- Valor Econômico
RIO E SÃO PAULO - Após um período de tantas más notícias para o país, a variação do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2016 trouxe alguma esperança de que se o pior momento desta recessão já não ficou para trás, isso pode acontecer na passagem para o segundo semestre.
A queda de 0,3% sobre o trimestre imediatamente anterior não foi tão ruim quanto a maioria dos especialistas consultados pelo Valor Data esperava: recuo de 0,8%, na média das projeções. Mas ocorre após dois anos de retração e é ainda muito forte se a comparação for com o mesmo trimestre do ano anterior: -5,4%.
Mais importante, o consumo das famílias, na contramão de outros componentes do PIB, foi ainda pior que o esperado, com queda de 1,7% na passagem trimestral. Com o cenário negativo para o mercado de trabalho, as perspectivas para o consumo privado, que representa mais de 63% do PIB, seguem desanimadoras para os próximos trimestres.
Em relação ao primeiro trimestre de 2015, a absorção doméstica, que reúne consumo das famílias, do governo e investimentos, encolheu incríveis 10,2%.
Ainda assim, há sinais de melhora para os próximos meses. O resultado do primeiro trimestre já levou a revisões da variação do PIB no ano para algo mais próximo de -3,5% (e não mais -4%) e a apostas em crescimento da economia no último trimestre de 2016.
O PIB do setor industrial caiu 1,2% na passagem trimestral, quase a metade do que era previsto, com a indústria de transformação recuando 0,3%. "Daí a voltar a crescer são outros quinhentos, mas parar de cair é o primeiro sinal", diz Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi.
Mesmo que alguns segmentos da economia deixem de piorar ou iniciem alguma melhora, a sensação de bem-estar da população provavelmente seguirá piorando. O Goldman Sachs calcula que o PIB per capita já encolheu nada menos que 9% desde o segundo trimestre de 2014, período em que a demanda doméstica se retraiu 12,1%. Com isso, é maior a chance de que a inflação fique contida e que o corte nos juros esteja mais próximo. Para Cristiano Oliveira, do Banco Fibra, a contração da absorção doméstica deve ter um desfecho positivo: o retorno da Selic a um dígito em 2017. Com a melhora da confiança e ampla ociosidade na economia, a recuperação cíclica talvez possa ser mais forte do que muitos imaginam.
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