O
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luis Fux, foi
surpreendentemente explícito ontem, durante a fala de abertura do 14º Encontro
Nacional do Poder Judiciário promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
ao fazer uma ligação clara entre a decisão que tomou logo depois de assumir o
cargo, em outubro, de tirar das turmas e levar para o plenário as ações penais
e inquéritos, e a vontade de não permitir a desconstrução da Operação Lava
Jato.
“O
primeiro ato praticado por mim, não quero nenhum louvor, estou apenas dando
esse esclarecimento: todas as ações penais e todos os inquéritos passarão pela
responsabilidade do plenário, porque o STF tem o dever de restaurar a imagem do
país a um patamar de dignidade da cidadania, de ética e de moralidade do
próprio país".
Foi
a maneira que Fux encontrou para reafirmar seu empenho de evitar que a Segunda
Turma, que é responsável por analisar os processos da Lava-Jato, use uma
maioria já firmada para obstruir as investigações. A Segunda Turma tinha o
ministro Celso de Mello com fiel da balança. Gilmar Mendes e Ricardo
Lewandowski votam na maioria das vezes na mesma direção, assim como a ministra
Carmem Lucia e o ministro Edson Fachin. Enquanto não foi escolhido o substituto
de Celso de Mello, a dupla Gilmar e Lewandowski levou a melhor, pois o empate
favorece ao réu.
Eles ganharam depois o reforço do novo ministro indicado por Bolsonaro, Nunes Marques. O pronunciamento de Fux aconteceu dois dias depois que a 2ª Turma do STF decidiu que manterá no colegiado os recursos que já começaram a ser julgados antes da decisão que definiu a competência do plenário. A posição foi entendida como uma reação do presidente da 2ª Turma, ministro Gilmar Mendes, que vem se destacando como um dos adversários mais ferrenhos da Lava-Jato no Supremo.
Mesmo
que o próprio ministro tenha afirmado que a decisão não tem relação com a
mudança regimental que restabeleceu a competência do plenário para julgar ações
penais, aprovada por unanimidade. “Nenhuma dúvida sobre a competência do pleno
para dar continuidade a julgamento pela aplicação imediata da emenda. Aqui se
trata de julgamentos já iniciados com votos já proferidos”, esclareceu.
Uma
decorrência do menosprezo do atual governo brasileiro pelos organismos
internacionais teve um desfecho agora na Organização Mundial de Propriedade
Industrial (OMPI). A vaga para diretor-geral, disputada entre a América Latina
e a Ásia, em março, tinha um candidato brasileiro apoiado por grupos políticos
e de dentro do governo, o advogado José Graça Aranha, membro da OMPI há 35
anos, candidato há 12 anos que perdeu por um voto para o australiano Francis
Gurry, que a dirige desde então.
A
vitória era considerada fácil, pois diversos países já haviam dado seu apoio,
mas como os governos é que indicam os candidatos, o Itamaraty decidiu não
apoiar a candidatura brasileira devido ao fato de Graça Aranha ter sido
diretor-geral do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) no governo
Fernando Henrique, e candidato a diretor-geral com o apoio do governo Dilma.
O Brasil acabou optando pelo candidato de Singapura, Daren Tang, que foi eleito, numa vitória estratégica dos Estados Unidos contra a China que poderia ter sido de um brasileiro. Agora, ao preencher as oito vagas de diretor-geral adjunto, o governo brasileiro apresentou um primeiro-secretário do Itamaraty, Maximiliano Arienzo para uma delas, que havia sido prometida na campanha. O novo diretor-geral nomeou representante da Colômbia para a vaga da América Latina. Indonésia, Gana, Estados Unidos, França, Inglaterra, China e Japão, cada qual ficou com uma vaga. Resultado, perdemos tudo na OMPI.
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