domingo, 21 de novembro de 2021

Vinicius Torres Freire – Militares tentam sair de fininho

Folha de S. Paulo

Gasto com servidor civil caiu, militares teve aumento e se calam com a ruína geral do governo

Jair Bolsonaro disse que reajustaria o salário de todos servidores federais. Ministros e governismo em geral disseram que não há dinheiro. Bolsonaro levou invertida até do centrão. Claro: se saísse o aumento, não sobraria nada para financiar emendas parlamentares extras.

Bolsonaro então quer dar aumento pelo menos para militares e policiais federais. Sempre teve mentalidade de vereador das milícias e sindicalista militar.

O gasto federal com salários de servidores civis (na ativa) caiu sob Bolsonaro. Desde o começo de 2020, quanto este governo passou a ter força maior sobre o Orçamento, essa despesa diminuiu 8% em termos reais (descontada a inflação; gasto anualizado), de fato um espanto. A despesa com o pessoal militar na ativa aumentou 5,5%, porém.

A baixa da despesa civil se deve à combinação de redução de quadros com congelamento salarial. Pode até ser que o enxugamento tenha a ver com algum plano de aumento de eficiência, não mero arrocho improvisado (este jornalista não encontrou análise independente que faça balanço do período).

Por que a despesa com o pessoal militar da ativa aumentou? Porque receberam aumento especial de Bolsonaro. Por que não houve enxugamento por outras vias? Cerca de 6 mil militares fazem um extra no governo. Não deve estar faltando gente nas Forças Armadas.

Bolsonaro cumpre partes essenciais de seu programa. Dá dinheiros e boca rica para militares. Faz propaganda da ditadura militar e de torturadores. Quer levar esse revisionismo bárbaro até para provas de vestibular.

Prometeu que ocuparia o governo com os bucaneiros da floresta, sua versão da doutrina militar da "soberania nacional" sobre a Amazônia. Missão cumprida. O país regrediu 15 anos no controle do desmatamento, fora a razia nas instituições de preservação ambiental.

Levou uma década para o país conter parte do bota-abaixo amazônico. Quando Lula da Silva (PT) tomou posse, 2003, iam para o chão 25 mil quilômetros quadrados de floresta por ano. Em 2014, eram 5 mil quilômetros quadrados, ainda um horror, mais que o triplo da área da cidade de São Paulo. Nos últimos 12 meses, se foram 13 mil quilômetros quadrados, outro ano de recorde bolsonarista. De quebra, o governo escondeu os números para Bolsonaro não causar ainda mais revolta na reunião do clima na Escócia.

Isso é coisa de ditadura, como foi coisa de ditadura esconder o número diário de mortes na epidemia por tempo bastante para que não aparecessem no "Jornal Nacional" da Globo, em 2020, ideia dos generais da morte do Planalto e da Saúde. Os meios de comunicação se juntaram e passaram a publicar a estatística, como fazem até hoje.

A educação está sob o comando de obscurantistas e fanáticos que desmontam o ministério e se dedicam a barrar perguntas de vestibular com motivos que parecem os dos censores da ditadura militar. O Ministério Público e o Tribunal de Contas da União enfim vão dar uma olhada nas atrocidades do ministério.

Quando se fala em polícia no governo Bolsonaro, ou se trata de incentivo a motim ou de investigação sobre interferências indevidas. Programa de segurança pública? É um cadáver que Sergio Moro levou consigo quando foi posto para fora do governo. Não nasceu outro.

Os oficiais-generais que ficaram nos quarteis agora se dizem "decepcionados" com Bolsonaro, que não eram bolsonaristas, apesar da esteira que leva generais do Alto Comando do Exército ao Planalto. Agora são moristas.

Sim, este é também um governo do partido militar, na boquinha e na ideologia, sócio do centrão. Os generais ficaram quietos. Tentam sair de fininho da casa que ajudaram a explodir. Levam intactos os aumentos de salário.

 

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