Folha de S. Paulo
Instituição diz que pensa em manter Selic
alta até o final do ano, risco para 2024
Até o começo de novembro, donos do dinheiro
e seus economistas imaginavam que a taxa básica de juros da economia, a Selic, cairia
para 11,25% ao ano no final deste 2023. Ainda seria ruim. Mas piorou. Agora, a
mediana das projeções dos economistas da praça é de Selic a 12,5% ao fim do
ano. Vai piorar de novo.
O Banco Central acha que 12,50% é pouco. Dada a presente situação e em uma conta na ponta do lápis, dificilmente a Selic sai dos atuais 13,75% antes do final do ano, quem sabe com um chorinho de corte de 0,25 ponto percentual pouco antes do Natal. Foi o que a direção do BC praticamente escreveu no comunicado em que divulgou sua decisão sobre a taxa básica, nesta quarta-feira, mantida em 13,75%.
E daí? A Selic é a taxa de juros no
atacadão de dinheiro, negócios entre bancos, grosso modo. É o piso das taxas do
mercado inteiro. Selic a 13,75% já vai derrubar o PIBinho deste 2023. Se ficar
por aí até o final do ano, o PIB de 2024 pode ir para o vinagre também.
Vai acontecer? Não está escrito em pedra.
Mas está difícil.
Dada a presente situação e nas contas do
BC, a inflação apenas vai para perto da meta no terceiro trimestre de 2024 com
a Selic em 13,75% ou perto disso.
O que é a "presente situação"?
Expectativa de inflação para 2023 acima de 5% desde meados de outubro e subindo
desde meados de dezembro, ora em 5,74%. Sobe também para 2024, para 3,9%. A
meta para o ano que vem é de 3%.
Isso não quer dizer que a centena de
estimativas de economistas da praça compiladas semanalmente pelo BC esteja
certa (em geral, está bem errada). Mas essas são também as contas que "o
mercado" faz para decidir quanto quer de juros e quanto quer de câmbio (o
preço para manter seus haveres em reais).
Em um resumo prático, a mudança da
"presente situação" depende agora e primordialmente do
plano do governo Lula para conter o aumento ora sem limite da dívida pública e
de não se passar a intervenções malucas na economia (em juros ou meta de
inflação, importação de maluquices da Argentina).
Uma "nova regra fiscal" dura e
crível resolve boa parte do problema. Uma reforma tributária boa (como a que já
está alinhavada) azeita a máquina.
Uma desinflação mais rápida no mundo rico,
com queda de juros por lá e, pois, valorização do real melhora a perspectiva de
inflação aqui também (desde que não ocorram choques de commodities).
Lula vem fazendo gols contra a economia
desde novembro, com as caneladas na ideia de limitar a dívida e com o Orçamento
gordo além da conta (déficit maior). Até outubro, porém, havia relativo
otimismo e juros de mercado em queda (tanto que o BC tentava segurar no grito a
baixa das taxas no atacadão).
Qual o motivo do ânimo? Imaginava-se que
Lula 3 faria o essencial e inevitável, por ora, na política macroeconômica
(gastos e dívida); chutava-se que a economia brasileira teria capacidade de
crescer rotineiramente mais do que o imaginado até o início de 2022; há
investimento privado engatilhado (e a engatilhar, se as normas e garantias
forem boas; se vier "transição verde" bem pensada).
Pelo menos em 2023 e 2024, sem inventar
moda e com a ajuda de uma economia mundial pouco deprimida, teria sido possível
surfar nessa onda de otimismos até razoáveis.
Ainda dá para virar o jogo, embora o saldo
de gols vá ser, de qualquer modo, menor (meio ano está perdido, já).
O problema é que ainda dá para perder de muito também, inclusive no jogo de 2024. O país não vai aguentar, pois a pobreza está grande e os monstros da extrema direita e do golpe estão soltos.
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