Por Raymundo Costa e Leandra Peres – Valor Econômico
BRASÍLIA - Distante há mais de uma semana, o vice-presidente Michel Temer voltou ontem à noite a Brasília, tendo como objetivo não mais a maioria, mas costurar a unanimidade do PMDB em favor do rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff. A ruptura amplia as chances do impeachment na Câmara dos Deputados e aumenta a pressão pela renúncia da presidente da República. A decisão do PMDB se tornou virtualmente inevitável na última quarta-feira, quando a seção do Rio de Janeiro, talvez a mais fiel ao governo, decidiu que chegou a hora do desembarque dos pemedebistas.
A reunião do Diretório Nacional do PMDB está marcada para amanhã, terça-feira. Ao todo, quase duas dezenas de moções foram apresentadas. A primeira a ser votada propõe o rompimento da aliança PT-PMDB e a entrega de todos os cargos ocupados pelo partido no governo, inclusive sete ministérios. É de autoria do ex-ministro e ex-deputado baiano Geddel Vieira Lima. Somente a 12ª moção trata da manutenção da aliança e foi proposta pelo ministro Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), do Rio de Janeiro.
Se conseguir a unanimidade ou mesmo os mais de 80% esperados, a cúpula do PMDB deve tolerar uma ou outra dissidência. Qualquer resultados abaixo disso deixará de sobreaviso os favoráveis ao impeachment e a posse de Michel Temer. De acordo com uma fonte do PMDB consultada pelo Valor PRO, a exoneração do presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Antônio Henrique Carvalho Pires, nesta quinta-feira, reforçou o desgaste do PMDB do Rio com o Executivo. Carvalho Pires, segundo a fonte, era uma indicação do partido.
Nas contas dos aliados do vice-presidente, apenas as seções do Amazonas e de Alagoas, esta comandada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, mantêm-se resistentes ao rompimento. A maior surpresa, no entanto, foi a reviravolta ocorrida no Rio de Janeiro, o principal sustentáculo da presidente Dilma no PMDB, no qual o governo mais investiu em suas tentativas para evitar o impeachment. O líder da bancada na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), por exemplo, indicou dois ministros: Celso Pansera e Marcelo Castro (Saúde).
O que pesou para a mudança do diretório do PMDB do Rio foi o mesmo que leva outros partidos aliados a se associar ao projeto do impeachment, como o PRB, para citar apenas um exemplo: Dilma não é só uma presidente impopular. Ela também já não reúne condição de articular o apoio de um conjunto de forças políticas que lhe permitam governar. "O governo precisa recuperar a sua capacidade de tocar os programas sociais que trouxeram tantos benefícios à população brasileira", diz o ex-ministro Moreira Franco. "Só um milagre salva o governo".
O Palácio do Planalto ainda luta para reverter o quadro, mas teme que o rompimento do PMDB seja definitivo e promova uma reação em cadeia que atinja os outros partidos aliados, como o PP, que desde a semana passada insinua que está prestes a abandonar o barco. Mas todas as investidas palacianas, até agora, inclusive aquelas patrocinadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deram errado. O PMDB tem sete ministros, quase todos do baixo clero e sem influência nas bancadas.
O tom de enfrentamento nos discursos da presidente Dilma elevou a reação do Planalto ao impeachment, nas não é unanimidade entre os ministros palacianos. Os auxiliares próximos da presidente que estão à frente da negociação com o PMDB tem defendido que a postura agressiva de Dilma, que inclusive encerrou uma de suas falas com o bordão "não haverá golpe", dificulta o entendimento e "derruba pontes".
Na visão desses integrantes do governo, partir para o enfrentamento com a Justiça e com os parlamentares que irão decidir, de uma forma ou de outra, o resultado do processo de afastamento da presidente cria mais arestas, especialmente no momento em que o governo se esforça para manter os partidos na sua base de apoio.
A avaliação é a de que o círculo petista mais próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo (PT-SP) tem atuado como os principais incentivadores dessa estratégia. "O problema é que um governo que quer negociar não pode parecer que está brigando com todo mundo o tempo todo", diz uma autoridade.
No Planalto, admite-se que a divulgação da lista de políticos encontrada em poder da Odebrecht, tem o poder de ampliar o foco das denúncias; mas o efeito final não deve ser positivo para o governo: num clima de maior tensão, a reação deve ser acelerar o processo de impeachment.
O clima entre os assessores de Dilma, no entanto, era de alívio pela decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, que impedirá, na prática, um pedido de prisão do ex-presidente Lula feito pelo juiz Sergio Moro, de Curitiba. "Agora pelo menos o Lula pode fazer com tranquilidade o que ele veio fazer", concluem. (Colaborou André Ramalho, do Rio)
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