• Mantega sustentou a vaidade de ser recordista no comando da Fazenda. Agora, Dilma deseja que ele fique 112 dias arrastando correntes na Esplanada dos Ministérios
- O Globo
Governos têm prazo de validade constitucional. A presidência Dilma Rousseff tem mais 112 dias de duração, a partir de hoje. A novidade é que, daqui para a frente, ela pretende administrar o país com 39 ex-ministros.
Dilma, virtualmente, anunciou o fim do seu governo na semana passada, quando subtraiu do poder quem está ministro. “Alguns poderão ficar, outros eu irei trocar” — confirmou no domingo, em entrevista numa varanda do Palácio da Alvorada, em Brasília.
Numa poltrona, dentro do palácio, estava Guido Mantega, 65 anos de idade, dos quais um terço dedicado à militância no Partido dos Trabalhadores. Ele está há uma década no poder na Esplanada dos Ministérios: ficou um biênio no Planejamento e acaba de completar oito anos e quatro meses na Fazenda.
A última conversa com Dilma sobre sua permanência na Fazenda data do primeiro trimestre. Na época, Lula fazia eco às críticas de empresários à condução da economia. Mantega foi ao palácio e pediu para sair. Alegou razões familiares e insinuou abril como época propícia, quando se tornaria o mais longevo ministro da Fazenda. Dilma recusou, deixando Mantega surpreendido e Lula pasmado, como ele relatou em reuniões de cúpula do PT.
Agora, diante das ameaças na disputa eleitoral, a candidata fez a presidente realizar uma proeza política: há cinco dias seguidos, Dilma demite em público Mantega e 38 ministros.
Nunca antes “na história dos anos recentes deste país”, como ela diz, um presidente insistiu em anunciar o fim de seu governo com tanta antecedência e de forma, para alguns, vexatória.
Lula demitiu ministros e foi demitido por um, Marina Silva. Dispensou Cristovam Buarque da Educação quando ele estava em viagem ao exterior. Telefonou e o demitiu, mas numa conversa privada. Buarque resgatou seu mandato de senador e foi para a oposição, onde permanece.
Dilma inovou ao criar 39 ministros-zumbi na Esplanada a um trimestre do fim do mandato, sem razões práticas e objetivas. Se queria sinalizar uma “nova política”, não funcionou. Se pretendia uma recomposição com o empresariado, como deseja Lula, iludiu-se porque a principal característica de Mantega foi — e continua sendo — cumprir ordens. Dilma raramente delegou, sempre interferiu na condução da política econômica. É da sua lavra a economia que está aí, recessiva e com alta inflação.
Foram suas as principais decisões que levaram as contas nacionais ao obscurantismo, como adverte o Tribunal de Contas da União no mais recente relatório: “O acompanhamento e o controle têm-se tornado verdadeiros desafios aos órgãos de fiscalização e à sociedade (...) mudanças metodológicas e transações atípicas cada vez mais complexas vêm contribuindo para reduzir a transparência e dificultar o entendimento (...) A estabilidade macroeconômica é um bem público, conquistado à custa de um forte ajuste fiscal suportado por toda a sociedade brasileira em um passado recente. A preservação da percepção de solvência do setor público é crucial para minimizar eventuais expectativas negativas quanto ao controle do endividamento público.”
Mantega sustentou a vaidade de um recorde de permanência na Fazenda. Dilma agora parece desejar que ele escreva um novo capítulo na sua biografia: 112 dias arrastando correntes na Esplanada dos Ministérios.
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