- O Estado de S.Paulo
A maneira como Meirelles vai liderar a economia nessa turbulência será decisiva
A crise política que abateu o presidente da República enseja de imediato pelo menos duas grandes preocupações: a possibilidade de abortar a incipiente e frágil retomada dos investimentos e o perigo de o governo abrir seu já combalido cofre para os parlamentares, afrouxando o ajuste fiscal e gerando medidas mal feitas, como o Refis em discussão na Câmara dos Deputados.
Com ou sem Michel Temer na Presidência, será preciso mais do que nunca frear o risco de aumento de gastos e de novas concessões para comprar apoio político. Venha essa tentação do governo peemedebista ou daquele que por ventura o suceda.
As negociações recentes para a aprovação da reformas trabalhista e previdenciária mostraram que a política feita à base de chantagem e de ameaças continua a pleno vapor no Congresso. Em troca de votos e apoio político, os políticos persistem em usar a estrutura partidária para pedir anistia, descontos de dívidas bilionárias, uma verba aqui, um cargo ali, vantagens e auxílio financeiro. A porteira das benesses políticas está completamente escancarada. Não há freio nesse flerte com o abismo.
Tudo isso à vista de todos apesar da Lava Jato e dos grampos que todos em Brasília desconfiam (e alguns já têm absoluta certeza) que foram feitos nos telefones dos principais negociadores das duas reformas. Tanto do lado das autoridades do governo como da parte dos políticos. Mais cedo ou mais tarde os grampos sempre vazam... como se viu agora com o presidente Michel Temer e antes com Lula, Dilma Rousseff e outros caciques da política nacional.
A desorganização política do Brasil é tamanha que a essa altura, com o governo sangrando, já não há mais dúvidas de que a economia entrou num novo estágio de paralisia que pode durar muito tempo.
O sentimento geral é de que o pior ainda está por vir. Só restando a saída de mitigação dos danos na economia para evitar um retrocesso maior com a volta da recessão.
A retomada econômica é ainda frágil e não dá para empurrar o País para o precipício econômico. Portanto, a maneira como o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vai liderar a economia nessa turbulência e nesse clima de desalento generalizado será decisiva.
Meirelles é hoje a figura de maior peso no governo Temer e sobre a qual resta alguma credibilidade. Ele está no comando da economia e nos últimos dois dias tem tentado mostrar que a agenda econômica continua. E longe dos holofotes tem se movimentado em conversas permanentes com investidores, empresários e políticos. Ontem mesmo tomou café da manhã com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), primeiro na linha sucessória da Presidência.
Meirelles passou a figurar também na lista de nomes presidenciáveis no caso de eleições indiretas para a Presidência. Se Temer sair e ele ficar, o jogo será o mesmo: a agenda das reformas e do ajuste. Isso ele já deixou claro. Essa pauta não muda com ele num novo governo, seja como ministro da Fazenda ou presidente da transição.
Mas o cenário é mais complexo e talvez exija dele mais do que uma agenda só de Previdência e ajuste fiscal. Algo que dê motivação econômica sem prejudicar as contas públicas.
A nova travessia econômica que se avizinha terá que ser administrada com medicação mais forte. A aceleração da queda dos juros, que tanto bem fez para a economia nos últimos meses, não pode ser interrompida e está sendo cobrada.
Não deixa de ser um complicador para Meirelles nesse momento delicado a sua inclusão na lista de presidenciáveis, como também a sua relação com empresário Joesley Batista, dono da JBS e agora algoz do presidente Temer. Pode virar alvo rapidamente. Um risco a ser administrado por ele, que até agora cuidadosamente não deu nenhuma declaração pública depois que a delação de Joesley para a Lava Jato foi revelada.
Políticos que nos bastidores de Brasília já começaram a negociar uma saída para o desgoverno de Temer buscam manter a unidade da equipe econômica de Meirelles, garantindo a sua continuidade na hipótese de renúncia do presidente. Com a chance cada vez maior de não ter mais governo Temer em breve, o que se exige é dar uma direção econômica rápida ao País.
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