O Estado de S. Paulo
A vigilância sobre o governo Lula precisará
ser mais inteligente que o choro dos derrotados
Quem assume o lado de uma patota contra a
outra vai perdendo a capacidade de distinguir os fatos de cada episódio e as
narrativas genéricas sobre múltiplos episódios, usadas para eximir seu lado de
responsabilidades e lançar todas elas sobre terceiros.
A propaganda populista do “nós” contra
“eles” elimina as nuances do mundo real para radicalizar pessoas em torno do
ódio aos alegados inimigos, com a agravante contemporânea de que elas passam a
viver em bolhas de redes sociais, repletas de propagandistas da guerra tribal,
fazendo fortunas como mercadores do caos.
Os esforços de ativar em mentes fanatizadas algum discernimento esbarram, com frequência, na rejeição ao abandono da sensação de pertencer a uma tribo, na impressão de que qualquer socorro é uma tentativa de cooptação por parte da tribo rival e no pavor da humilhação de admitir que elas vinham sendo manipuladas.
”Nunca odeie seus inimigos, isso atrapalha
seu raciocínio”, ensinava Michael Corleone em O Poderoso Chefão III, três
décadas antes de grupos bolsonaristas revoltados com a vitória de Lula terem bloqueado estradas, prejudicando apenas
compatriotas que não contam com o jatinho particular usado pelo petista para
pousar em aeroporto privado de Trancoso, no sul da Bahia, onde foi descansar
após a campanha.
Ninguém precisa compactuar com Lula e sua
impunidade, para repudiar os expedientes de aloprados que, vestindo as cores da
pátria, julgam-se patriotas. Antes da eleição, eles acusaram rádios nordestinas
de prejudicar Jair Bolsonaro, até o acusador inicial, Fábio Faria, dizer-se arrependido. Depois,
apelaram a uma narrativa seletiva contra o mesmo sistema eletrônico que elegeu
parlamentares e governadores aliados do presidente.
O método bolsonarista consiste em seis
etapas:
1) Criar factoide para acobertar suas
culpas;
2) Cobrar posicionamentos sobre o factoide;
3) Usar factoide para atacar instituições;
4) Posar de vítima das reações
institucionais;
5) Defender a liberdade (de criar
factoides);
6) Mobilizar massas de manobra na defesa.
Depois, claro, xinga-se quem descreve o
método, hostilizando-se a imprensa por não reconhecer sua legitimidade.
Eu, Felipe, até reconheço a criatividade do
bolsonarismo em sua briga permanente com a realidade, mas, como a vigilância
sobre o governo Lula precisará ser mais inteligente que o choro dos derrotados,
adapto aqui a lição de Corleone: nunca odeie populistas; odiar um deles torna
você mais suscetível à manipulação e à estupidez do outro.
2 comentários:
Uma imensidão de 58 milhões de aguerridos oponentes? Achas pouco? Deves. estar brincando….
Será que o jornalista votou no PT?
Eu acho que não,deve ter votado em branco.
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