• Parlamentares ligados ao ex- presidente se dividem em três frentes, jurídica, política e de orçamento, para evitar impedimento
Leticia Fernandes e Cristiane Jungblut - O Globo
- BRASÍLIA- Articulador informal do governo, o ex- presidente Lula conta com uma força-tarefa para evitar o impeachment de Dilma Rousseff e salvar o projeto do PT. Na Câmara e no Senado, parlamentares mais ligados ao ex- presidente se organizaram para agir em várias frentes. A atuação junto ao Palácio do Planalto é liderada pelos ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), José Eduardo Cardozo ( AGU) e agora também por Eugênio Aragão, novo ministro da Justiça. Os oito deputados titulares da comissão do impeachment se reúnem semanalmente e também já se encontraram com Aragão.
O grupo de Lula é composto majoritariamente por parlamentares de São Paulo, berço político do PT, e do Rio Grande do Sul, onde os petistas ainda possuem considerável capital político. Os deputados mais ligados ao ex- presidente — entre eles Paulo Teixeira ( PT- SP), Paulo Pimenta (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ), um dos escalados para defender o governo e que foi alçado a titular na Câmara por articulação do ex-presidente — dividiram a bancada em três frentes de atuação: a jurídica, na qual trabalham Damous, ex-presidente da OAB do Rio, Teixeira, e José Mentor ( PT- SP); a de orçamento, para destrinchar e tentar desmontar os pontos mais ligados à denúncia das “pedaladas fiscais”, sob a tutela de Pepe Vargas ( RS) e Henrique Fontana ( RS); e a frente política, que mede os votos dos parlamentares da base, na qual atuam Arlindo Chinaglia ( SP), Marco Maia ( RS), Paulo Pimenta ( RS) e Carlos Zarattini ( SP).
As questões de ordem apresentadas nas reuniões do órgão e discursos contra o impeachment ficam a cargo dos partidos mais fiéis da base, PCdoB e PDT, além de Silvio Costa (PTdoB- PE), vice- líder do governo na Câmara. Pimenta e Damous também costumam fazer discursos inflamados da tribuna, como na última segunda-feira, quando Damous chamou o QG da força- tarefa da Lava- Jato de “Guantánamo de Curitiba”. Ele também criticou a OAB, que se posicionou a favor do impeachment, e disse que em 1964 a entidade também “embarcou na canoa do golpe”.
— Diversos órgãos de imprensa estão denunciando mundo afora que há em curso neste país um golpe midiático, espetacularizado, com participação de determinados setores do sistema de Justiça brasileiro localizado na nossa Guantánamo chamada Curitiba. Isso não fica assim, não somos um “partideco” — bradou.
Em busca de estratégias
Desde o clima de guerra instalado com a oposição, o deputado Paulo Pimenta se reuniu com os deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Wadih Damous (PT- RJ) para traçar as estratégias na esfera jurídica. Teixeira e Damous foram os primeiros a entrar com ações no STF e estão contestando condutas na Operação Lava- Jato.
No Senado, os maiores aliados de Lula são o líder do PT na Casa, Paulo Rocha ( PA), e do governo no Senado, Humberto Costa ( PT- PE), o senador Linbergh Farias ( PT- RJ) e ainda a senadora Vanessa Grazziotin ( PCdoB- AM).
No encontro de quarta-feira à noite, em Brasília, Lula disse ao senadores aliados que lutará para continuar ministro, por entender que a presidente Dilma tem direito a indicar seus colaboradores.
Os petistas cobraram a presença do ex-presidente na cidade. Destacaram que ele precisava liderar diretamente a campanha contra o impeachment.
Ao lado de Paulo Rocha, outros petistas antigos têm se reunido no Senado para traçar estratégias. Semana passada, Paulo Rocha era esperado pelo deputado José Mentor ( PT- SP) e pelo exdeputado professor Luizinho.
— O Lula fica ligando e perguntando se a gente conhece deputados, prefeitos — contou um senador.
Lula costuma se reunir com os senadores e pedir mobilização contra o impeachment, orientando que procurem os integrantes da comissão na Câmara e tentem medir os votos. O ex-presidente também tem buscado estratégias entre os aliados. No dia em que a nomeação de Lula como ministro foi suspensa, a senadora Vanessa Grazziotin e outros integrantes do PCdoB demostraram seu apoio ao ex-presidente; os parlamentares do PCdoB conversam com Lula até por viva- voz. A deputada Jandira Feghali também tem tido papel importante no combate ao impeachment e na defesa do ex-presidente.
Nesta semana, em encontro em Brasília, Lula também pediu que já preparassem o terreno no Senado, mas parlamentares admitiram que, caso o processo de impeachment seja aprovado na Câmara, ele vai gerar um “efeito bola de neve” que não poderá ser contido.
— Ele está energizado contra o impeachment — contou um senador petista.
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