- O Estado de S.Paulo
Um presidente da República investigado é sempre um problema. Para ele e para o País
O presidente Michel Temer está numa encruzilhada. Ou renuncia, dizendo que não tem apego a cargos, que não precisa de foro privilegiado porque tem consciência de todos os seus atos, ou insiste em permanecer à frente da chefia de Estado e de governo e paga para ver o que acontecerá. Como toda aposta, poderá vencer ou perder. Uma certeza há: o preço será alto.
Na hipótese da renúncia, agora mais remota, porque já disse que não o fará, Temer poderá dizer que abandona a Presidência porque quer unificar o País, não dividi-lo. E que sua missão à frente do governo foi a de fazer as reformas que tragam de volta o equilíbrio das contas públicas. Algumas já conseguiu, como a do teto de gastos e a terceirização da mão de obra.
Outras, como a da Previdência e a trabalhista, estão bem encaminhadas. É bastante provável que a crise arrefecerá e a economia voltará a seu caminho natural, com a inflação baixa, queda nos juros e alguma melhoria na geração de empregos.
Ponto para a biografia de Temer. O presidente da Câmara assume interinamente os destinos da Nação e, em um mês, o Congresso elege um novo presidente e um vice. Provavelmente, alguém do grupo que está hoje no poder.
(Alguém pode perguntar: falar em renúncia por quê? Temer já disse que não renunciará. Acontece que a política não é uma ciência exata nem o político é totalmente dono de suas vontades. Muitas vezes a maré dos acontecimentos o leva para caminhos impensados. O estadista costuma saber a hora de fazer a opção).
Caso Temer aposte em permanecer na Presidência, o que é mais provável, o tempo de sacrifícios se imporá. Ele, que praticamente já tinha fechado apoio suficiente para aprovar as reformas da Previdência e trabalhista, terá, a partir de agora, de buscar ajuda para se sustentar no cargo. Será um recomeço difícil. Alguns partidos que deram apoio ao governo até agora podem desembarcar definitivamente. Um deles é o PSB, dono de 35 votos na Câmara e sete no Senado.
No cargo, Temer dará ainda uma bandeira aos partidos de oposição, que vão às ruas insistir para que saia.
Sem contar que Temer terá de se defender das acusações feitas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, da suspeita de crimes de corrupção passiva e obstrução aos trabalhos da Justiça. Um presidente da República investigado é sempre um problema. Para ele e para o País.
O encontro do empresário Joesley Batista com Temer, ocorrido tarde da noite, no início de março, e que deu origem à investigação, registra conversas para lá de esquisitas. Se delas não se pode concluir que Temer estava dando aval para a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como insiste o MP, não é possível achar que o encontro foi normal. Numa intimidade estranha, porque todo mundo que conhece Temer sabe o quanto ele é reservado e o quanto se mantém distante, Joesley fala que está sendo investigado, que tem um juiz na mão, um procurador espião, para o qual paga R$ 50 mil, e assim vai. Temer às vezes fica calado, às vezes murmura alguma coisa. Não é uma conversa republicana. Nos lembra que valores morais e éticos devem valer para todos.
Quanto à JBS e aos irmãos Joesley e Wesley, que delataram o mundo da política, falaram em U$ 150 milhões para Lula e Dilma Rousseff em contas no exterior, compra de parte da legislação brasileira, tráfico de influência, cala-boca em presos, parecem ter se destacado no mar de lama dos últimos tempos. Até na suspeita de que transformaram o acordo de delação num grande e lucrativo negócio e, depois, deram uma banana para o Brasil e foram tocar a vida nos Estados Unidos.
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