• Ex-senadora reclama de comparações entre tucano e Campos, do PSB, de quem será a Vice
Bernardo Mello Franco – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A cinco meses da eleição, a ex-senadora Marina Silva afirma que o PSDB de Aécio Neves já entrou na disputa com o "cheiro da derrota" no segundo turno. Ela diz que seu companheiro de chapa, Eduardo Campos (PSB), é o único capaz de impedir a reeleição de Dilma Rousseff (PT).
A declarações devem ajudar a sepultar o clima de trégua entre os dois candidatos, que vinham atuando em parceria para desgastar a petista.
Incomodada com as comparações entre Campos e Aécio, Marina afirmou que o aliado defende ideias mais progressistas que o tucano. Também atacou Dilma, a quem acusou de usar a propaganda oficial para esconder os problemas do governo.
A ex-senadora se mostrou incomodada com o relato do ex-presidente Lula, revelado na segunda pela coluna Mônica Bergamo, da Folha, de que ela teria consultado Deus antes de pedir demissão do Ministério do Meio Ambiente.
Marina deu entrevista anteontem em um hotel da zona norte de São Paulo. Ao receber a reportagem, pediu licença para retocar os lábios com uma beterraba --ela tem alergia a batom.
Segundo turno
A ex-senadora disse que Eduardo Campos, hoje em terceiro lugar nas pesquisas, é o único candidato capaz de bater a presidente Dilma Rousseff. Para ela, o ex-governador de Pernambuco é "sem dúvida alguma" mais competitivo que Aécio Neves.
"O PSDB sabe que já tem o cheiro da derrota no segundo turno. E o PT já aprendeu que a melhor forma de ganhar é contra o PSDB."
Campos x Aécio
Marina reclamou das comparações entre Aécio e Campos, que têm feito críticas semelhantes ao governo. "A gente tem que parar com essa história de querer diluir as diferenças." "Quando alguém fica muito ansioso para dizer que é igual, é porque sabe que é diferente", acrescentou.
Para Marina, as diferenças estão "nas trajetórias de vida e em algumas propostas estruturantes". "Campos protagoniza uma agenda progressista de respeito aos direitos sociais, de não ir pelo caminho mais fácil de reduzir a maioridade penal e as conquistas dos trabalhadores."
Palanques estaduais
A ex-senadora disse que PSB e Rede terão autonomia para apoiar candidatos diferentes nos Estados em que não houver acordo. Afirmou que não subirá ao palanque dos tucanos Pimenta da Veiga, em Minas, e Beto Richa, no Paraná. Os dois cortejam Campos em busca do apoio formal do PSB.
Em São Paulo, Marina disse que o apoio ao tucano Geraldo Alckmin está descartado. Questionada se pedirá votos para Márcio França, caso ele venha a ser o candidato, foi evasiva: "Não vamos vetar nenhuma candidatura do PSB. Mas a Rede não é o PSB".
Dilma em campanha
A vice de Eduardo Campos criticou a estratégia de comunicação de Dilma, que usou pronunciamento oficial na TV para anunciar medidas populares como o reajuste do Bolsa Família e a correção da tabela do Imposto de Renda.
"Acho excessiva a propaganda que tem sido feita. Geralmente, o excesso de propaganda é para compensar as dificuldades que estão sendo vividas", disse. "Fazer o que é necessário para se reeleger, e não o que é necessário para os interesses do país, cria essa ambiguidade."
Governo e economia
"A presidente encerra o governo sem uma marca, como a estabilização econômica de FHC e a inclusão social de Lula. A marca de Dilma é o retrocesso", criticou. "O Brasil atravessa um momento com baixo crescimento e aumento da inflação e dos juros."
"Volta, Lula"
Marina sugeriu ainda acreditar na possibilidade de o ex-presidente Lula substituir Dilma na eleição. "É uma dificuldade para ele, com certeza. Ele articulou a candidatura da presidente Dilma para criar uma nova liderança ou para fazer um intervalo e voltar?"
Ela também ironizou a preferência de siglas aliadas por Lula. "Dilma poderia ela própria liderar. Me parece que não é o que está acontecendo. Então as pessoas estão preferindo a interlocução direta com Lula."
Reeleição e 2018
A ex-senadora negou ter feito acordo com Campos para disputar a Presidência em 2018. Nas últimas semanas, o pré-candidato do PSB tem prometido acabar com a reeleição, o que abriria caminho para Marina voltar à cabeça de chapa daqui a quatro anos.
"Não fizemos nenhum tipo de acordo eleitoral. "Não tenho como objetivo de vida ser presidente do Brasil."
Conversa com Deus
A ex-ministra do Meio Ambiente demonstrou incômodo com o relato do ex-presidente Lula a aliados sobre uma conversa reservada entre os dois. Meses antes de sair do governo, Marina teria dito ao petista que conversou com Deus e decidiu pedir demissão.
"Sou uma mulher de fé. Não nego a minha fé. O que eu disse para o Lula foi: Essa minha decisão eu pedi muito a Deus que confirmasse no meu coração. E acho que é o melhor para mim". Isso não tem nada a ver com dizer Eu falei com Deus, tive uma resposta de Deus"."
Ela contou que a conversa aconteceu no fim de 2006. Disse que pediu demissão, mas ficou no cargo por apelo de Lula. Depois disso, manteve a história em segredo.
"Jamais iria dizer que pedi para sair e o Lula pediu que ficasse. Isso não faz parte do meu caráter. Se isso não fosse revelado dessa forma enviesada, ia morrer comigo, porque não tenho necessidade de me afirmar em cima do Lula ou de ninguém", disse, demonstrando mágoa com o episódio.
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