O Estado de S. Paulo
Tancredo paira sobre as prévias do PSDB: ‘Voto secreto dá uma vontade danada de trair’
Olhando o copo meio vazio, o PSDB tem em
torno de 600 mil filiados ativos no TSE, mas só 44.700 se inscreveram para as
prévias deste domingo, menos de 10% e 300 a menos que os 45.000 que reforçariam
o número 45 do partido. Parece muito pouco.
Mirando o copo meio cheio, 44.700 filiados
votando numa prévia partidária não é irrelevante no Brasil. Trata-se de uma
mobilização e tanto, que injeta ânimo e chama a atenção da mídia para o PSDB,
que saiu chamuscado, ou um tanto depenado, das eleições de 2018. Não fossem as
prévias, quem estaria falando em nomes tucanos?
A campanha do governador João Doria (SP) avisou que “o candidato favorito” chegaria ontem a Brasília. A consultoria Eurasia, porém, aponta vantagem do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Na verdade, o resultado é incerto e as apostas são arriscadas. A única coisa certa é que tanto Doria quanto Leite representam renovação. Para o bem ou para o mal.
Leite se apresenta como “o novo, o
inusitado” e tem apoio dos mandatários, como os três governadores, 32 deputados
federais e sete senadores. Doria reage dizendo que, com o desmanche do País, o
eleitor “não quer fazer teste, quer segurança”. E, como foi mais eficaz nas
inscrições, tende a ter mais votos entre os inscritos.
Além de um complexo modelo de votos
ponderados, há dois motivos para o suspense. Um: quantos eleitores vão desistir
na hora H, diante de um processo eleitoral complicado, cheio de senhas, isso e
aquilo.
E, como dizia Tancredo Neves, “o voto
secreto dá uma vontade danada de trair”. O eleitor se compromete com um ou
outro de acordo com suas conveniências estaduais imediatas, mas quando vai
apertar o botão a história é outra, o voto também.
Quanto à versão de que Doria e Leite
bateram abaixo da linha da cintura, inviabilizaram a união entre eles e o
terceiro candidato, Arthur Virgílio (AM), e o partido saiu esfacelado... é
blábláblá. Disputa política é disputa política, cada um joga o seu jogo e tem
canelada. Mas nada foi mortal, irreversível, até os debates foram mornos.
O PSDB ficou em quarto lugar em 2018, com
menos de 5% dos votos, e foi um dos fatores que elegeram Jair Bolsonaro.
Irritado, sentindo-se traído, o eleitorado tucano preferiu dar um tiro no
escuro. Que tiro!
Apesar disso, o partido tem duas vitórias em primeiro turno, disputou todos os segundos turnos seguintes até 2014 e ostenta a herança bendita dos governos FHC. Logo, está ferido e em busca de identidade, mas é um player de 2022, que tem real espaço para uma terceira via e está apenas começando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário