Folha de S. Paulo
O volumoso conjunto de brasileiros que sai à rua a pedir o fim do governo Dilma tem um encontro marcado com a decepção. Ela será dramática se o objetivo das multidões não for atingido; se o impeachment não obtiver ao menos os 342 votos na Câmara e os 41 no Senado para afastar a presidente.
Desapontamento também haverá, embora retardado pelo júbilo inicial, na hipótese de sucesso das marchas. Após a deposição da mandatária restará cristalino o desafio amargo de consertar as finanças do Estado e de distribuir os custos na sociedade.
A manifestantes da avenida Paulista recomenda-se iniciação na arte de engolir patos amarelos. O símbolo contra a alta de tributos escolhido pela Fiesp, ela mesma inflada com imposto sindical, começará a murchar já na posse do novo governo.
Não há hipótese de saída organizada, anti-inflacionária, desta crise sem a elevação emergencial da arrecadação dos governos, a prolongar-se no mínimo até o final da década.
Pessoas que protestam na avenida talvez se admirem, e se frustrem, ao saber que elas mesmas seriam alvos preferenciais de uma reforma tributária socialmente justa. Ricos pagam proporcionalmente pouco imposto no Brasil; e os ricos somos nós que debatemos nestas páginas. Constituem a maioria dos integrantes das marchas que vão à avenida, seja defender, seja criticar o governo petista.
Sob a ótica da distribuição de renda e escolaridade, o manifestante vermelho típico da Paulista mal se distingue do amarelo. Os dois são "coxinhas", de cores distintas, posicionados no topo da pirâmide social.
Ambos teriam de dar cota maior de contribuição para o reequilíbrio econômico e político do país se essa agenda pudesse ser implementada com franqueza. Haverá maioria governante capaz de levá-la adiante? Estará essa franja de alta renda da população disposta a despertar do encantamento de pensar-se a si mesma como "classe média"?
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