- O Globo
Economia terá melhoras pontuais em 2017. A economia viverá os próximos meses em dois tons. O da crise que permanece, e o das melhoras pontuais. Alguns índices de inflação, como os IGPs, vão trazer ainda números altos, mas no IPCA haverá queda durante todo o primeiro semestre. Os juros vão cair mais de três pontos ao longo dos meses. A falta de dinheiro nos cofres públicos e nos orçamentos das famílias permanecerá aguda.
Um desafio imediato do governo é o de adaptar o Orçamento à lei que estabeleceu o teto de gastos. Já saiu da mesa do presidente Temer, aprovado, o novo decreto de programação orçamentária e financeira para limitar em 1/18 por mês as despesas com os ministérios até março. Será menor do que o gasto mensal previsto. Se em março, na primeira avaliação bimestral de receitas e despesas, ficar claro que é necessário o contingenciamento, ele será feito. Mas com outro nome.
Mesmo tendo que apertar seu próprio cinto, o governo terá que socorrer os estados insolventes como Rio, Minas e Rio Grande do Sul. Nesta negociação com os chamados “entes subnacionais”, o governo terá que encontrar um caminho para premiar os estados que têm administrado bem suas finanças. Está se chegando à irônica situação de que os estados cujos governantes destruíram as finanças públicas terão o direito de não pagar a dívida junto ao Tesouro por um bom tempo; os estados bem organizados continuarão pagando os juros. A virtude é punida, e o mau comportamento é premiado. Temer tem ouvido de governadores que não estão em crise que, de alguma forma, é preciso distribuir de forma mais justa os benefícios.
Os economistas estão todos recalculando suas previsões. Alexandre de Ázara, do Mauá Capital, acaba de rever para 9,5% sua projeção de Selic para o fim do ano. Ele acha que a queda da inflação será tal que em setembro o índice marcará 3,5%. Depois, sobe ligeiramente para 4,3%. Ele prevê que o crescimento do PIB ficará em 0,5%, mas o movimento dessa pequena alta é mais favorável do que parece.
— Na comparação trimestre contra trimestre anterior, o PIB deve crescer durante todo o ano. Apesar de na média o crescimento ficar em cerca de 0,5% para o ano todo, chegaremos no último trimestre de 2017 em um patamar de produção 2% maior do que no mesmo período de 2016 — disse Ázara.
Os economistas que analisam as contas da agricultura têm boas notícias. O setor deve colher 15% mais do que no ano passado e com aumentos de dois dígitos no valor do que será faturado pelas diversas culturas. A soja deve ter um aumento de nove milhões de toneladas e o milho pode chegar a 19 milhões de toneladas.
Não garante crescimento, porque o PIB agrícola é estatisticamente pequeno, mas ajuda bastante. Até porque a agropecuária mobiliza outros setores, como o de produção de máquinas e equipamentos e o de transportes. Somando tudo o que a agropecuária movimenta, o setor passa a ter um peso importante na economia brasileira.
Na raiz desse ano bom está, segundo a economista Ana Laura Menegatti, da MB Agro, a base de comparação, que é baixa, mas também um desempenho impressionante de algumas culturas:
— A grande diferença é o clima. No ano passado, a seca afetou muito a produção, e a quebra de safra foi de 10%. Este ano, a produção de soja vai subir de 95 milhões de toneladas para 104 milhões. A de milho, de 66,5 milhões para 84 a 85 milhões de toneladas. Só na segunda safra de milho a alta deve ser de 37%.
No setor de petróleo, o que se diz é que o país terá uma boa retomada com uma nova rodada de leilão de áreas para exploração. O setor estava completamente parado e agora há a volta de interesse dos investidores nacionais e estrangeiros por novos negócios.
Não há mudança forte em área alguma. Permanecem incertezas, principalmente as políticas. As investigações de corrupção trarão à tona fatos que manterão o governo sempre acuado, como no dia de ontem, com as novas denúncias contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima. O desemprego vai aumentar nos próximos meses. Empresas e famílias continuam endividadas. Mas ao fim da primeira quinzena de janeiro, pode-se dizer que este será um ano misto. Com a crise ainda presente nas empresas e nos lares, mas com alguns pontos de alívio.
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