domingo, 18 de outubro de 2020

Lourival Sant'Anna - Rumo à Casa Branca


- O Estado de S.Paulo

Trump pode se reeleger, mas algo dramático precisa ocorrer até o dia da eleição

Existem diversas formas de medir as chances de um candidato a presidente nos EUA: as pesquisas nos Estados que oscilam entre um partido e outro, as doações para as campanhas, o mercado de apostas e a audiência dos programas em que eles aparecem. Por todas as medidas, Joe Biden é o favorito, a duas semanas da eleição.

A sabatina de Biden com eleitores realizada pela rede de TV ABC, na noite de quinta-feira, teve média de 13,9 milhões de telespectadores, segundo a empresa Nielsen; a do presidente Donald Trump, ao mesmo tempo, na NBC, 13 milhões.

A campanha de Biden anunciou ter arrecadado em setembro US$ 383 milhões; a de Trump, US$ 248 milhões. Os valores individuais das doações para o democrata são menores. Considerando que cada doador representa potencialmente um voto, esse é mais um dado preocupante para o presidente. 

Na semana que passou, Biden estava vencendo em todas as casas de apostas americanas com dois terços das preferências, segundo o site Real Clear Politics. É a mesma estimativa do Instituto Ipsos.

Na maioria dos Estados que decidirão essas eleições, em razão dos seus movimentos pendulares entre um e outro partido, Biden tem vantagens nas pesquisas acima da margem de erro. Em 2016, Hillary Clinton liderava dentro da margem de erro nesses Estados. A vitória de Trump foi surpreendente, mas não uma aberração estatística.

Ainda assim, os institutos de pesquisas fizeram correções nos seus modelos neste ano, dando peso maior para os eleitores da zona rural e sem diploma superior, que foram os que desequilibraram a balança em favor de Trump.

Trump está realizando comícios nos Estados em que ele precisa vencer e está atrás ou empatado tecnicamente. Já Biden visitou Estados nos quais, mesmo sendo derrotado, ele ainda assim se elege presidente. Noutras palavras, Trump joga na defensiva e Biden, na ofensiva, para ampliar a sua vantagem.

Vou usar aqui as últimas sondagens do Ipsos para a agência Reuters, com exceção da Geórgia, ainda não pesquisada por ele. Trump esteve na Flórida na segunda e na sexta-feira. O democrata Barack Obama venceu lá em 2008 e em 2012 e Trump, em 2016. Biden está com 49% no Estado com o terceiro maior colégio eleitoral dos EUA e Trump, 45%.

A Pensilvânia, onde Trump fez comício na terça-feira, e que venceu em 2016, está atrás de Biden por 51% a 44%. Em Iowa, visitado pelo presidente na quarta-feira, Obama ganhou em 2008 e 2012 e Trump, em 2016. Lá os dois estão empatados.

Na Carolina do Norte, visitada por Trump na quinta-feira, os democratas não ganham desde 2008. Agora, os dois estão tecnicamente empatados: Biden tem 48% e Trump, 47%. Lá, a pesquisa foi feita entre os dias 7 e 13, e 12% dos entrevistados disseram que já haviam votado.

O fato de Trump ter tido de ir pedir votos na Geórgia, na quinta-feira, também chamou a atenção. Os democratas não ganham no Estado desde 1992. Pesquisa da Universidade de Quinnipiac coloca Biden à frente na Geórgia com 51% a 44%. A votação antecipada começou lá na segunda-feira, e os eleitores formaram longas filas, com esperas de até 6 horas. 

Mas em nenhum Estado-chave a votação antecipada foi tão significativa até agora quanto no Michigan: 22% dos ouvidos entre os dias 7 e 13 já haviam votado. Lá, Biden vence Trump nas intenções de votos por 51% a 43%. Barack Obama venceu no Michigan em 2008 e 2012 e Trump, em 2016.

O Wisconsin causou um trauma nos democratas em 2016: Trump derrotou Hillary por 0,7 ponto porcentual. Os democratas venciam no Estado desde 1988. Agora, a pesquisa Ipsos indica vitória de Biden por 51% a 44%, com 20% dos entrevistados já tendo depositado seu voto. 

Finalmente, no Arizona, onde o presidente fará dois comícios amanhã, há empate técnico: Biden com 48% e Trump, 47%. O volume recorde de votação antecipada aumenta a chance de acerto das pesquisas. Trump pode se reeleger? Pode. Mas algo de dramático terá de acontecer.

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