Folha de S. Paulo
A engrenagem da democracia representativa
está de volta aos eixos
A eleição que reconduziu à presidência do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por 49 a 32,
contra o ex-ministro bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN), foi marcada por uma série de
simbolismos típicos ao centrismo: o apelo genérico à união e à conciliação, a
neutralização de traições em suas bases com cargos, a fala mansa e o tapinha
nas costas no plenário, e o apoio formal, mas equidistante, do presidente da
República.
A engrenagem da democracia representativa está de volta aos eixos quando morremos de tédio ao escutar um discurso. "Pacificação é abandonar o discurso de nós contra eles", disse Pacheco de forma pausada e nem um pouco excitante. Em tempos de vidros estilhaçados, o tédio na voz de Pacheco soa tão bem como um Mahler. Em um dos poucos momentos altos de seu discurso, criticou ataques golpistas ao Parlamento e reforçou a posição de independência do Senado.
Nesta quarta-feira (1º), Pacheco cristalizou
o que já se suspeitava: o protagonismo tímido (com o perdão do oximoro) do
senador mineiro advém de sua capacidade de comer quieto pelas bordas do
centrismo contra a estridência da extrema direita. Se eleito, Marinho, mesmo
sabendo ao menos as regras institucionais do jogo político (o que na democracia
significa saber usar talheres), teria utilizado as vias institucionais para
deturpá-las: quiçá promovendo censura contra a independência do Judiciário e o
que defende ser a hipertrofia da toga.
Pacheco descobriu que sua relevância
política advém da concertação mais ampla, não das trincheiras do seu partido
político, dentro do qual figuraram traições contra ele. A eleição de Pacheco é
mais uma vitória do centrismo contra a extrema direita bolsonarista do que um
triunfo do governo Lula; por si, sua eleição já é um bálsamo em terras
arrasadas por golpistas, no entanto. Torná-la uma vitória de progressistas,
caso alguém ainda se preocupe com isso, requer vigiar contra outra esfera do
centrismo: sua paralisia em mudar o país.
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