de que 50 mil pessoas participaram da manifestação. Trinta ficaram feridas e 23 acabaram presas.
Os PMs utilizaram bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha. Dois manifestantes caíram do viaduto José Alencar. Douglas Henrique de Oliveira, de 21 anos, morreu no Hospital Pronto-Socorro João XXIII, vítima de um traumatismo craniano. O outro rapaz acabou atingido no olho direito por uma bala de borracha. Aproximadamente 40 voluntários, entre estudantes de medicina e psicologia, fizeram atendimento aos feridos no meio da rua. Muitas pessoas apresentavam ferimentos provocados por balas de borracha e estilhaços de bomba.
Quando o jogo começou, às 16h, um grupo utilizou barreiras de metal e de madeira, instaladas para isolar o acesso ao Mineirão, durante o confronto com policiais que tentavam impedir o avanço do movimento em direção ao estádio. A Fifa determina uma área de isolamento de 2km. No entanto, um trecho muito maior foi bloqueado. Comerciantes cercaram as lojas com tapumes. Pelo menos, cinco concessionárias localizadas na Avenida Antônio Carlos acabara depredadas, com a destruição de dezenas de veículos.
Por volta das 20h30, uma nova onda de violência começou. Muitas lojas da Avenida Antônio Carlos tiveram janelas e portas quebradas mesmo com os tapumes de proteção. Numa concessionária, houve registro de roubo de diversas motocicletas. Carros e lojas também foram incendiados pelos manifestantes.
Um pouco antes, às 20h, na Praça Sete, manifestantes lincharam um homem. De acordo com o grupo, ele era responsável pelo carro de som que estava puxando a passeata. Os mais radicais não concordaram com as palavras de ordem proferidas por ele. Às 18h30, no momento em que vários torcedores ainda deixavam o estádio, um grupo mais violento começou a atirar pedras no policiais. As pessoas gritavam: "Não vai ter Copa". A polícia apagou a iluminação de algumas ruas e lançou bombas de efeito moral contra as pessoas.
Antes das manifestações, 13 pessoas já tinham sido detidas. Os integrantes do movimento reclamaram de excessos da polícia. Cinco foram abordados na região da rodoviária da capital por portarem objetos pontiagudos. Outros oito foram presos por depredarem um supermercado.
"Hoje ficou claro que é uma pequena minoria que promove toda confusão, mas que está contagiando as outras pessoas. A polícia está usando os meios necessários para reagir às injustas agressões dos vândalos", informou o tenente-coronel da Polícia Militar de Minas Gerais Alberto Luiz. "Eles atiram contra inocentes. Essa polícia é despreparada", afirmou o estudante Jonas Santilo, 19 anos, que participava do protesto.
Congresso
Em Brasília, o clima, durante quase todo o dia, foi de paz. A Polícia Militar registrou tumultos. Por volta das 21h, cerca de 4 mil pessoas permaneciam no gramado em frente ao Congresso Nacional. Três mil policiais foram mobilizados para fazer a segurança na Esplanada. Um grupo jogou vários rojões na polícia. Alguns policiais devolveram. A manifestação se dispersou às 22h com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Pelo menos 10 manifestantes foram presos por incitar a violência. Em dois casos, a PM utilizou armas de choque. Dois policiais ficaram feridos. Manifestantes, no entanto, reclamaram da truculência dos militares.
Mais cedo, por volta das 16h, os manifestantes se concentraram, na Biblioteca Nacional. O clima era de festa. Uma hora depois, desceram em direção ao Congresso. Grande parte deles gritou palavras de ordem contra o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Marco Feliciano, o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), e a presidente Dilma Rousseff. "Os ladrões estão no Congresso e eles colocam um batalhão inteiro da PM para nos acompanhar. Polícia tem que prender ladrão. É só ir lá. Vai faltar cadeia", disse o estudante universitário Paulo Bringel dos Santos, 28 anos.
Participaram desta cobertura João Valadares, Leandro Kleber, Edson Luiz, Luana Cruz, Gabriela Pacheco, Mateus Parreiras, João Henrique do Vale, Daniel Silveira, Luciane Evans, Pedro Ferreira, Lucas Rage e Felipe Castanheira
A voz da população
Confira como foram os protestos em outras cidades do país
Manaus
Manifestação reuniu 10 mil pessoas. A concentração ocorreu no Centro. Depois, os ativistas seguiram em passeata em direção à Assembleia Legislativa
Teresina
Cerca de 300 pessoas participaram de protesto. Um adolescente de 15 anos foi esfaqueado em uma confusão, quando tentava furar um bloqueio formado por manifestantes. Uma pessoa foi atropelada.
Vitória
Mais de 100 pessoas foram presas na cidade e em Vila Velha. Houve saques e depredações. A polícia usou bombas de efeito moral. Manifestantes chegaram a cercar a casa do governador Renato Casagrande.
Fortaleza
Houve pequeno protesto contra o projeto da "cura gay" e a favor da retirada do pastor Marco Feliciano da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados
Belém
Houve manifestação pacífica, após o fim do jogo do Brasil contra o Uruguai, com cerca de 4,5 mil participantes
Maceió
Cerca de 400 pessoas fizeram protesto pacífico de cerca de quatro horas por avenidas da cidade
Campinas (SP)
Manifestantes pediram a instalação de uma CPI para investigar gastos e contratos do transporte público na cidade
João Pessoa
Após a derrubada da PEC 37, centenas de manifestantes foram às ruas protestar contra a PEC 33, que submete decisões da Suprema Corte ao Congresso. O protesto foi pacífico
Porto Velho
Manifestantes foram às ruas pedir a reforma política, a redução da tarifa do transporte público e um reajuste de 10% para os servidores estaduais que trabalham na área da educação. Houve confronto com a polícia
Palmas
Houve protesto em frente à prefeitura e ao prédio do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros do Tocantins. Manifestantes seguiram por algumas das principais vias da cidade
Uberlândia (MG)
Milhares de pessoas foram às ruas protestar, mais uma vez, contra o valor da tarifa do transporte público. Os manifestantes pedem redução de R$ 0,25, mas o prefeito garantiu R$ 0,15
Porto Alegre
Houve beijaço no centro da cidade em protesto à manutenção do pastor Marco Feliciano na CDHM da Câmara dos Deputados e contra a proposta de "cura gay", com a participação de cerca de 200 pessoas
Santa Maria (RS)
As cerca de 100 pessoas que dormiram na Câmara Municipal na noite da terça-feira permaneceram no local ontem. Elas querem a renúncia dos integrantes da CPI criada para investigar o incêndio na boate Kiss
Pelotas (RS)
Cerca de 5 mil pessoas participaram de ato na cidade. Houve repressão policial com uso de balas de borracha. Manifestantes atiraram pedras contra os militares. Lixeiras, ônibus e automóveis foram depredados
Bagé (RS)
Cerca de 300 pessoas participaram do protesto contra o valor da tarifa do transporte público, a homofobia e o atraso em obras de uma barragem
Fonte: Correio Braziliense
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