Folha de S. Paulo
Entre famílias com renda além de dois
salários mínimos, votação é igual, indica Datafolha
No Brasil inteiro, Lula da Silva (PT) tem
43% dos votos; Jair
Bolsonaro (PL), 26%. No segundo turno, Lula vence por 55% a 34%, dizem
os eleitores ao Datafolha neste início de outono.
No país em que a renda das famílias é maior
do que dois salários mínimos, Bolsonaro empata com Lula no primeiro turno (em
34%) e no segundo também. Entre as famílias que ganham menos de dois salários,
Lula ora vence por 51% a 19% no primeiro turno. Na pesquisa
de dezembro, Lula vencia nesses dois grandes grupos de renda.
Lula ganha em todas as classes de educação
(entre quem estudou até o ensino fundamental, até o médio ou até o superior) e
entre todos os grupos de idade do Datafolha. Ganha entre homens, mais
bolsonaristas, ainda que por margem mais estreita (40% a 31%, no primeiro
turno). Pela margem de erro da pesquisa, pode estar empatado com Bolsonaro nas
regiões Sul e Centro-Oeste/Norte. Mais notável, no entanto, é esse empate nas
classes de renda maior.
Com as manhas da estatística, pela margem de erro, é possível que, no caso extremo, Lula possa estar uns seis pontos à frente de Bolsonaro (e vice-versa). Ainda assim, o contraste entre esses dois grupos de renda (abaixo de dois salários versus acima de dois) é significativo não apenas pela diferença de preferências entre os dois candidatos.
Dois salários mínimos equivalem
a R$ 2.424. É um pouco menos que rendimento médio do trabalho no Brasil, de
R$ 2.755, em janeiro. Essa é a média dos rendimentos individuais declarados ao IBGE
na Pnad,
que inclui desde gente que faz bico a quem emprega pessoas, de empregados
domésticos sem carteira a funcionários públicos, passando por assalariados com
ou sem CLT. Mas, na pesquisa Datafolha, se trata de rendimento familiar.
É possível que algumas pessoas se confundam
com a ideia do que seja rendimento familiar ou não tenham conhecimento preciso
de quanto a família ganha. De qualquer modo, seja a declaração de rendimento
mais ou menos precisa, R$
2.424 significa vida de aperto.
Além de apertada, para continuar no
eufemismo, é uma vida mais difícil pela inflação
de 10% ao ano. O rendimento médio real caiu de um ano para cá, pois a
carestia come o poder de compra de quem já tinha seu salário ou coisa que o
valha e os novos empregos pagam pouco.
Médias, como é óbvio, escondem as histórias
reais. Pode bem ser que entre os satisfeitos com Jair Bolsonaro exista uma
pequena multidão que melhorou de vida, que passou desta para uma menos pior.
Como também deve ser evidente para qualquer pessoa adulta e com sensatez
prática, a situação material do indivíduo está longe de determinar sua opção
política ou pelo menos seu voto.
Então, metade das pessoas com rendimento
familiar maior que dois salários mínimos acredita que, no balanço de seus
interesses e crenças, é melhor votar em Bolsonaro do que em Lula. Sabe-se lá
como cada um faz essa contabilidade, mas, para seu eleitorado, Bolsonaro não
comete faltas desqualificantes o suficiente para que se aceite Lula —e menos
ainda outros candidatos.
A administração da epidemia, os ataques
à vacina (em um país de 75% de vacinados com dose 2), os preconceitos
selvagens, as ameaças
de golpe contra a democracia, o desastre ambiental, o comportamento
indecente, as acusações
de rachadinha,
nada disso supera o conjunto percebido de características negativas de Lula (e,
ainda mais, de outros candidatos, muito distantes na disputa pelos votos). Ou,
numa perspectiva inversa, Bolsonaro tem mais qualidades do que demais
concorrentes, para metade do eleitorado com renda familiar maior que R$ 2.424.
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