O Estado de S. Paulo
No campeonato mundial entre os BCs, o Brasil fica com a taça do que pratica as taxas mais elevadas
Não é apenas o Brasil que vem batalhando para
reduzir a inflação à custa de taxas reais de juros elevadas. O curioso é que
até o início de 2020 vivíamos a situação oposta. Havia, entre os países
desenvolvidos, o fenômeno que Larry Summers chamou de estagnação secular, em
que o aumento da longevidade, proporcionada pelos progressos nos campos médico
e sanitário, elevou em tal intensidade a poupança dos mais jovens que chegamos
a um quadro de insuficiência da demanda agregada, de baixo crescimento
econômico e de taxas reais de juros muito baixas.
A pandemia mudou radicalmente este quadro. Após um período de pouco mais de um ano, no qual o afastamento social gerou um adicional “excesso de poupanças”, impedindo que os enormes estímulos fiscais e monetários expandissem rapidamente a demanda agregada, ocorreu o inevitável superaquecimento das economias, que elevou as taxas de inflação. Os bancos centrais ao redor do mundo tiveram de colocar as políticas monetárias em território restritivo, mas na dosagem do remédio estão sendo obrigados a levar em conta que os juros neutros não são mais baixos, e determinados predominantemente pela transição demográfica, e sim altos, devido à política fiscal expansionista.
No campeonato mundial, que vem sendo
disputado entre os bancos centrais ao redor do mundo, o Brasil fica com a taça
do que pratica as taxas de juros mais elevadas. Mas deve essa “vitória” à
política fiscal, que é a causa do nível elevado da taxa real de juros de
equilíbrio. No Brasil também há uma transição demográfica, que eleva as
poupanças dos mais jovens, mas quem determina a taxa neutra de juros é o
governo, que não abdica de elevar os gastos na busca do maior crescimento do
PIB.
Com isso, o Banco Central tem um dilema: ou
mantém a taxa de juros mais alta por mais tempo, e entrega a inflação na meta,
ou limita seu aumento, contentando-se em atingir uma meta implícita de inflação
superior à que foi fixada pelo governo. No passado já vivemos esse problema,
quando em 2011 o Banco Central trabalhou com uma meta implícita superior ao
centro do intervalo determinado pelo CMN. Naquele período, a política fiscal
também era expansionista e, como era previsível, a inflação cresceu obrigando a
que, mais tarde, ocorresse uma elevação da taxa de juros de tal intensidade que
provocou uma recessão.
Se não conseguimos aprender com a história
dos demais países, que reconhecem os limites que a política fiscal impõe à
política monetária, pelo menos poderíamos aprender com a nossa própria
história, evitando repetir os erros do passado.
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