Pedro Parente, da Petrobras, e Maria Silvia, do BNDES, poderiam sair
BRASÍLIA E RIO - Em meio à luta para ficar no cargo, o presidente Michel Temer mantém uma preocupação: perder, no meio da batalha, nomes estelares da área econômica. Segundo integrantes do governo, Henrique Meirelles, no comando do Ministério da Fazenda, e Ilan Goldfajn, na presidência do Banco Central, são as âncoras da política econômica e ficam em campo. Mas a avaliação é que outros protagonistas, como os presidentes da Petrobras, Pedro Parente, e do BNDES, Maria Silvia Bastos, não morrerão abraçados com o presidente.
— Essas pessoas não são PMDB. Vieram para o governo para trabalhar em um programa de recuperação da economia. Se virem que o barco vai virar, podem pular fora — admitiu um interlocutor do governo.
Economistas consideram essencial a manutenção da equipe econômica em um eventual novo governo, para dar continuidade ao trabalho, com foco na aprovação das reformas. Meireles e Ilan são considerados os fiadores da política econômica. Na crise desencadeada pela delação premiada do dono da JBS, Joesley Batista, o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central mantiveram-se na linha de frente e se armaram para reparar os estragos causados no mercado.
REUNIÃO COM O FMI
Ainda na noite de quarta-feira, quando o colunista do GLOBO Lauro Jardim antecipou o conteúdo da delação da JBS, os comandantes da área econômica conversaram e combinaram qual seria a estratégia no dia seguinte. A Fazenda deveria monitorar o mercado de juros e títulos públicos. Já o BC ficaria responsável pelo câmbio.
Na manhã de quinta-feira, os dois começaram o dia conversando com investidores nacionais e estrangeiros. Meirelles também teve reunião com representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em todas as conversas, a mensagem do governo brasileiro foi que o foco da política econômica não muda e que as reformas trabalhista e da Previdência são essenciais e devem ser aprovadas.
Também em ação coordenada, Tesouro Nacional e Banco Central soltaram logo cedo, quase simultaneamente, comunicados informando que adotariam todas as medidas para manter a normalidade no mercado. Depois da reunião com o FMI, Meirelles foi à mesa do Tesouro acompanhar as operações no mercado. Ele também almoçou com seus secretários para pedir que todos continuassem trabalhando normalmente, passando a mensagem de que as turbulências não afetariam a economia.
Já na manhã de ontem, Ilan falou em evento do banco Santander. Até quinta-feira, a divulgação dos seus apontamentos não estava prevista. No entanto, eles foram publicados no início da tarde no site do BC. No texto, o presidente assegurou que a instituição continuará a agir de forma “firme e serena” para garantir o bom funcionamento do mercado de câmbio.
O texto reconheceu que as incertezas aumentaram por conta do ambiente político. Mas “a despeito desse fator não econômico, o Brasil tem amortecedores robustos e, por isso, está menos vulnerável a choques, internos ou externos”, garantiu o presidente do BC, que citou ainda a melhora das contas externas e o câmbio flutuante.
Ele também indicou que o BC tem instrumentos para controlar a volatilidade no mercado: “Isso não impede o BC de usar os instrumentos à sua disposição para garantir o bom funcionamento e suavizar choques no mercado de câmbio”. Ilan lembrou ainda que o Brasil tem reservas internacionais que ultrapassam US$ 370 bilhões. Esse colchão funciona como um seguro em momentos turbulentos do mercado.
‘EQUIPE ECONÔMICA É ESSENCIAL’
O presidente do BC ressaltou ainda que a instituição reduziu o volume de swaps cambiais (instrumento que equivale à venda de dólares no mercado futuro, mas que tem um custo fiscal) de US$ 108 bilhões para cerca de US$ 20 bilhões. Isso dá espaço para o BC usar novamente essa estratégia caso seja necessário.
Para o economista da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha, mudar a equipe de governo seria o pior dos cenários para a economia brasileira. Mas ele tem convicção de que as chances de que isso ocorra, com ou sem Temer no poder, são praticamente nulas:
— Dentre todos os riscos com os quais a economia convive hoje, uma mudança na equipe econômica é o menor. Mesmo com o Temer saindo do comando, e o Maia (Rodrigo, presidente da Câmara) assumindo temporariamente até a transição, ele é comprometido com o plano econômico desse governo. E o próprio Congresso já deu demonstrações de ser favorável às reformas, então elegeria alguém que desse continuidade, sem abrir mão da equipe econômica.
Luiz Eduardo Portella, sóciogestor do Modal Asset, reforçou que o foco deve ser mantido nas reformas:
— A equipe econômica é essencial, mas, se não houver governo que sustente as reformas, ela não adianta de nada. Se Temer permanecer e não tiver apoio nenhum, essa agenda não vai avançar. Mas manter a equipe econômica em eventual mudança de governo seria bom, porque a continuidade garantiria que as coisas voltariam a funcionar.
Colaboraram Daiane Costa e Rennan Setti
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