sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Temer contraria Fazenda e libera saques do FGTS

Por Claudia Safatle e Ribamar Oliveira – Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer decidiu liberar o saque em contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) contra a opinião do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que se opôs desde o momento em que a ideia surgiu, segundo fontes da área econômica, do Planalto e da política. A medida, concebida pelo Ministério do Planejamento, só obteve a concordância de Meirelles depois que o presidente aceitou restringir os saques às contas inativas. Na proposta original, todos os trabalhadores teriam direito a sacar de suas contas até R$ 1,5 mil para pagar dívidas.


A Fazenda manifestou a mesma preocupação expressa pelo presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, de que a medida poderia comprometer a capacidade do FGTS de fomentar o investimento em infraestrutura. Além disso, a injeção de bilhões de reais na economia poderia reduzir o espaço para uma queda mais rápida dos juros, considerada urgente para a recuperação da economia.

No dia 15, quando o governo anunciou o pacote de medidas microeconômicas, Meirelles conseguiu retirar o saque do FGTS da lista. Ele convenceu o presidente de que o assunto merecia estudo mais aprofundado. Temer aceitou o argumento de que os empresários da CBIC são aliados do governo e precisavam ser ouvidos.

Para a CBIC e a Fazenda, a medida retiraria recursos da construção civil, que mais cria empregos e pode ser fundamental na retomada da atividade. Quando venceu a batalha do dia 15, Meirelles chegou a comentar com interlocutores que a medida "mais prejudicava do que ajudava" a recuperação da economia.

Seus defensores não desistiram. Alegaram que o saque do FGTS traria alívio ao permitir que trabalhadores quitassem dívidas, o que reduziria a inadimplência de todo o sistema e melhoraria as condições de crédito, ajudando na retoma. Eles promoveram encontro do presidente da CBIC com Temer, na terça-feira. Fontes informam que, embora contrariado, José Carlos Martins acabou concordando. Uma autoridade que participou das negociações observou que o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, não foi consultado. A fórmula aprovada por Temer vai injetar, segundo estimativas, R$ 30 bilhões na economia, equivalentes a 0,5% do PIB.

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