quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Vera Magalhães - Na educação, alívio pelo 'menos pior'

O Globo

Governo Lula resgatou o MEC, mas ainda não apresentou projeto educacional capaz de alavancar o país

A situação da educação brasileira é tão grave que todo mundo respirou aliviado quando o resultado do Pisa de 2022 nos colocou numa situação “estável”, ainda que na rabeira do ranking em matemática, ciências e leitura. É desolador ver um país em que as expectativas foram tão rebaixadas, e as saídas vislumbradas diante de duas décadas perdidas são tão pobres e vagas.

Sim, o caos do Ministério da Educação sob Jair Bolsonaro, conjugado com uma pandemia, poderia ter causado resultados ainda mais desoladores. Sim, países mais desenvolvidos que vinham melhor no próprio Pisa parecem ter sofrido mais com a interrupção das aulas na emergência sanitária.

Mas o problema grave é que nós temos muito menos perspectiva de galgar posições nesse ranking e de sair da situação em que os estudantes brasileiros não conseguem responder a questões básicas nas três áreas de aprendizagem do que essas nações que levaram um tombo pandêmico. Aí vemos que o copo nunca chegou a estar meio cheio.

O MEC no primeiro ano de Lula 3 andou aquém da velocidade que tanto nosso atraso de décadas quanto o caos bolsonarista exigiam. Isso se torna ainda mais notável quando se sabe que o ministro Camilo Santana e sua número dois, Izolda Cela, chegaram a Brasília munidos da experiência bem-sucedida de Sobral e do Ceará.

O Pisa radiografa o estado do fim do ensino fundamental. Pois esses alunos, que arrastaram deficiências crônicas de antes mesmo da pandemia, ingressarão num ensino médio em que o governo deixou para mexer na última hora, depois de uma consulta pública que se estendeu demais, cujo resultado nem foi acatado na íntegra.

Cabia ao MEC ter ao menos uma diretriz sobre o que pretendia fazer já desde a transição, fazer uma consulta nos primeiros meses e enviar a “reforma da reforma” quanto antes, para que o Congresso e as redes de ensino pudessem discutir a tempo e se preparar para implementar (mais) mudanças.

Na ampliação do ensino de tempo integral, grande bandeira de Lula e, como mostram evidências, medida capaz de mudar a realidade da educação de forma estrutural, se andou a passos de tartaruga.

— A lua de mel “estamos reconstruindo” já acabou, ou deveria ter acabado — disse à coluna Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação.

Ela lembra que a execução dos programas está baixa, e as agendas urgentes e difíceis são deixadas de lado, como a universalização da educação infantil (creche e pré-escola) e a ênfase na melhora da formação de docentes, com o fim do que chama de “farra” do ensino à distância.

Não bastasse essa falta de empuxo do MEC, o Congresso conservador avança com pautas que, se imaginava, morreriam com a derrota de Bolsonaro, como a discussão do Projeto de Lei que regulamenta o homeschooling, que terminará o ano pronto para ser votado no Senado. Especialistas vêm alertando, no Brasil e no mundo, sobre o perigo de aumento de violência contra crianças e jovens, além dos riscos para a formação desses estudantes, inerentes ao ensino domiciliar.

Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, ONG que atua na prevenção e combate à violência sexual contra crianças, aponta aumento nos indicadores de agressões e o fato de esses crimes contra vulneráveis serem praticados, na grande maioria, em casa e por pessoas da família. A escola, diante desse quadro, funciona como “lugar de proteção”.

É um cenário desanimador o da educação brasileira. O governo ainda não mostrou um projeto integrado, capaz de galvanizar os esforços de todos — estados, municípios, empresas e sociedade — em torno do objetivo comum de deixar as últimas posições em aprendizagem e almejar uma revolução como a que outros países, como os asiáticos, praticaram. Sem isso, nosso destino será sempre comemorar quando não vier o pior, como no Pisa.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

■■■Seria impossível passar pela situação de ter TODAS as escolas fechadas e com os estudantes em casa, como foi durante a pandemia de COVID, e os conceitos de avaliação do PISA não desabarem no mundo todo, como desabaram.

Naquela situação de pandemia mundial os conceitos de avaliação do ensino só não desabariam se não houvesse mais o que cair e se ir ou não ir à escola não estivesse fazendo a menor diferença.

■O conceito baixíssimo dos estudantes brasileiros NÃO desabou!

Impossível que não desabasse, se as escolas ficaram a maior parte desse tempo fechada.

■■Então o que aconteceu?

=》Não dá para ficarmos nos enganando::
■Se durante a Pandemia de Covid
as escolas ficaram todas fechadas e o conceito do Brasil no PISA, ao contrário do que aconteceu nos países com boa qualidade de educação, NÃO DESABOU, isto nos diz que com os professores, o material escolar e a pedagogia que é aplicada no Brasil, IR OU NÃO IR à escola que temos não está fazendo a menor diferença.

E eu estou para dizer que se avaliassem o desempenho de alunos de curso superior esta realidade se repetiria e iria mostrar que não está fazendo também muita diferença ir ou não ir à universidade, com os professores que lá estão.

Estamos pagando professores e gastando dinheiro com o funcionamento do MEC à toa.

É preciso gastar o que o Brasil vem gastando, 6% do PIB, que é mais do que gastam Coreia do Sul e Austrália, mas não dá para ficar fazendo este gasto à toa, jogando dinheiro fora.
■É preciso avaliar a sério e anualmente a qualidade do ensino e, se for verificada insuficiência grave, DEMITIR professores e demais profissionais, mesmo se concursados.

A educação tem que ser tratada em favor do aluno, que paga pela educação recolhendo impostos, e não ser tratada para proteger professores que não ensinam.

ADEMAR AMANCIO disse...

Exatamente.