Por Fernando Taquari, Cristiane Agostine, César Felício e Marcos de Moura e Souza - Valor Econômico
SÃO PAULO, BRASÍLIA e BELO HORIZONTE - A atuação do Planalto ao longo da semana no varejo foi determinante para mover o PR contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff e dividir a bancada do PP. Nos dois casos, a migração ao governismo se dá em Estados governados pelo PT e PCdoB e nas regiões Norte e Nordeste, onde a pressão da opinião pública sobre os parlamentares é menor. Nestes Estados, a maioria dos deputados destas siglas favoráveis ao impeachment pertencem a bancadas setoriais como a chamada "bancada da bala" ou são candidatos às prefeituras.
No PP, o partido contabilizava 32 parlamentares pelo afastamento de Dilma e 17 contrários, há 15 dias. Agora, a estimativa é de que 25 votem contra o impeachment e 24 a favor.
Peso regional é crucial para impeachment
A atuação do Planalto ao longo da semana no varejo foi determinante para mover o PR contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff e dividir a bancada do PP. Nos dois casos, a migração ao governismo se dá em Estados governados pelo PT e PCdoB e nas regiões Norte e Nordeste, onde a pressão da opinião pública sobre os parlamentares é menor. Nestes Estados, a maioria dos deputados destas siglas favoráveis ao impeachment pertencem a bancadas setoriais como a chamada "bancada da bala", como é por exemplo o caso do Cabo Sabino (PR-CE), ou candidatos às prefeituras.
No caso do PP, com 49 deputados, o partido contabilizava 32 parlamentares pelo afastamento de Dilma e 17 contrários, há 15 dias. Agora, a estimativa é de que 25 parlamentares votem contra o impeachment e 24 a favor. Em relação ao PR, o escore antes estava dividido meio a meio entre os 40 deputados. Agora, a ala a favor do impeachment pode ter caído a menos de uma dezena.
"Até pouco tempo atrás o impeachment era dado como certo, inclusive, com apoio majoritário do PP. A situação mudou nestes últimos dias", reconheceu o deputado Guilherme Mussi (SP), que deve se reunir com três dos outros quatro parlamentares do PP paulista para fechar a questão. A tendência é que votem a favor do impeachment, ao contrário do deputado Paulo Maluf (SP), que já declarou apoio ao governo.
"A direção nacional reúne o partido no dia 11. Acho difícil chegar a um consenso. Há muitos interesses em jogo. Deputados de Estados governados por petistas, por exemplo, devem sofrer pressões para votar com o governo", afirmou Mussi. O deputado observou que a pressão da população nas regiões Sul e Sudeste pelo impeachment deve influenciar no voto dos correligionários, sobretudo dos parlamentares que pretendem concorrer a prefeito.
É uma circunstância que tira poder do PP. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o PP reúne 29 deputados, em maioria contrários à presidente. Os outros 20 estão no Norte e Nordeste. No PR, 18 dos 40 deputados são nortistas ou nordestinos
Nos Estados comandados pelo PT e PCdoB - que fecharam voto contra o impeachment -, o PP tem 16 parlamentares. No caso do PSD, partido que está inclinado a votar a favor do afastamento, estão nesta situação 13 dos 33 deputados.
O partido do ministro das Cidades Gilberto Kassab pende para o impeachment, entre outros fatores, por estar sob influência do poder dos governadores oposicionistas. A sigla conta com oito deputados licenciados, sendo cinco em estados governados pelo PSDB e PSB, que podem tirar o lugar de seus suplentes na Câmara a qualquer instante.
Sob reserva, um parlamentar nordestino do PR afirmou que o Planalto avança nestes partidos com a divisão do espólio do PMDB e do PRB, que romperam com o governo no mês passado.
Em Minas Gerais, existem 37 cargos federais, sendo que o PMDB controla 9, incluindo o caso do ministro da Aviação Civil, Mauro Lopes, que deve deixar o cargo. Integrantes de partidos como o PSD, PR, PP, PTB e PTN estavam distantes de Dilma em Minas Gerais exatamente pela falta de espaço no governo. No foco estão postos no Departamento Nacional de Infraestrutura (DNIT), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Correios, Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), entre outros.
Mesmo após a ruptura com o governo, ainda subsiste no PMDB cerca de 20 votos contrários ao impeachment, ligados ao líder da bancada na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). É um núcleo que leva um dilema aos articuladores do governo: se o ministro da Saúde, Marcelo de Castro, for afastado para dar lugar a um integrante de outro partido, o governo se arrisca a ficar em um jogo de soma zero, já que o total de adesões à base pode ser equivalente ao de defecções.
O que pode mudar novamente a equação é o ritmo da Operação Lava-Jato. O PP conta com 17 investigados na Câmara, sendo 6 já denunciados pela Procuradoria Geral da República. De acordo com um especialista que está monitorando o andamento do impeachment na Câmara, é razoável supor que a prioridade destes parlamentares será votar em relação ao impeachment da forma que melhor os preserve politicamente. Ou seja: o voto iria para a força política mais capacitada para neutralizar o efeito das investigações derivadas do escândalo de corrupção na Petrobras.
Esta situação não ocorre com o PR, mas os recentes desdobramentos da Lava-Jato, que tendem a estabelecer um vínculo entre o escândalo do "mensalão" e o da Petrobras jogam uma sombra sobre o partido. Seu principal líder, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), foi condenado no escândalo que abalou o primeiro mandato de Lula.
O governo dispõe de um núcleo duro contra o impeachment de 89 deputados governistas do PT, PDT e PCdoB, além dos 6 integrantes da bancada do PSOL. Precisa de 172 para barrar o afastamento. Se mantiver a seu lado os 20 pemedebistas com que conta e conseguir 30 deputados no PR e 25 no PP, garantiria o fim do impeachment, sem sequer necessitar negociar com outras siglas, como o PSD e o PTN, com quem o Planalto também conversa.
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