O Globo
Para o bem de todos e felicidade geral da
nação, a Coalizão Brasil Clima, que reúne empresas, bancos e associações de
agricultores, dissociou-se dos agrotrogloditas e do garimpo ilegal que tentam
passar a boiada da mineração em terras indígenas por conta da guerra na
Ucrânia.
Na parolagem, o caso é simples: o Brasil
precisa de fertilizantes, eles vêm de lá e da Rússia. Cortada a linha de
comércio, seria necessário minerar o potássio que está em terras indígenas da
Amazônia.
Faz tempo que Jair Bolsonaro fala desse
potássio. É um aspecto de sua fixação em metais e produtos mágicos. Na
pandemia, cloroquina, fora dela, grafeno e nióbio. Indo mais adiante, uma
pesquisa para transmitir de energia por cima da floresta, sem cabos.
A Coalizão Brasil Clima bateu de frente contra esse avanço nas terras indígenas, que tramita em regime de urgência na Câmara. Para evitar que se passe a boiada, ela informa:
“O garimpo em terras indígenas não resolve
o problema dos fertilizantes”. Dois terços das reservas de potássio estão fora
da Amazônia. Nela, só 11% estão em terras indígenas. Se as reservas nacionais
começarem a receber investimentos amanhã, a autossuficiência virá depois de
2100.
Mais:
“A Agência Nacional de Mineração conta com
mais de 500 processos ativos de exploração de potássio em andamento que
poderiam ser viabilizados sem agressão aos territórios dos povos originários.”
“A guerra entre Rússia e Ucrânia, portanto,
não deve ser um pretexto para a aprovação de um PL que ainda não foi
adequadamente debatido pela sociedade e, sobretudo, não foi consultado com as
organizações representativas dos povos indígenas, os maiores interessados no
assunto.”
“A Coalizão Brasil Clima (...) defende que
o Congresso volte sua atenção para outra discussão urgente — os diversos
obstáculos encontrados no país para a produção de fertilizantes, como a
insegurança jurídica, o sistema tributário e outros problemas regulatórios, que
fazem com que produtos importados sejam mais competitivos do que os nacionais.”
No clima do Regresso, querem passar a
boiada às custas de guerra. Em 1843, esse mesmo clima negava apoio a uma
ferrovia ao mesmo tempo que desafiava a Inglaterra amparava o contrabando de
negros escravizados trazidos da África. Quase dois séculos depois, o governo
alavanca os interesses do chamado garimpo ilegal, quando a Polícia Federal sabe
e denuncia a associação dessa atividade com o crime organizado. Um amigo desses
“garimpeiros” movimentou R$ 125 milhões em três anos.
A quem interessar possa: A Coalizão Brasil
Clima reúne mais de uma dezena de associações do agronegócio e algumas das
joias do empresariado e associações do agronegócio. Sem que isso signifique
apoio de cada uma dessas empresas à posição vocalizada pela instituição, aqui
vão algumas delas:
Amaggi, Basf, Bayer, Bradesco, BRF,
Brookfield, BTG Pactual, Cargill, Carrefour, Danone, Eucatex, Gerdau, Grupo
Boticário, JBS, Klabin, Nestlé, Santander, Suzano e a Vale.
Siga a música
O maestro Herman Makarenko dirigiu uns
vinte músicos da Orquestra Clássica de Kiev na praça Maidan, a da
Independência, e tocou a Ode à Alegria da Nona sinfonia de Beethoven. Esse
momento de genialidade tornou-se o Hino da Europa. No frio, tocaram com gorros.
A peça exigiria uns 70 músicos, mais um
coral, e valeu mais que uma coluna de tanques.
A cena falou pela alma de um povo. Em julho
de 1991, antes do colapso da União Soviética, o engenheiro cibernético Mikhail
Izumov aconselhava: “Se você quer achar a democracia em São Petersburgo, siga a
música.” Parecia licença poética de um desencantado que durante 33 anos
estivera filiado ao Partido Comunista.
A alguns quarteirões de distância da sala
onde ele dizia isso, ficava o Palácio de Mármore, presenteado por Catarina, a
Grande, ao jovem conde Orloff, um de seus favoritos. Depois da revolução, virou
Museu Lênin. Lá estava o carro de onde ele discursou ao retornar à Rússia, em
abril de 1917, bem como o Rolls Royce do czar que usava no governo. Tinha
cabides para 1.320 sobretudos, mas naquela tarde havia um só visitante.
Em 1991, o museu era parcialmente
sustentado pelos concertos de um grupo de músicos.
BC independente
Em tese, todo mundo aceita a independência
do Banco Central, salvo quando surge um pleito que lhe interessa. Para os
poderosos do momento, a surpresa veio quando quiseram mexer na equipe do
Conselho de Controle de Atividades Financeiras, conhecido como Coaf.
Ele foi do ministério da Justiça para o da
Economia e de lá para o Banco Central.
Banco Central independente, independente é,
ou tenta ser.
Feirão
Descambou a abertura das janelas que
permitem aos parlamentares trocas de partido. Se não surgir algum tipo de
constrangimento, haverá partidos afixando nas suas portas a cotação do dia.
Promessa do gás
O ministro Paulo Guedes tem toda razão
quando diz que a economia brasileira sofre o impacto de uma guerra depois de
ter sido atingida pelo meteoro da pandemia.
Contudo, ele deve moderar o tom das
críticas de quem sugere subsídios para os combustíveis. Afinal, foi o seu chefe
quem prometeu bujões de gás a R$ 35.
Eles passaram dos R$ 100.
Diante dos aumentos, Bolsonaro diz que “eu
não decido nada”. Decidir, podia decidir, mas de qualquer forma, não deveria
ter prometido.
As contas de Lula
Lula deu várias demonstrações de que não
quer partir para uma desforra pelos 580 dias que passou na cadeia.
Parágrafo único: ficam fora desse
esquecimento os membros do Judiciário que lhe impuseram constrangimentos
inexplicáveis e desnecessários.
Eduardo Leite
Talvez o governador Eduardo Leite não tenha
percebido, mas apesar de todas as construções de laboratório, o mais provável é
que ele dispute, com chances, a reeleição para o palácio Piratini.
Recordar é viver
Uma vinheta ilustrativa da pitoresca frieza
a que recorrem os diplomatas profissionais:
No dia 21 de agosto de 1968, o embaixador
brasileiro João Augusto de Araújo Castro estava na presidência do Conselho de
Segurança da ONU e telefonou para seu colega soviético Yakob Malyk,
convocando-o para uma reunião extraordinária.
Qual é a agenda? Perguntou Malik.
Na noite anterior as tropas soviéticas
haviam invadido a Tchecoslováquia.
Covid
A guerra abafou a marca dos 650 mil mortos
de Covid.
Pelo andar da carruagem a marca de 700 mil desgraças será batida durante a campanha eleitoral.
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