Daniel Carvalho | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Ministro da Cultura até a tarde de quinta-feira (18), Roberto Freire, presidente licenciado do PPS é categórico ao dizer que seu partido não se tornou oposição ao governo de Michel Temer.
"Este episódio em nada modifica a política que o partido vinha tendo de apoio à transição, ao governo de transição, e, em especial, completa participação e apoio nas reformas propostas pelo governo de transição", disse Freire à Folha na tarde desta sexta-feira (19).
A posição confronta nota divulgada na quinta pelo presidente em exercício da legenda, Davi Zaia, que afirmou que "o PPS decidiu deixar o governo federal".
Freire afirmou que seu posicionamento de entregar o cargo foi político e teve como objetivo demonstrar que defendia a saída de Temer.
"Em função da governabilidade, talvez fosse interessante que criássemos um governo a partir da eleição indireta do Congresso Nacional, nos termos da Constituição", disse Freire.
Como está o PPS neste contexto de crise?
Este episódio em nada modifica a política que o partido vinha tendo de apoio à transição, ao governo de transição, e, em especial, completa participação e apoio nas reformas propostas pelo governo de transição.
Então, o PPS não está deixando a base do governo?
Não, não, não. Entregou o cargo, tem uma postura de independência, mas o compromisso com a transição, com o processo pós-impeachment permanece inalterado e, mais especialmente ainda, o apoio às reformas propostas pelo governo de transição.
E de onde surgiu então esta avaliação de que o PPS estava deixando a base aliada?
Não é a avaliação. Até porque o partido não fez nenhuma reunião para mudar a posição que o diretório tinha adotado.
Dentro deste contexto, como se explica a entrega de seu cargo?
Simplesmente porque havia uma divergência em relação ao enfrentamento da crise. A posição que nós percebemos é que, continuar como está, estamos correndo o risco de ingovernabilidade e isso não é bom para o governo de transição.
Mas por que o PPS resolveu entregar um ministério e não o outro?
Eu entreguei. Mas não mandou sair do governo, entregar os cargos. Quando resolvemos sair do governo, a gente entregou todos os cargos, como foi o caso do [governo] Lula em 2004. Como o ministro não quis sair, a gente entregou com tudo, mandou o ministro embora.
Agora foi um posicionamento pessoal do senhor?
Não. [Foi um posicionamento] político do partido no entendimento do enfrentamento da crise. Acho que não estamos enfrentando bem isso, inclusive em relação à questão da governabilidade. Mas isso foi o que justificou o ato. Mas o partido não modificou a posição. Nós achávamos que, em função da governabilidade, talvez fosse interessante que criássemos um governo a partir da eleição indireta do Congresso Nacional, nos termos da Constituição. Essa é uma diferença em relação ao caminho que o governo tomou.
Como foi um entendimento diferente, o senhor tomou esse posicionamento...
É. Mas o partido não mudou em nada. Não vai se associar àquelas forças políticas que foram derrotadas com o impeachment da Dilma. Não tem nada disso, que fique bem claro. As pessoas estão confundindo. A discordância existiu e foi expressada pelo meu ato.
Por que não entregar o outro ministério [da Defesa]?
Houve uma discussão inclusive com o presidente e as Forças Armadas que não era uma área que entrasse neste tipo de contestação. Até porque ele [o ministro Raul Jungmann] não foi indicado pelo partido. Ele tinha um relacionamento com as Forças Armadas. A saída minha já respondia a nossa divergência, a nossa contrariedade em relação à determinada política.
Como foi sua conversa com o presidente?
Foi muito boa, muito respeitosa, como sempre. Ele entendeu, tanto é que saí. Está tudo bem.
O sr. acredita que, neste momento, a governabilidade está mantida?
Parece que o governo conseguiu deter um pouco aquilo que ontem foi muito preocupante. Vamos ver. Estamos torcendo para que isso ocorra.
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