Em
São Paulo, Bruno Covas é assediado por Boulos; no Rio de Janeiro, Eduardo
Paes está praticamente eleito; em Recife, Marília e João Campos têm disputa
acirrada
Muito
interessante a disputa nas três principais capitais onde há segundo turno: São
Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Apontam tendências políticas completamente
diferentes. A única conclusão que podemos inferir em relação a 2022, com
segurança, é o fato de que o presidente Jair Bolsonaro caiu do cavalo nas três
cidades. Seus candidatos não emplacaram. A queda de sua popularidade em quase
todo o território nacional, em razão da pandemia de coronavírus, das altas
taxas de desemprego e das suas patacoadas em relação a alguns temas relevantes,
como a política externa e o meio ambiente, fez com que seu apoio se tornasse
irrelevante.
Em São Paulo, Bruno Covas (PSDB) mantém a liderança, mesmo caindo de 48% para 47%. Guilherme Boulos (PSol) estacionou nos 40%, segundo o DataFolha. Como o candidato de Bolsomaro, Celso Russomano (Republicanos), virou mosca morta no segundo turno, a disputa reflete uma guinada à esquerda na capital paulista. Bruno Covas é um tucano de raiz, com uma narrativa que não nega a herança familiar do ex-governador Mario Covas. É falsa a acusação de que seria um bolsonarista, sua candidatura se posiciona no campo da centro-esquerda.
O
que acontece é que Boulos, candidato do PSol, está à esquerda do PT, o que está
contingenciando sua candidatura. Não deixa de ser um fenômeno de implicações
nacionais, pois sinaliza a quebra de hegemonia do PT e a emergência de uma nova
liderança política em São Paulo com projeção para outros estados. Também é
falsa a tese de que seria uma espécie de lulismo sem Lula, quando nada porque o
transformismo do PT ocorreu no exercício do poder e não à margem dele. Não se
pode confundir o aggiornamento de Boulos com isso.
Boulos
tem ampla vantagem entre jovens de 16 a 24 anos (61% a 27%); Covas, entre quem
tem 60 anos ou mais (61% a 28%). Os mais jovens, porém, pesam menos (12%) no
eleitorado do que os mais velhos (23%). Entre os mais pobres, com renda
familiar de até dois salários, o candidato do PSDB tem 46% das intenções de
voto, ante 39% do adversário. Também lidera entre quem tem renda familiar de
dois a cinco salários (48% a 38%). Boulos vence na faixa de renda de cinco a 10
salários (48% a 42%). Entre os mais ricos, com renda superior a 10 salários,
Covas tem 53%, e Boulos, 42%. No total de votos válidos, Covas tem 54% e
Boulos, 46%.
Rio
de Janeiro
No
Rio de Janeiro, a situação é completamente diferente da de São Paulo. O segundo
turno virou uma disputa entre o centro e a direita. A novidade é o maciço apoio
da esquerda ao candidato do DEM, Eduardo Paes, que passou de 54% para 55%. O
prefeito Marcelo Crivella, um dos raros candidatos de Bolsonaro no segundo
turno, mostra resiliência na sua base evangélica, mas avançou apenas de 21%
para 23% dos votos, segundo o DataFolha. Em termos de votos válidos, Paes
venceria Crivela por 70% a 30%.
A
vitória de Eduardo Paes repercute no cenário nacional porque fortalece o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e a ala do partido que namora a eventual
candidatura a presidente da República do apresentador Luciano Huck. A disputa
também aponta uma tendência de convergência de forças contra o presidente Jair
Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022.
A
segmentação da pesquisa também mostra uma derrota profunda do projeto político
da Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, de quem Crivella é
sobrinho. Sua narrativa conservadora em relação aos costumes esbarrou na vida
mundana dos cariocas. O aparelhamento da administração da cidade pelos pastores
evangélicos também se revelou um fracasso político.
Não
é à toa que Paes ampliou a vantagem sobre Crivella entre as mulheres (74%
contra 26%); entre os que têm 60 anos ou mais (75% a 25%); entre os mais
instruídos (75% a 25%); entre os com renda familiar mensal acima de 10 salários
mínimos (85% a 15%); entre os funcionários públicos (83% a 17%); entre os
católicos (84% a 16%); e entre os simpatizantes do PT (93% a 7%). Crivella
manteve-se em vantagem apenas entre os evangélicos (64% contra 36%).
Curioso
é o fato de a direita pernambucana apoiar maciçamente a candidata petista, com
objetivo de enfraquecer o governador Paulo Câmara e o jovem deputado federal
João Campos, neto de Arraes e herdeiro político do falecido governador Eduardo
Campos, que morreu num desastre aéreo na Baixada Santista, em plena campanha
eleitoral de 2014.
Marília Arraes leva vantagem entre os homens (46% a 36%); entre as mulheres, fica um pouco atrás (41% a 43%). Entre os mais jovens, de 16 a 24 anos, abre 14 pontos (47% a 33%). Na faixa seguinte, de 25 a 34 anos, tem 43%, ante 41% do candidato do PSB. Entre os eleitores de 35 a 44 anos, Campos lidera (45% a 37%), mas perde entre quem tem de 45 a 59 anos, faixa na qual a petista abre vantagem de 14 pontos novamente. No grupo de eleitores mais velhos, com 60 anos ou mais, o candidato do PSB tem 44% e Marília, 43%.
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