sábado, 1 de janeiro de 2022

Hélio Schwartsman: China, líder na produção científica

Folha de S. Paulo

E nada indica que um apagão esteja próximo.

Pela primeira vez, a China superou os EUA em produção científica. Em 2020, instituições chinesas publicaram 788 mil artigos contra 767 mil das americanas. É possível relativizar esse dado.

A China tem uma população quatro vezes maior que a americana, de modo que a produção per capita dos EUA ainda é superior. A China também não tem ganhado tantos prêmios Nobel quanto os EUA, o que faz supor que, nas áreas mais relevantes, os americanos liderem. Tudo isso é verdade, mas o fato, insofismável, é que a ciência chinesa vem evoluindo de forma robusta. Nada indica que um apagão esteja próximo.

A questão é relevante para os economistas liberais, particularmente os da escola institucionalista. Para eles, o crescimento sustentável só é possível quando as instituições políticas de um país são inclusivas e seus cidadãos gozam de liberdade para decidir o que farão de suas vidas e recursos. Isso ocorre porque a prosperidade duradoura depende de um fluxo constante de inovações, que resulte em ganhos de produtividade. Ainda segundo os institucionalistas, regimes autoritários, como o chinês, não asseguram a liberdade necessária para que o binômio ciência e tecnologia se desenvolva.

É possível que tais economistas, entre os quais se destacam Daron Acemoglu e James Robinson, tenham razão e que a China, por um déficit de liberdade, não consiga manter o ritmo. Já vimos ditaduras colapsarem porque ficaram para trás na corrida tecnológica. O caso mais notório é o da URSS, que, embora tenha chegado a liderar a ciência espacial, não foi capaz de manter-se competitiva em outras áreas, com reflexos na economia.

Mas não dá para descartar a hipótese de que os institucionalistas estejam errados. Não me parece em princípio impossível para um regime assegurar as liberdades necessárias para manter a ciência e a economia funcionando sem estendê-las à política. Ditaduras podem se reinventar.

 

Um comentário:

laurindo junqueira disse...

Artigo interessante! Mas é preciso levar em conta que 60% dos cientistas dos EUA são estrangeiros. E que 100% dos cientistas chineses são chineses. Quanto aos Nobel, as descobertas de ponta são sempre eludidas, tanto pelos chineses quanto pelos russos. Os yankees também o fazem, embora o façam menos ...