- Folha de S. Paulo
Praias do país registram maior incidência de sujeira dos últimos quatro verões
É incrível a mudança de percepção sobre o litoral no imaginário humano ao longo da história.
A praia era antes um lugar amedrontador, como narra Alain Corbin em “The Lure of the Sea: The Discovery of the Seaside in Western World” (“O Fascínio do Mar: a Descoberta do Litoral no Mundo Ocidental”, em tradução livre). Tornou-se uma atração a partir do século 18 —as elites europeias começavam a ter preocupações com saúde e atividades ao ar livre.
Hoje em dia, o encanto da água salgada ignora fronteiras culturais ou de hemisférios. Prova disso são as imagens de chineses lotando pedaços de areia ou a estreia do surfe como esporte olímpico no Japão, no ano que vem. Poucos hábitos são tão universais quanto aproveitar a praia.
Não sem motivo, a pressão sobre o litoral é brutal. Dos habitantes do mundo, 39% vivem a menos de 100 quilômetros da costa. Além disso, existe o efeito do aquecimento global: praias de areia natural de todos os cantos vão desaparecendo aos poucos, encurtadas pela elevação do nível do mar.
País com a 16ª maior costa do mundo, o Brasil detém 7.491 quilômetros de litoral. Há quatro verões, a Folha procura retratar a qualidade da água nas praias brasileiras, tabulando os dados disponíveis.
Em nenhum ano a incidência de sujeira foi tão alta como neste: 35% dos locais de análise classificados como ruins ou péssimos. Nas cidades consideradas mais turísticas, 42% dos pontos foram reprovados. Ilhabela, cidade com uma das maiores rendas per capita do país, teve, pela primeira vez, nenhum lugar classificado como bom.
A importância decisiva do litoral para o futuro do planeta é assunto que vai encontrando ouvidos cada vez mais moucos, como se pode notar aqui e acolá. Talvez funcione melhor, nesse caso, o apelo a um egoísmo mais rasteiro. Quando a praia do feriado não estiver mais aquela uva toda, quem sabe a curva da sujeira pare de subir.
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