• A fim de demonstrar insatisfação com o Ministério, peemedebistas esvaziam solenidade na Agricultura, cuja titular não é tida como representante da sigla; novo ministro da Educação é chamado pela própria legenda de ‘escolha pessoal’ da presidente
Daniel Carvalho, Ricardo Della Coletta, Ricardo Brito e Erich Decat - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Partidos da base de apoio à presidente Dilma Rousseff no Congresso aproveitaram os últimos dias para demonstrar insatisfação com o espaço recebido na composição ministerial neste segundo governo e ameaçar com retaliações nas próximas semanas.
Apenas nesta segunda-feira, 5, duas manifestações ocorreram nesse sentido: o PROS divulgou uma nota em que reitera que a indicação de Cid Gomes para o Ministério da Educação não teve o apoio do partido. Já o PMDB evitou comparecer à posse da ministra da Agricultura, Kátia Abreu. Na semana passada, foi o PT que procurou demonstrar insatisfação com a indicação de Pepe Vargas para a Secretaria de Relações Institucionais.
No PMDB, a insatisfação decorre da avaliação quase unânime no partido de que, a despeito do crescimento do número de pastas - de cinco para seis -, houve diminuição no alcance político que elas têm. Além de Agricultura e Minas e Energia, o PMDB comanda Pesca, Portos, Turismo e Aviação Civil.
A legenda considera que os ministérios que recebeu têm pouca capilaridade e força política e prometem retaliação no Senado, discutindo caso a caso medidas do governo e rejeitando projetos que aumentem impostos. Também ameaça conceder à oposição espaços nas eleições da Mesa Diretora e nas comissões do Congresso. Os peemedebistas cogitam até apoiar a criação de um partido-satélite da legenda, de forma a desidratar um eventual fortalecimento do ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), que pretende criar mais uma sigla neste ano.
No partido, há a avaliação de que o Planalto agiu na reforma com o objetivo de reduzir seu poder e ampliar a força de outros aliados, como Kassab. A insatisfação é tamanha que deixou de ser exclusiva de deputados e chegou também ao Senado. Algo perceptível na posse de Kátia Abreu ontem. O partido tem a maior bancada da Casa, mas, dos 19 integrantes, apenas três estiveram na cerimônia. Além da própria ministra, compareceram o senador licenciado Eduardo Braga (PMDB-AM), novo titular do Ministério de Minas e Energia, e um dos vice-presidentes do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).
Ainda assim, a ministra agradeceu em seu discurso ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e aos senadores do partido, na pessoa de Raupp.
O PMDB também teme perder espaço na Petrobrás, alvo de denúncias de corrupção. A licença de Sergio Machado, presidente da Transpetro - subsidiária de transporte e logística da estatal -, expirou no fim de semana (mais informações na pág. A7) e o partido pressiona o Palácio do Planalto para manter o comando da subsidiária. Segundo peemedebistas, Renan tem atuado para preservar o posto. Mesmo que Machado, seu afilhado político, seja definitivamente afastado do cargo, o presidente do Senado não quer ver a presidência da subsidiária longe das mãos do PMDB.
Nota. Já o PROS resolveu tornar oficial ontem seu descontentamento. Divulgou nota em que afirma que sua cúpula não se sente representada com a escolha de Cid Gomes, ex-governador do Ceará. “A pior coisa do mundo é a gente pagar pelo que não deve”, disse ao Estado o líder do partido na Câmara, Givaldo Carimbão (AL). O mal-estar é tamanho que ele e o presidente da sigla, Eurípedes Junior (GO), não foram nem sequer convidados para a posse de Cid Gomes, na semana passada. Eurípedes e Carimbão tentarão uma audiência hoje com o ministro.
O partido tem apenas 11 representantes na Câmara, mas trabalha para formar um bloco parlamentar para ampliar seu cacife. Espera também manter os cargos que têm na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), ligadas ao Ministério da Integração, comandado agora pelo PP.
A insatisfação com espaço na Esplanada dos Ministérios contamina até mesmo o PT, partido da presidente. Na sexta-feira passada, representantes da sigla e da base aliada esvaziaram a posse do novo ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas (PT-RS), responsável por fazer a articulação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. A ala petista ligada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se sentiu desprestigiada com a escolha.
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