O Estado de S. Paulo
Num cenário de alta de juros e
encarecimento do crédito, o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para
bancar o novo Bolsa Família (nos últimos meses do
ano), não é bom sinal.
Os financiamentos para empresas e pessoas físicas, que já estavam pressionados com a subida da taxa básica de juros, a Selic, pelo Banco Central, vão ficar mais caros entre 20 de setembro e 31 de dezembro deste ano num momento de esfriamento da atividade econômica e com endividamento recorde da população.
Do lado fiscal, porém, a decisão de aumentar o imposto representa um forte indício de que a equipe econômica conseguiu barrar a pressão pela renovação do auxílio emergencial por meio de crédito extraordinário para o combate do impacto da pandemia da covid-19.
Os técnicos da área econômica avaliavam que
o uso de crédito extraordinário, usado para casos de imprevisibilidade e
urgência e que ficam fora do limite do teto de gastos, não poderia ser mais
justificado a essa altura da pandemia e com as vacinações em curso.
Outro ponto importante é que a medida foi
um sinal de que haverá compensação para o novo programa em 2021 e também em
2022, sem burla da regra da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que exige uma
medida de aumento permanente de despesa (como a ampliação do novo Bolsa
Família) precisa estar acompanhada de uma fonte de custeio desse novo gasto.
Essa exigência é um dos mais importantes
regramentos da política fiscal brasileira e volta e meia há movimentação
política ou para acabar com ela ou driblá-la.
O governo deve agora enfrentar o
questionamento sobre o uso do IOF, um tributo que tem função
regulatória. Tributaristas questionam o seu uso para aumentar a arrecadação. É
justamente por ter essa função regulatória que a legislação abre uma exceção e
diz que ele pode ser aumentado sem aprovação de uma lei.
Essa é a segunda alta de imposto para
bancar medidas de interesse do presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição
no ano que vem. O governo já tinha aumentado temporariamente a tributação dos
bancos para custear a desoneração do diesel.
Ao anunciar o aumento do imposto, o Palácio
do Planalto afirmou que vai permitir a ampliação do novo programa. Mas a
solução para o seu Orçamento em 2022 – de R$ 60 bilhões – está longe de estar
resolvida com a indefinição para o pagamento da fatura de R$ 89,1 bilhões com
precatórios.
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