- O Estado de S. Paulo
A reunião de ontem de Fernando Henrique, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra com governadores e senadores do PSDB é mais um passo poderoso a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, sinalizando a união dos tucanos e a tentativa de construção de um pacto nacional em torno de um eventual governo Michel Temer.
O movimento, antecipado pelo Estado no último domingo, reorganiza a oposição e dá um horizonte à ampla parcela da população que defende uma troca de governo já. Destaca-se aí o setor empresarial, que vê a produção industrial despencar, as lojas fecharem e os empregos evaporarem.
Numa semana que começou com a surpreendente carta do vice para a presidente, formalizando a ruptura, a sensação é de que o impeachment avança. Lentamente, mas avança, enquanto Dilma tenta empilhar manifestações de apoio de governadores governistas e de juristas, intelectuais e reitores alinhados com o PT.
Quanto mais o tempo passa, mais a crise se aprofunda. A inflação atingiu os dois dígitos antes do esperado e o mundo político estarrece o país com cenas, cartas e manobras de ruborizar mesmo os mais cínicos. Ajudar Dilma é que esse clima não vai.
Depois da carta de Temer, eis que o PMDB passou das palavras aos atos e age cada vez mais ostensivamente contra Dilma, mas dividido ao meio. Foi assim com Sarney, Itamar, FHC, mas, em todos esses episódios, a cúpula acaba levando a melhor.
A criação da comissão especial do impeachment só não foi uma comédia porque foi trágica. Em dupla manobra, Eduardo Cunha permitiu que a oposição batesse chapa e que a votação fosse por voto secreto. O resultado foi urna quebrada, empurra-empurra e derrota do governo. Dilma só teve 28 votos a mais que os 171 que precisará para evitar o impeachment.
O Conselho de Ética é um caso à parte, abaixo de qualquer crítica. Já não teve sala para se reunir, já ficou sem luz, é desligado a toda hora pelas sessões do plenário e está virando palco de sopapos. Alguém tem de conter Eduardo Cunha. Alô, alô, PGR! Alô, alô, Supremo!
E, convenhamos, não é nada trivial que, exatamente no mesmo dia, sejam trocados na marra o líder do PMDB na Câmara e o relator do processo de cassação de Cunha no Conselho de Ética. O líder que caiu era pró-Dilma, o que entrou é pró-Temer. O relator que caiu era pró-cassação de Cunha, o que entrou adiou a leitura do parecer preliminar para a próxima semana. Foi o sétimo adiamento.
Foi justamente nesse ambiente que a Justiça Federal determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do filho caçula e do braço-direito do ex-presidente Lula, Luis Cláudio Lula da Silva e Gilberto Carvalho.
Com tudo de ponta-cabeça, Dilma chamou Temer para discutir a relação. Mas no cenário protocolar do Planalto, não no aconchego do Alvorada, e por menos de uma hora. Logo, a versão é de que “acertaram os ponteiros”, mas a impressão continua a ser de guerra aberta.
E não é que, após o encontro, Temer foi bater papo com o “impichado” Collor numa festinha em que teve de tudo, até brincadeira de mau gosto de Serra contra a ministra Kátia Abreu, que lhe virou um copo de bebida? Kátia votou em Serra em 2010, mas hoje está cada um para um lado: Kátia é Dilma roxa, Serra é articulador de Temer.
E foi assim que a semana descambou para uma chuva de dinheiro numa operação da PF contra roubalheiras na Hemobrás (o fim da picada!) e com o presidente do TSE, Dias Toffoli, admitindo uma preocupação chocante: o financiamento das eleições de 2016 pelo... narcotráfico! E a semana ainda não acabou. Ainda temos a sexta-feira inteirinha para novos descalabros.
Último ato: Ausente da posse de Maurício Macri, Cristina Kirchner sai do governo da Argentina como entrou: grosseira, autoritária, confrontando as instituições. A única diferença é que sai muito mais rica.
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