Por André Guilherme Vieira | Valor Econômico
SÃO PAULO - O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega teria solicitado R$ 50 milhões a um executivo da Braskem para a campanha eleitoral da ex-presidente Dilma Rousseff em 2010. O relatório de informações do Departamento de Justiça (DoJ) do governo dos Estados Unidos sobre propinas pagas pelo grupo Odebrecht, divulgado na quarta-feira, relata pagamentos de mais de US$ 1 bilhão em subornos feitos pela empresa a políticos e a servidores públicos do Brasil e de 11 países da América Latina e África.
No documento do órgão americano, políticos brasileiros são mencionados pela expressão "Brazilian Official" (autoridade brasileira), relacionada a um número. Mantega seria supostamente o "Brazilian Official 4". O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria supostamente o "Brazilian Official 1" e a ex-presidente Dilma, a "Brazilian Official 2".
O "Brazilian Official 4" é descrito como "um indivíduo cuja identidade é conhecida pelos Estados Unidos e pela Braskem, que atuou como ministro do governo brasileiro". "Especificamente, o 'Brazilian Official 4' escreveu a quantia de 'R$ 50 milhões' num pedaço de papel e o atirou para 'Braskem Employee 1' (funcionário da Braskem 1)", diz o texto do relatório.
Ainda segundo o documento, após discutir a solicitação de propina com outro executivo da companhia, o funcionário da Braskem 1 entendeu que os recursos seriam usados após a eleição que se aproximava, "para benefício pessoal de vários políticos".
Mantega já era investigado pela Lava-Jato por suposta solicitação de US$ 2,35 milhões ao empresário Eike Batista, que teriam sido destinados ao PT. O ex-ministro chegou a ter prisão temporária decretada pelo juiz federal Sergio Moro no dia 22 de setembro. No entanto, a detenção foi cancelada pelo próprio magistrado no mesmo dia de seu cumprimento.
Um trecho do relatório do DoJ narra que, "entre 2009 e 2010, a Braskem direcionou sua Divisão de Operações Estruturadas [o departamento de propinas do grupo] para viabilizar o pagamento de R$ 50 milhões à campanha política do Brazilian Official 2".
Investigadores sustentam, reservadamente, que as referências de autoridades americanas que constam de relatório sobre pagamentos de propinas feitos pela Odebrecht corresponderiam a nomes de vários políticos brasileiros, supostos destinatários principais dos valores ilícitos.
O empresário Marcelo Odebrecht explicou em seus depoimentos em delação premiada como se deram supostos pagamento de propinas para financiamentos de campanhas eleitorais, conforme apurou o Valor com fontes a par das informações prestadas pelo delator.
A reportagem não conseguiu contato com as defesa de Dilma e de Lula até o fechamento desta edição. Os dois ex-presidentes têm negado envolvimento em corrupção relacionada às suas campanhas e governos.
O advogado de Mantega, Guilherme Batochio, disse que o ex-ministro "nega veementemente as acusações". Segundo o criminalista, "as delações dos 77 executivos da Odebrecht visam apenas ao propósito de resolver o problema da Odebrecht com a Justiça".
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