• Oposição a chefe do Ministério Público demonstra ‘surpresa’
Carolina Brígido | O Globo
BRASÍLIA - Enquanto a Operação Lava-Jato avança em direção às principais autoridades do país, o condutor das investigações, Rodrigo Janot, cogita disputar o terceiro mandato como procurador-geral da República. A decisão ainda não foi tomada, mas já divide opiniões dentro do Ministério Público Federal (MPF). Há quem apoie a recondução, sob o argumento de que a continuidade de Janot à frente das apurações daria mais estabilidade à LavaJato. No entanto, a oposição interna já começou a criticar, mesmo sem formalização de uma eventual candidatura.
Diante de informações de que Janot estuda continuar no cargo, um de seus principais opositores, o subprocurador Carlos Frederico, postou mensagem no fórum de discussões virtual dos procuradores da República, de acesso restrito à categoria. Ele comparou Janot a Geraldo Brindeiro, procurador-geral durante oito anos nomeado por Fernando Henrique Cardoso. Brindeiro era conhecido como “engavetador geral da República”, pela pouca disposição de denunciar autoridades.
“Com surpresa, vejo agora Janot ‘brindeirar,’ ao avaliar permanecer no cargo... Por mais quanto tempo? Às custas de quê? Se o futuro a Deus pertence, o passado tem suas linhas escritas na história, e não há como distorcer fatos, principalmente onde não há ambiguidade”, escreveu Carlos Frederico.
Um procurador avaliou que é possível haver resistência dentro do MPF à proposta do terceiro mandato, mas que ainda é cedo para afirmar se isso será um empecilho para a eventual candidatura avançar.
— Há quem resista até a uma recondução, imagine duas. Não sabe se essa resistência será forte — afirmou.
Aliados de Janot ponderam que a permanência dele no cargo garantiria a efetividade da Lava-Jato em um momento em que executivos da Odebrecht apontaram, em delação premiada, indícios contra o presidente Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Janot acompanhou a operação desde a gênese.
O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, José Robalinho Cavalcanti, foi procurado por um grupo de pré-candidatos para tratar do cronograma da campanha. Janot teria telefonado a Robalinho para pedir para ser informado desse cronograma.
— O procurador-geral disse que também quer acompanhar o processo de sucessão, o que é perfeitamente natural, mas ele não disse que era candidato, nem que não era. O mandato dele termina só em setembro. Estamos em janeiro— afirmou.
Pela Constituição, cabe ao presidente da República nomear o procurador-geral para mandato de dois anos, sendo possível a recondução ao cargo. Não está expresso um limite de reconduções.
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