• Enquanto o Planalto e aliados se desdobram para impedir investigações no Congresso, continuam a surgir informações sobre negócios mal-feitos
Nenhum governo gosta de CPI, muito menos em ano eleitoral. Eis o porquê de tantas manobras engendradas entre o Palácio e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para retardar ao máximo qualquer investigação sobre a Petrobras que possa ser deflagrada no Congresso.
A ordem era impedir uma comissão parlamentar de inquérito apenas para vasculhar a estranha operação de compra da refinaria de Pasadena e outros negócios também esquisitos, todos com um ponto em comum: terem provocado prejuízos na estatal, pelo pagamento de preços siderais e/ou por absurdos superfaturamentos — caso das obras da refinaria Abreu Lima e do Comperj (polo petroquímico do Rio de Janeiro).
Perdida a batalha da CPI exclusiva, com a liminar concedida pela ministra Rosa Weber a favor da comissão, como direito da minoria parlamentar — não se espera que o Pleno do STF casse a decisão da magistrada —, a base do governo (Renan à frente) trata agora de inviabilizar os trabalhos. Seja pelo exótico funcionamento simultâneo de duas CPIs, a Mista e uma outra no Senado, ou por qualquer outro artifício regimental. Importa é impedir mais dificuldades à campanha de reeleição de Dilma. Bastam a inflação, o baixo crescimento e o risco de algum repique no mercado de trabalho a preocupar a presidente e sua equipe de campanha.
O flanco frágil nesta estratégia é que não se tem certeza de que a inviabilização matreira das investigações ajudará a candidatura de Dilma. Por que não poderá, ao contrário, prejudicá-la? Nos bate-papos de esquina pode se perguntar sobre o que tanto querem esconder.
Conspiram contra os estrategistas do governo os fatos. Afinal, não para o fluxo de novas informações, originadas na Polícia Federal, em que transcorre a Operação Lava Jato, e mesmo do inquérito interno em curso na estatal para averiguar, entre outros pontos, a atuação do ex- diretor Internacional Nestor Cerveró, autor do documento “técnica e juridicamente falho”, na compra da refinaria.
Cerveró, informou ontem o GLOBO, ao ser ouvido neste inquérito, voltou a responsabilizar Dilma, à época presidente do Conselho de Administração da estatal, pela batida do martelo na aquisição de Pasadena, causa de um prejuízo já registrado em balanço de meio bilhão de dólares.
O tempo passa e novas histórias surgem. A “Folha de S.Paulo” de terça revelou que a aquisição da refinaria Nansei, no Japão, em 2008, também foi resolvida sem que o Conselho estivesse bem informado sobre a operação. Também aqui estava Nestor Cerveró, autor, afirma-se, de outro sumário problemático.
Com ou sem CPI, há, ainda, um ex-diretor da Petrobras preso, Paulo Roberto Costa, “sócio” do doleiro Alberto Youssef — os dois, detidos pela Lava Jato —, capaz de esclarecer o funcionamento de um circuito de propinas construído em torno de canteiros de obras da estatal.
Nem tudo, portanto, parece estar dominado.
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