Folha de S. Paulo
Com os olhos na alvorada de 2023.
Escrevo este texto enquanto cai uma
tempestade lá fora e penso nos mortos e desabrigados
na Bahia e em Minas Gerais, consequência de uma combinação tão antiga
quanto letal no Brasil: fenômenos climáticos, desigualdade social e agressões à
natureza.
Não é a chuva em si que castiga os mais
pobres, mas a falta de moradia segura e a ocupação de áreas de risco, provocada
em grande parte pela especulação imobiliária e pelo poder público omisso e/ou
conivente.
A morte e o padecimento de brasileiros,
seja nas enchentes, seja na pandemia, seja por causa da fome, são o retrato do
país governado por um presidente dado à vadiagem e ao sadismo, que faz questão
de exibir seu "e daí?" enquanto tantos sofrem.
Lembro do que escrevi neste espaço em primeiro de janeiro de 2020. Fui sincera quando disse aos leitores que não conseguia acreditar em um feliz ano novo, considerando o que Bolsonaro já havia feito em 2019.
Veio 2020 e a parceria entre o vírus e o
genocida. Minhas expectativas foram superadas da pior maneira possível. Mais
uma vez, fiquei devendo os votos de feliz ano novo para 2021. O título daquela
coluna, "Feliz Ano Velho", resumia a repetição dos meus temores,
todos confirmados com o golpismo do 7 de Setembro e a tenebrosa associação
entre pandemia, corrupção e crimes contra a humanidade, revelados na CPI da
Covid.
Será que consigo desejar um feliz 2022? O
ano que começa será uma travessia tormentosa e duríssima. Bolsonaro sequestrou
o país para sua agenda de morte, caos e desespero e se prepara para uma guerra
de terra arrasada. O Brasil terá que ser reerguido a partir de ruína e
escombros.
Por isso mesmo, a reconstrução não pode
esperar 2023. Ela começa agora, com a urgência de garantir um caminho seguro
até as urnas e a chance de resgatar a promessa de país que fomos um dia. É essa
esperança vital que me faz desejar, com convicção, Feliz Ano-Novo em 2022 com
os olhos na alvorada de 2023.
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