sábado, 1 de janeiro de 2022

João Gabriel de Lima*: Como lidar com os cometas em 2022

O Estado de S. Paulo.

Na democracia, temos armas para combater os cometas. Elas se chamam mobilização e voto

O filme Não Olhe para Cima é literalmente sobre o fim do mundo. Na trama, um cometa entra em rota de colisão com a Terra, e a presidente dos Estados Unidos – vivida por Meryl Streep – pouco faz de concreto para evitar a tragédia. A produção da Netflix explodiu nas redes sociais e, como escreveu Eugênio Bucci no Estadão, promete incendiar as discussões em família no réveillon. Não foi por acaso. Neste ano, todos nos sentimos na mira de um cometa – fosse ele a pandemia, as enchentes, os preços subindo sem parar ou o descaso de alguns governantes com problemas tão graves.

Em alguns momentos de 2021 fomos capazes de enfrentar nossos cometas. A mobilização social triunfou sobre inimigos poderosos. Um exemplo foi o pavilhão que reuniu, em Glasgow, cientistas, empresários e representantes dos movimentos jovem, negro e indígena contra a mudança climática e em favor da Amazônia. O vídeo da ativista Txai Suruí, única brasileira a falar na abertura da COP-26, viralizou e se tornou emblema dessa mobilização.

Pressionado pela sociedade civil – e também, claro, por outros países – o governo brasileiro, o mesmo que há três anos ameaçava deixar o Acordo de Paris, assinou as listas de objetivos da COP-26. Entre as demandas, a mais urgente no nosso caso é zerar o desmatamento da Amazônia, condição essencial para que o Brasil volte a ter relevância no mundo.

Outro motivo de esperança em 2021 foi que, num ambiente político que clama por novidades, os movimentos de renovação começam a fecundar os partidos. À esquerda, onde muitas vezes impera a divisão, lideranças ascendentes como Tabata Amaral, Flávio Dino e Marcelo Freixo reuniram-se numa única sigla, o PSB. Tabata é egressa do Renova BR, que se define como uma “escola de política”. A diretora executiva do Renova BR, Irina Bullara, é a entrevistada do minipodcast da semana.

Mais à direita, o velho PSDB oxigenou-se com a militância feminina. A secretária de Desenvolvimento de São Paulo, Patrícia Ellen, liderou o combate à pandemia no Estado – que contou, como destacou o Estadão em editorial, com expressiva participação da sociedade. O programa econômico tucano para as próximas eleições contará com a assinatura de três economistas renomadas: Vanessa Rahal, Zeina Latif e Ana Carla Abrão. No minipodcast, Irina Bullara fala do desafio das mulheres na política.

Na democracia, temos armas para combater os cometas, mais eficientes que as traquitanas tecnológicas invocadas por Meryl Streep em Não Olhe para Cima. Elas se chamam mobilização e voto. Que em 2022 façamos bom uso delas.

*Escritor, professor da FAAP e doutorando em Ciência Política na Universidade de Lisboa

 

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