Criar ministérios não significa fazer um governo melhor
O Globo
Lula quer agradar grupos específicos e
fazer barganha política, mas deveria se preocupar com uma gestão eficaz
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da
Silva já avisou que aumentará o número de ministérios. Com a experiência de
dois mandatos consecutivos, ele conhece bem as pressões em busca de espaço na
Esplanada e deverá usar as pastas como agrados aos que o apoiaram. Prometeu
recriar o Ministério das Mulheres e o da Cultura, voltar a desmembrar da
Economia os conhecidos ministérios do Planejamento, do Trabalho e da Indústria e
do Comércio, instituir o dos Povos Originários e sabe-se lá mais o quê.
Como toda medida política, criar ministérios envolve custos e benefícios. É fácil medir os custos: trata-se de toda a estrutura de gestão e burocracia atrelada ao novo ministro e à miríade de cargos abaixo dele. A criação de um ministério por si só, contudo, não representa aumento de despesa tão significativo em relação ao Orçamento da União. Se a área justificar uma gestão própria, uma nova pasta pode fazer sentido.
Não é essa, porém, a principal motivação de
Lula. Como nos governos petistas anteriores, as razões são outras. Primeira,
agradar eleitorados que se sentem valorizados apenas por ter uma pasta dedicada
a suas causas (na prática, isso não significa nada, pois é possível executar
uma política pública eficaz sem ministro específico). Segunda, a mais
importante, criar mais cargos para oferecer nas barganhas políticas. Foi assim
que, dos 24 ministérios que recebeu de Fernando Henrique Cardoso em 2002, Lula
entregou 37 à sucessora, Dilma Rousseff.
É frustrante, para quem acha que criar
ministérios facilita a governabilidade, constatar que inexiste relação entre o
número de ministérios e a sustentação política do governo. Fernando Collor
assumiu com apenas 12 pastas e perdeu a faixa presidencial num impeachment, com
16 ministérios. Dilma chegou a ter 39 ministros em 2015, maior gabinete da Nova
República. Um ano depois também foi derrubada pelo Congresso noutro
impeachment.
O presidente Jair Bolsonaro fez campanha em
2018 com a promessa de enxugar a máquina e governar com apenas 15 ministérios.
Era um pretenso aceno de austeridade. Deixou de cumprir a promessa já na
montagem do governo. Na posse, assumiu com 23 ministros. Era categórico: “Um
número elevado de ministérios é ineficiente, não atendendo aos interesses
legítimos da nação. O quadro atual deve ser visto como resultado da forma
perniciosa e corrupta de fazer política”.
Tentou articular-se com o Congresso por
meio de “bancadas temáticas”, sem ninguém ser capaz de explicar direito do que
se tratava. Depois de alguns meses, aproximou-se do Centrão, grupo de partidos
com atuação fisiológica, e cedeu aos parlamentares o orçamento secreto, por
meio do qual apenas neste ano R$ 16,5 bilhões serão transferidos sem
transparência nem critério técnico. Bolsonaro está prestes a deixar o governo
com 23 ministros e só não criou o vigésimo-quarto ministério, da Segurança,
porque não teve tempo.
A diversidade de pastas pode flutuar em
função do programa de governo, da aliança política e das contingências.
Independentemente do figurino ideológico, persistirão os ministérios-chave da
Justiça, da área econômica, das Relações Exteriores, da Casa Civil e de áreas
sociais como Saúde ou Educação. No restante, o mais importante não é o vaivém
de ministérios, mas que a máquina administrativa funcione bem e execute
políticas eficazes. Era com isso que Lula deveria se preocupar.
Geração solar é benéfica para a economia e
para o meio ambiente
O Globo
Desde 2018, painéis fotovoltaicos
octuplicaram e já correspondem a 10% da eletricidade brasileira
A rápida expansão da energia solar no
Brasil tem surtido efeitos benéficos para a economia e a preservação do meio
ambiente. Desde 2018, a potência instalada aumentou oito vezes, chegando a 20
gigawatts em outubro — à frente de gás, biomassa, carvão e energia nuclear.
Cerca de 10% da matriz elétrica brasileira depende hoje do sol, e há, segundo a
Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, potencial para crescer
muito mais. A previsão é que em pouco tempo a geração solar ultrapasse a eólica
e fique atrás apenas da hídrica.
Uma das explicações é que ser verde é
lucrativo. O dínamo da recente transformação são os brasileiros que fizeram
contas e concluíram que painéis fotovoltaicos nos telhados de suas casas ou
empresas representam economia. A queda na conta de luz é imediata. O tempo para
recuperar o capital investido depende de fatores como incidência de sol no
local e número de placas, mas é razoável falar em cinco anos. É como se toda a
energia gerada depois desse prazo fosse grátis. A extensão da vantagem depende
dos equipamentos, que costumam ter garantia bem maior.
O Brasil fez bem ao criar regras para
incentivar a geração limpa. Quando há sol, a energia gerada abastece a
residência ou a empresa, e o excedente é lançado na rede elétrica. Em momentos
de pouco ou nenhum sol, a energia volta para ser consumida.
A Lei 14.300 prevê que quem já gera energia
solar ou passar a gerar até o início de janeiro poderá continuar a usar
gratuitamente a rede elétrica como uma espécie de bateria até 2045. Os
consumidores que investirem em placas fotovoltaicas depois desse prazo pagarão
uma tarifa. Mesmo com a mudança, continuará valendo a pena, mas a vantagem será
menor. É esse incentivo extra que alimenta as previsões de crescimento vigoroso
até o final do ano.
Com o agravamento do aquecimento global, a
matriz elétrica limpa deverá se tornar uma das forças do Brasil para atrair
investimentos no setor industrial. Como a demanda por eletricidade não para de
aumentar e a maior parte dos rios já foi explorada, a participação das
hidrelétricas é decrescente. Cairá de 61% do total para 48% em 2031, segundo
estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Por sorte, o país conta
com vastas áreas propícias à geração solar e eólica, que, juntas, deverão
chegar a 30% em nove anos.
A diversificação das fontes também reduz a
vulnerabilidade do sistema de geração. Com mais painéis fotovoltaicos e
turbinas eólicas, será possível gerenciar melhor os reservatórios de água das
hidrelétricas. As demais fontes de energia — o gás, inclusive — também
continuarão a ter papel relevante para manter a segurança da rede e reduzir o
risco de apagões. Mas sol e vento é que garantirão o carimbo de sustentável à
nossa matriz energética.
Petrobras em foco
Folha de S, Paulo
Investidores temem retrocessos; espera-se
que Lula tenha aprendido com erros
Mesmo com o anúncio pela Petrobras do pagamento de
R$ 43,7 bilhões em dividendos na quinta (3), valor equivalente
a cerca de 11% do valor de mercado da empresa, as ações da estatal tiveram forte
queda no dia seguinte. A desvalorização de mais de 5% destoou do
restante do mercado, que subiu 1,08%.
O mau desempenho decorre de preocupações
com o futuro da maior companhia do país. O temor, não sem fundamento, é que a
nova gestão petista traga retrocessos no bem-sucedido processo de saneamento
financeiro levado a cabo nos últimos anos, que transformou a petroleira numa
das empresas mais lucrativas do setor.
A partir de 2016, a Petrobras passou por
profunda reestruturação de seus processos internos, pagou dívidas originadas
por projetos mal planejados e sujeitos à corrupção, como as refinarias Comperj
e Abreu e Lima, vendeu ativos não prioritários e focou seus investimentos em
exploração e produção, com grande eficiência.
Começou, assim, a bater recordes na geração
de caixa e a distribuir dividendos em volumes jamais vistos. A conjuntura atual
de preços elevados do petróleo viabilizou nos primeiros nove meses de 2022 o
pagamento de R$ 180 bilhões, 77,5% a mais que no ano passado.
A política atual da empresa determina o pagamento
de 60% da geração de caixa operacional, menos investimentos, enquanto o passivo
for menor que US$ 65 bilhões.
Tal padrão de remuneração dos acionistas
—em especial a União, que detém 37% do capital— só é possível porque a dívida
atual, de US$ 54,3 bilhões, é inferior ao resultado operacional anual. Ao final
do governo Dilma Rousseff (PT), é bom não esquecer, a empresa devia o quíntuplo
do resultado anual.
Doravante, as principais incógnitas dizem
respeito à continuidade da disciplina nos empreendimentos e ao potencial uso da
companhia para controlar a inflação. Durante a campanha, afinal, Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) criticou os dividendos, indicou que vai intervir nos preços
e prometeu voltar aos aportes em refinarias.
É natural que o novo governo possa ter
prioridades diferentes e opte por reter mais lucros para investimentos. Mas
qualquer decisão de ampliar aportes em setores como refino e energia limpa
dependerão de uma revisão do planejamento estratégico, algo que só ocorrerá no
ano que vem.
O principal risco é a degradação da
governança interna, que pode novamente abrir espaço para projetos temerários. A
boa notícia é que a empresa está mais blindada a malfeitos. O estatuto atual e
a Lei das Estatais são barreiras importantes. Qualquer interferência na
determinação de preços, por exemplo, traria reação dos acionistas minoritários
nos tribunais.
Espera-se que Lula e o PT tenham aprendido algo com os escândalos da péssima gestão anterior.
A volta dos despejos
Folha de S. Paulo
Decisão do STF torna necessário aprimorar
transição para evitar violência
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo
Tribunal Federal, autorizou a
volta das ações de despejo, que haviam sido proibidas em junho de 2021 devido
à pandemia.
A última prorrogação da medida havia sido
aprovada pelo STF em agosto deste ano, com validade até 31 de outubro. Instado
a decidir por uma nova prorrogação, Barroso negou o pedido.
A decisão vale tanto para ocupações
coletivas quanto para inquilinos individuais. Segundo dados do Insper de
dezembro de 2021, ao menos 20 mil pessoas estavam protegidas pelo julgamento da
corte.
Diante da melhoria dos índices referentes à
pandemia, é correto que se estabeleça a volta do cumprimento das medidas de
liberação de posse. Em especial em despejos individuais, não cabe mais ao
proprietário arcar com o ônus de medidas especiais sem justificativa.
Não obstante, políticas públicas de moradia
são necessárias para diminuir o alto déficit habitacional no país: mais da
metade da população vive em condições inadequadas de moradia, e 52%, segundo
dados de 2019, pagam aluguel acima de 30% de sua renda.
Sem políticas efetivas, a situação já
precarizada durante a pandemia, com a criação de favelas de desabrigados,
perdurará.
Vale a pena definir regras mais claras de
transição. Em desocupações coletivas, Barroso exige a criação de comissões de
mediação no âmbito dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais.
Falta esclarecer se tais comissões se referem aos órgãos internos de mediação
já em atuação ou a outros que devem ser criados.
Mecanismos para evitar conflitos violentos
devem ser fortalecidos. Na Câmara dos Deputados, está em debate um projeto que,
além de apresentar legalidade duvidosa, aumenta as tensões fundiárias,
já que autoriza o uso da polícia em desocupações sem ordem judicial.
A questão não é menor. Estimativas de
movimentos sociais apontam que pelo menos 188 mil famílias podem ficar sem
moradia com a liberação de despejos e remoções.
Cabe ao poder público fornecer soluções de
habitação e acolhimento dos desabrigados. Ao Judiciário, cumpre aprimorar
instrumentos de mediação que, de um lado, garantam o justo gozo da propriedade
e, de outro, não gerem violência pelo uso excessivo da força policial.
É possível progredir sem degradar
O Estado de S. Paulo
Propostas como a da rede Uma Concertação pela Amazônia, que defende conciliar preservação ambiental e desenvolvimento econômico, devem ser apoiadas pela sociedade
O Brasil tem pela frente um desafio urgente
e gigantesco: preservar a Amazônia ao mesmo tempo que promove o desenvolvimento
econômico da região, melhorando as condições de vida das populações locais e
além. A tarefa demanda iniciativas nas mais variadas áreas e se desdobra em uma
infinidade de ações. Tudo sob a sombra da escalada das mudanças climáticas e do
desmonte das políticas de proteção ambiental no governo de Jair Bolsonaro. Por isso,
são especialmente importantes iniciativas como a da rede Uma Concertação pela
Amazônia, que formulou um modelo de governança que incentive as atividades
econômicas que valorizem a floresta em pé.
A ideia da rede, apresentada em parceria
com o Estadão e com a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade
(Raps) no dia 26 de outubro, é subsidiar autoridades e governos nos inadiáveis
debates sobre como preservar a Amazônia sem deixar de explorar suas riquezas.
O documento, que pode ser consultado no
site concertacaoamazonia.com.br,
faz propostas para os cem primeiros dias de atuação do próximo governo federal,
bem como dos futuros governadores e do Congresso Nacional. Não por acaso, o
título do documento − 100 primeiros dias de governo: propostas para uma agenda
integrada das Amazônias − se refere à Amazônia no plural. A maior floresta
tropical do planeta contém realidades e desafios de toda ordem. A face mais
visível do problema, que aparece nas fotos de satélite para o mundo todo, é a
devastação ambiental que se acelerou nos últimos anos até mesmo em terras
indígenas e em unidades de conservação. A região convive também com alguns dos
piores indicadores socioeconômicos do País.
Para fazer frente a tal situação, o
documento defende um novo modelo de governança. Propõe, entre 14 sugestões, a
criação de uma Secretaria de Estado de Emergências Climáticas vinculada à
Presidência da República. Seria um gesto simbólico significativo para
demonstrar preocupação efetiva com o tema, maltratado no atual governo.
O alcance do projeto pode ser aferido pela
diversidade de especialistas que participaram dos debates. Além do meio
ambiente, trabalharam pesquisadores de educação, saúde e segurança pública,
além de políticos, incluindo dois ex-governadores, e representantes do
Ministério Público e do terceiro setor. Quase todos constataram que o Estado
brasileiro deve se fazer mais presente na região, como condição indispensável
para a implementação de qualquer projeto de desenvolvimento.
Como bem descreveu o pesquisador e
cofundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) Beto
Verissimo, a Amazônia tem hoje, sob o ponto de vista ambiental, áreas já quase
inteiramente desmatadas, outras sob pressão de pecuaristas, onde a floresta
cede terreno a pastagens e onde há a presença do crime organizado, e, por fim,
territórios com cobertura nativa preservada. Logo, é de esperar que as
estratégias adotadas pelo poder público variem conforme cada cenário, mesclando
ações de reflorestamento, de regularização fundiária, de fiscalização e de
incentivo a atividades que tirem proveito do potencial econômico da floresta,
sem derrubá-la. Uma sugestão de Verissimo e de outros participantes demanda
mais investimentos em internet. Ou seja: tão ou mais importantes que as
estradas de rodagem são as infovias para conectar as populações amazônicas às
possibilidades da economia digital, da telemedicina e da educação.
No que diz respeito à violência, o
diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de
Lima, apontou o baixo número de delegados e peritos nas polícias civis dos
Estados amazônicos como entrave para o efetivo combate à criminalidade. Já a
presidente do Instituto Igarapé, Ilona Szabó, destacou que os crimes ambientais
fazem parte de um ecossistema de ilegalidades e violações com tentáculos dentro
e fora da floresta.
Ou seja, não se pode pensar em preservar a
Amazônia sem considerar que a floresta afeta regiões do País e do mundo bem
distantes dela. E, sobretudo, não se pode planejar ações de defesa daquele
bioma se as iniciativas de preservação ambiental continuarem a ser vistas como
obstáculo ao desenvolvimento. Como mostra a rede Uma Concertação pela Amazônia,
progresso e preservação não são excludentes.
O País precisa de uma indústria forte
O Estado de S. Paulo
Um mundo em rápidas mudanças e mais exigente em termos ambientais e sociais torna mais complexa a tarefa do próximo governo num setor vital para o desenvolvimento do Brasil
Com crescimento de 2,2%, a indústria puxou
a expansão de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo
trimestre deste ano, na comparação com os três meses anteriores. Esse
desempenho da economia brasileira foi celebrado pelo governo, que viu nele o
fim dos problemas decorrentes da pandemia de covid-19 e a retomada do
crescimento acelerado. Para o setor industrial poderia significar a recuperação
gradual de seu papel impulsionador e transformador da economia que desempenhou
no século passado, mas que vem perdendo há algumas décadas. A realidade, no
entanto, como ocorre muitas vezes, é menos brilhante do que desejaríamos. E é
essa a realidade que aguarda o futuro governo.
Mesmo que cresça 2,7% neste ano e se
mantenha entre as dez maiores do mundo, a economia brasileira terá expansão
menor do que a da economia mundial. E as projeções para 2023 são de
desaceleração acentuada da atividade econômica. Quanto à indústria, o bom
desempenho observado no primeiro semestre do ano, além de insuficiente para recolocá-la
no lugar que ocupou no passado recente da economia brasileira, não está
assegurado no futuro. Esse é o lado mais preocupante, e que merece atenção
especial do governo que tomará posse em 1.º de janeiro de 2023.
A indústria de transformação continua tendo
papel vital nas mudanças pelas quais passa o sistema produtivo, estimulando a
geração e a disseminação de novas técnicas e novos métodos. Ela gera também
empregos em geral mais bem remunerados do que os de outros setores e induz a
melhoria dos sistemas de ensino na medida em que eleva o grau de exigência do
preparo da mão de obra que ocupa.
Mesmo perdendo gradualmente sua
participação no PIB à medida que os países crescem e se desenvolvem, com a
expansão de outros segmentos, como de serviços, a indústria mantém seu papel
modernizador. No Brasil, porém, o declínio da indústria em relação a outros
setores começou antes de o País ter alcançado o desenvolvimento atingido por
outras economias. E a queda se observa também em nível internacional.
O Brasil vem perdendo posição entre os
maiores produtores industriais do mundo há quase três décadas. Na última
classificação feita pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Industrial (Unido), a indústria brasileira ficou em 15.º lugar, respondendo por
1,28% da produção mundial em 2021. Em 1996, respondia por 2,55%.
Os últimos anos têm sido caracterizados por
mudanças profundas nos processos de produção e comercialização, com a chamada
quarta revolução industrial. A automação que marcou a fase anterior continua
importante, mas agora está acompanhada de outros elementos, como robótica,
inteligência artificial, interconexão, novas formas de organização da produção
e novas formas de negócio.
O impacto sobre o trabalho está sendo
notável. A redução das tarefas repetitivas e manuais está exigindo
crescentemente trabalhadores multifuncionais e com conhecimento técnico
diversificado. E surgem também novas especializações profissionais. Tudo isso
ocorre num mundo em que as exigências quanto a questões como meio ambiente,
impactos sociais e governança se intensificam. Energia sustentável é um dos
símbolos desse novo modelo de produção.
É preciso, porém, que o presidente eleito
comece a dedicar atenção a essas questões com presteza.
Reforma tributária que simplifique e
estimule a atividade produtiva; investimentos em inovação, ciência e
tecnologia; capacitação de mão de obra; eficiência energética com respeito ao
meio ambiente; provimento de infraestrutura adequada de transporte e logística;
aperfeiçoamento da legislação trabalhista onde necessário, mas sem ferir
direitos, estão entre os temas frequentemente citados por dirigentes da
indústria como prioritários. Eles compõem um roteiro que o futuro governo terá
de entender se estiver preocupado com o futuro da indústria e da economia
brasileira.
Estrangeiros apostam no Brasil
O Estado de S. Paulo
Bom momento é recado de que credibilidade da política fiscal é essencial para atrair investimentos
A atratividade do Brasil para Investimentos
Estrangeiros Diretos (IEDs) está crescendo. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
nos dois primeiros trimestres o Brasil foi o terceiro país que mais atraiu
IEDs, depois de EUA e China. Mesmo com uma desaceleração global no segundo
trimestre, o País manteve um bom ritmo. A Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) estima
que os fluxos entre janeiro e setembro atingiram US$ 66 bilhões, 31% a mais do
que o total investido em 2021. No ano passado, o Brasil ficou na sétima posição
entre os países que mais receberam IEDs. Agora, a Unctad estima que deve fechar
o ano no grupo dos cinco países mais atraentes.
São indicadores importantes, porque o IED
se destina a ampliar a produção das empresas, refletindo um interesse duradouro
por parte dos investidores. Por isso é também chamado investimento produtivo.
Segundo o Banco Mundial, é o melhor tipo de investimento para gerar empregos,
desenvolver infraestrutura e transferir tecnologias.
O bom posicionamento do Brasil pode ser
explicado por fatores internos e externos. O País foi um dos primeiros a reagir
à alta inflacionária mundial, antecipando-se no aumento da taxa de juros, agora
estabilizada. Além disso, está, comparativamente, superando as expectativas em
relação ao crescimento e à política fiscal. O Brasil está distante das zonas de
riscos geopolíticos (como a disputa EUA e China e a guerra da Ucrânia), e, em
meio a eles, as principais economias mundiais enfrentam perspectivas de
recessão, com dificuldades em conter a inflação via aceleração das taxas de
juros.
Países que disputam capital estrangeiro com
o Brasil estão menos atraentes. A Rússia, por exemplo, está sob pressão
internacional por sua guerra criminosa contra a Ucrânia. A inflação está
degradando a economia argentina, enquanto o governo faz manobras temerárias na
negociação da dívida com o FMI. As políticas econômicas da Turquia têm se
mostrado erráticas.
Nestas circunstâncias, o Brasil se
beneficia por oferecer ativos com valores atraentes, especialmente na área de
commodities. Mas não só. Segundo a Unctad, a entrada de IED se destinou
principalmente ao agronegócio, mas também ao setor automotivo, fabricação de
eletrônicos, tecnologia da informação e serviços financeiros. A agência aponta
que os fluxos têm sido impulsionados, sobretudo, por altos reinvestimentos de
ganhos das multinacionais, além de empréstimos de matrizes a filiais no País. A
Unctad sugere ainda que a privatização do setor elétrico deve continuar sendo
um dos principais canais para o IED no Brasil.
O bom momento não deveria implicar acomodação. Ao contrário, é preciso aproveitá-lo para sinalizar aos investidores medidas para ampliar ainda mais a credibilidade, principalmente com uma reforma administrativa que elimine privilégios do funcionalismo e ajude a estabelecer níveis sustentáveis para a dívida pública e uma reforma tributária que racionalize mecanismos de taxação e elimine distorções regressivas.
Espera-se responsabilidade fiscal já na
fase de transição
Valor Econômico
Em uma eleição, o vitorioso é escolhido com
a missão de fazer escolhas - e estas dependem das condições das contas públicas
Vencido o segundo turno, o presidente
eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apressou-se para tomar algumas
providências práticas. Geraldo Alckmin (PSB), seu vice, foi escalado para
comandar o processo de transição. E representantes de sua chapa logo realizaram
as primeiras reuniões com autoridades dos três Poderes para tratar do assunto.
É assim que instituições republicanas
trabalham no mundo todo, quando há alternância no poder. Destas reuniões,
entretanto, já surgiram informações que merecem reflexão: a principal delas é a
notícia segundo a qual o governo eleito pretende aprovar, ainda neste ano, uma
proposta de emenda constitucional (PEC) visando “excepcionalizar” da regra do
teto de gastos despesas adicionais consideradas “inadiáveis”.
Logo batizada de “PEC da Transição”, a
proposta viabilizaria, por exemplo, a manutenção em R$ 600 mensais do Auxílio
Brasil, que deve voltar a se chamar Bolsa Família. Só essa medida demandaria R$
52 bilhões.
No entanto, conforme detalhou o Valor na semana passada,
além da exceção para o auxílio, a PEC poderia ainda tirar do teto R$ 18 bilhões
para o pagamento de R$ 150 adicionais a famílias com crianças de até seis anos;
um montante suficiente para custear um reajuste do salário mínimo que leve em
conta a média do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos cinco anos
anteriores, que ficaria entre 1,3% e 1,4%; verbas para a merenda escolar e a
Farmácia Popular; e retomada de obras paradas, além de até R$ 14 bilhões
necessários para completar o piso para a saúde.
Para tanto, uma articulação foi feita com o
relator da peça orçamentária de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI). Segundo
ele, a proposta enviada pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) ao Congresso em
agosto apresenta várias deficiências. Em outras palavras, existiria a
necessidade de um espaço fiscal de mais de pelo menos R$ 100 bilhões fora do
teto de gastos. Mas há quem cite a cifra de R$ 200 bilhões.
Está aí um problema. Além disso, a chamada
PEC da Transição imediatamente começou a ser objeto de críticas até mesmo entre
aliados do presidente eleito.
Em outra frente, o presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), fez algumas ponderações durante uma entrevista à
GloboNews na sexta-feira. E defendeu que o governo eleito apresente uma medida
provisória para garantir a manutenção do Bolsa Família em R$ 600 a partir de
janeiro do ano que vem, em vez da PEC. Essa MP, argumentou, poderia, por
exemplo, servir para garantir a abertura do crédito extraordinário necessário
ao custeio do programa de transferência de renda. Por outro lado, ele
recomendou que Lula e sua equipe se certifiquem de que há “segurança jurídica”
para adotar esse mecanismo.
Isso já estava sendo feito. Na
quinta-feira, representantes da equipe de transição estabelecida por Lula
consultaram o Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a possibilidade de o
órgão emitir um parecer avalizando a abertura de crédito extraordinário para
financiar a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 no ano que vem.
De acordo com a legislação vigente, os
créditos extraordinários são abertos sempre visando atender a despesas
imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou
calamidade pública. Têm efeito imediato e, por serem feitos por meio de medidas
provisórias, precisam de menos votos para serem aprovados posteriormente pelo
Legislativo. Mas possivelmente teriam um alcance mais limitado - e menos
permanente - do que uma PEC.
É compreensível que o governo eleito tente
incluir no Orçamento do ano que vem alguns dos gastos decorrentes das promessas
feitas durante a campanha eleitoral. Afinal, qualquer administração tenta
afastar de si o risco de ser acusada de praticar “estelionato eleitoral”.
Ademais, autoridades do PT buscam uma solução capaz de afastar questionamentos
futuros sobre a solidez jurídica do instrumento utilizado.
Deve-se observar, contudo, que a situação fiscal do país não recomenda o estabelecimento de gastos permanentes fora do teto. Em uma eleição, o vitorioso é escolhido com a missão de fazer escolhas - e estas dependem das condições das contas públicas. A responsabilidade fiscal deve ter início já no período de transição.
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