A
primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, foi reeleita neste sábado
(17), dando ao seu Partido Trabalhista a maior vitória eleitoral em meio
século.
Com
95% da apuração concluída, a sigla de centro-esquerda contava com 49% dos
votos, muito à frente do Partido Nacional, com 27%, segundo a Comissão Eleitoral.
A
legenda da primeira-ministra pode sair das eleições com 64 das 120 cadeiras no
Parlamento, o recorde de qualquer partido desde que o país adotou o sistema de
votação proporcional, em 1996. Será também o primeiro governo de partido único
sob o sistema.
“Estamos
vivendo em um mundo cada vez mais polarizado”, disse Jacinda, ao reconhecer sua
vitória. "Um lugar onde mais e mais pessoas perderam a capacidade de ver o
ponto de vista uns dos outros. Espero que, com esta eleição, a Nova Zelândia
tenha mostrado que não somos assim."
Jacinda,
40, virou celebridade global após ganhar destaque neste ano pelo
trabalho de combate à pandemia de Covid-19. Ela era a favorita na disputa
contra Judith Collins, do Partido Nacional.
Em
discurso pela TV local, a adversária admitiu a derrota e parabenizou Jacinda,
por telefone, por considerar o resultado excepcional para o Partido Trabalhista.
Após
o reconhecimento da vitória, a primeira-ministra disse que seu Partido
Trabalhista ganhou um mandato para liderar o país e acelerar sua resposta à
pandemia.
"A
Nova Zelândia mostrou ao Partido Trabalhista seu maior apoio em quase 50
anos", disse. "Não consideraremos seu apoio garantido. E posso
prometer que seremos um partido que governa para todos os neozelandeses".
Em
sua campanha, Jacinda prometeu aos apoiadores que construiria uma economia que
funcionasse para todos, criaria empregos, treinaria pessoas, protegeria o meio
ambiente e enfrentaria os desafios climáticos e as desigualdades sociais.
No
cargo há três anos, ela viveu diversos episódios que consolidaram sua imagem
como uma política com empatia e sensibilidade. Meses
após assumir seu mandato, anunciou que estava grávida e não
abriu mão de tirar seis semanas de licença-maternidade. Deixou o país na
mão de seu vice.
Em
2019, foi elogiada ao
transmitir sentimentos de conciliação e união nacional a uma população
traumatizada com o
massacre de 51 pessoas por um extremista em duas mesquitas na cidade
de Christchurch. Após a matança, armas
semiautomáticas foram banidas no país.
Nada
que se comparasse, no entanto, a como ela lidou com a pandemia, o que projetou
seu nome internacionalmente. A Nova Zelândia virou exemplo mundial de combate à
doença, com quarentena rígida, ampla testagem e uma estratégia de comunicação
eficiente.
Em
uma pesquisa de opinião da Universidade Massey em julho, a primeira-ministra
recebeu nota 8,45 numa escala de 0 a 10 por seu desempenho contra a Covid-19.
A
eleição deveria ter sido realizada em 19 de setembro, mas foi adiada após uma
nova onda de infecções de coronavírus em Auckland, que levaram a um segundo
bloqueio na maior cidade do país.
Cerca
de 3,5 milhões de pessoas se registraram para votar. A Nova Zelândia tem leis
muito rígidas no dia de votação, restringindo a cobertura da mídia e a
propaganda política enquanto as urnas estão abertas, para evitar que os
eleitores sejam influenciados.
Aproximadamente
1,7 milhão de pessoas votaram antecipadamente, uma proporção muito maior do que
no pleito anterior.
Embora
conhecida internacionalmente por promover causas progressistas, como os
direitos da mulher e a justiça social, Jacinda enfrentou críticas internas de
que seu governo falhou em cumprir transformações sociais.
Por
conta da crise sanitária global, as fronteiras da Nova Zelândia ainda estão
fechadas, e o setor de turismo sofre. Economistas preveem uma recessão
duradoura após os severos bloqueios.
A
economia encolheu a uma taxa anual de 12,2% no segundo trimestre, queda mais
acentuada desde a Grande Depressão. A dívida deve aumentar para 56% do PIB,
sendo que antes da pandemia era de menos de 20%.
Os neozelandeses também votaram neste sábado em referendos para legalizar a eutanásia e a maconha recreativa, com resultados a serem anunciados em 30 de outubro. A Nova Zelândia pode se tornar o terceiro país do mundo a permitir o uso e venda de cânabis em todo o seu território, depois do Uruguai e Canadá.
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