Maria Cristina Frias – Folha de S. Paulo
Por trás das manifestações de empresários contrários ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, há o tradicional pragmatismo da classe.
Acostumada a fazer contas, parte do empresariado já calculou que sairá mais caro para a economia e seus negócios o longo e traumático processo para afastá-la da presidência da República, sem muita certeza dos resultados de quem ficaria em seu lugar. Para muitos, poderá ser pior que um governo medíocre por mais de três anos.
A coluna ouviu banqueiros, de instituições nacionais e estrangeiras, empresários e altos executivos de grandes companhias. Mesmo resguardada pelo compromisso de não publicar seus nomes, uma boa parte deles afirma não ver, por ora, razões concretas para o impedimento.
Não que não tenham críticas ao desempenho da presidente. Alongam-se na enumeração de seus erros cometidos durante o primeiro mandato, além das mentiras para se reeleger. Dependendo do setor, condenam também algumas das medidas do ajuste fiscal, que outros consideram inevitável.
"O ajuste é necessário, mas doloroso para as empresas, que serão oneradas e têm de demitir, e ainda levará tempo para surtir efeito", disse um banqueiro. Muitos desejam o que classificam logo como utopia: a renúncia da presidente Dilma, que provocaria menos traumas.
Novas eleições, na possibilidade de afastamento também do vice-presidente Michel Temer –embora hoje pareça ser o cenário menos provável– é sonho recorrente em parte do "andar de cima".
"Mas de quatro a seis meses de incerteza, seria péssimo", adverte outro banqueiro. "Afastar a Dilma, jogaria o PT na oposição, reclamando de golpe ", completa. "E com [o presidente da Câmara, Eduardo] Cunha, no comando do país", concorda um industrial.
"O processo do impeachment seria o pior período. Você não sabe se terá exército do Stédile [do MST] na rua – o dólar vai a R$ 4", estima um executivo de banco.
A permanência de Temer também não empolga representantes de alguns setores. "Não conseguiu convencer seu partido a aprovar o ajuste. Por que o faria depois?", questiona um empresário. "O mercado preferiria ficar onde está", diz o diretor de um banco. "Com a máquina na mão, o PMDB poderia obter a reeleição", adverte outro.
O presidente de um banco estrangeiro relata um encontro na semana retrasada com o setor imobiliário –"a maioria a favor do impeachment". Continuarão depois do aceno do governo de mais crédito de bancos públicos? "Tudo muda a cada semana", respondeu.
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