- O Globo
Em vídeo que circulou na campanha de 2018, o então juiz Wilson Witzel ensinava colegas a driblar os tribunais para engordar o salário. A receita era simples. Todo mês, o juiz substituto deveria se afastar do cargo por 15 dias. Assim, o titular receberia um extra de R$ 4 mil no contracheque.
“Adoro meu juiz substituto. Mas, se ele ficar, eu não recebo. Aí a gente faz uma engenharia...”, explicava Witzel, aos risos. A gravação, revelada pelo colunista Lauro Jardim, levantou dúvidas sobre o candidato que bradava contra a corrupção. Mas o truque parece uma travessura infantil diante do que ele seria acusado de fazer no governo do Rio.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República, Witzel replicou o esquema de Sérgio Cabral para saquear os cofres do estado. O ex-secretário Edmar Santos, preso com R$ 8,5 milhões em espécie, acusou o chefe de comandar o esquema. Os investigadores afirmam ter rastreado R$ 554 mil em propinas pagas ao governador, que se diz inocente.
Ontem o Superior Tribunal de Justiça confirmou, por 14 votos a 1, a liminar que afastou Witzel do cargo. O placar indicou o fim da linha para o ex-juiz, que surfou a onda bolsonarista e seduziu eleitores com a promessa de abater criminosos à bala.
Ao que tudo indica, o inferno judicial de Witzel está só começando. O Ministério Público Federal informou que ele será alvo de uma segunda denúncia nos “próximos dias”. O governador já foi acusado formalmente de corrupção e lavagem de dinheiro. Agora também deverá responder por organização criminosa.
Em outra frente, o ex-juiz ganhou mais cinco dias para apresentar defesa no processo de impeachment. Deputados dizem que a votação ocorrerá em até três semanas. Sem cargos a oferecer, o governador sofrerá outra goleada.
Witzel deve encerrar o mês duplamente afastado: pela Justiça e pela Assembleia Legislativa. Poderia ser pior. Se sua plataforma fosse seguida ao pé da letra, ele arriscaria sair de cena com um tiro na cabecinha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário