• Dilma tenta mostrar que ainda tem condições de formar bloco contra o impeachment à base do toma lá dá cá e, com isso, incentivar o que o governo chama de ‘voto útil’ na Câmara; espólio do PMDB é colocado à disposição de partidos menores
Vera Rosa - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O governo iniciará nesta semana uma ofensiva para distribuição de cargos também no Senado, com o objetivo de construir um “blocão” contra o impeachment naquela Casa. A ideia do Palácio do Planalto é mostrar principalmente aos deputados indecisos que a presidente Dilma Rousseff tem apoio no Senado, e, com isso, incentivar o “voto útil” contra o seu afastamento na Câmara.
A nova estratégia, combinada com a reforma ministerial, foi discutida ontem, durante reunião de Dilma com ministros do PT. Até agora, o Planalto concentrava suas energias na Câmara, mas a ordem é ampliar o “varejo” político para acomodar apadrinhados por senadores aliados em postos-chave, como ministérios e bancos públicos, aproveitando o espólio do PMDB, que anunciou o rompimento com o governo.
O movimento tentará convencer o “baixo clero” – formado por políticos pouco conhecidos – que Dilma possui todas as condições para enfrentar os adversários, mesmo porque tem a caneta na mão. Tudo será feito para criar uma “onda” anti-impeachment que leve ao “voto útil”, ainda que seja por temor de represálias em caso de permanência de Dilma. Cabe ao Senado referendar ou não, por maioria simples, eventual decisão da Câmara pela continuidade do processo, o que depende do apoio de 342 deputados.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chegou a dizer ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, se a deposição de Dilma receber sinal verde da Câmara, será difícil reverter o quadro. A percepção ainda é essa, mas o governo acredita que o “blocão” – montado por senadores do PT, PC do B e uma ala do PDT e do PRB, além de “pedaços” do PMDB e PSB – vai atrair o “baixo clero”.
Dilma se reuniu ontem com os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) e José Eduardo Cardozo (Advocacia Geral da União), no Palácio da Alvorada, para tratar da reforma no primeiro escalão. A nova composição da equipe ainda não foi anunciada por causa do impasse com o PMDB.
Dos sete ministros do partido comandado pelo vice-presidente Michel Temer, apenas Henrique Eduardo Alves (Turismo) entregou o cargo. Os demais disseram a Dilma que são solidários a ela e estão dispostos a se licenciar do PMDB para ficar a seu lado.
A tendência é que Dilma mantenha os titulares da Saúde, Marcelo Castro (PMDB-PI), e da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (PMDB-RJ), indicados pelo líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Uma negociação feita por Lula também assegurou a permanência de Helder Barbalho à frente da Secretaria dos Portos. O ministro é filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA).
Com essa configuração, partidos aliados assediados pelo Planalto na luta contra o impeachment, como o PP – que reivindica Saúde – ganharão outras pastas. Nesse cenário, a expectativa é que o PT de Dilma e Lula perca espaço. A presidência da Caixa Econômica Federal, hoje com o PT, também deve ir para o PP, que controla Integração. Se o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB), retornar ao Senado para engrossar o bloco de defesa de Dilma, a pasta pode ficar com o PR, que comanda Transportes.
Espaços vazios. Antes de anunciar a reforma ministerial, a presidente fará, ainda hoje, nova rodada de conversas com senadores e deputados. O Planalto não quer deixar insatisfeitos pelo caminho.
“Repactuar o governo é reorganizar a base de apoio. Isso não tem nada a ver com compra de votos. Trata-se de ocupar espaços vazios”, afirmou Jaques Wagner. “Chegou a vez dos pequenos partidos, sempre deixados para trás porque o PMDB tinha os melhores ministérios.”
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