sábado, 23 de março de 2024

Dora Kramer - Questão de estilo

Folha de S. Paulo

Nísia e Lewandowski não se encaixam nos perfis ideais aos cargos que ocupam

Na turbulência que assola o Ministério da Saúde, o presidente da República acerta em dois pontos: na resistência em ceder às pressões para abrir a pasta ao balcão de negócios e nas cobranças que faz por melhoria no desempenho.

Luiz Inácio da Silva deu respaldo a Nísia Trindade contra o apetite de governistas e oposicionistas que pretendem derrubar a ministra para tomar posse da poderosa estrutura. Isso não a exime de fazer frente à cobrança de Lula.

Nísia fica, mas vai precisar corresponder. Profissional competente, como demonstrou no comando da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) durante a pandemia, talvez ela não tenha os atributos exigidos ao cargo para o qual foi nomeada com a melhor intenção de virar a chave do desmazelo do governo anterior.

Não conhece, nem é de sua seara, os meandros da malandragem de certos congressistas e não se enquadra no perfil do enfrentamento bruto necessário, por exemplo, no caso dos hospitais federais do Rio de Janeiro, dominados por máfias políticas há anos, entra governo, sai governo.

Por que exigir de uma pessoa o que ela não pode dar, não por defeito, mas por estilo e natureza? Assim se expõe a risco desnecessário uma carreira exitosa.

Nesse campo da inadequação de atributos pessoais às exigências do ofício também se inscreve Ricardo Lewandowski. Ele tem pouco tempo à frente do Ministério da Justiça neste momento de urgência na segurança pública, mas já se evidencia a desarmonia entre o feitio do ministro e os requisitos ao cargo.

Ficou patente o desacerto dele ao anunciar a homologação de uma delação premiada pelo Supremo, como se fosse um feito do governo. A tentativa tampouco deu certo na fala sobre o "êxito" na busca até então sem resultados dos fugitivos de Mossoró (RN).

Não se transformam as pessoas naquilo que não são. Cabe ao presidente combinar os atributos dos escolhidos às funções a serem exercidas.

 

2 comentários:

Daniel disse...

Vejo muita lógica no texto da colunista. Nisia pode ter sido excelente comandante duma fundação com pouco influência política, mas liderar um ministério gigantesco e complexo como o da Saúde, com tremendas influências políticas e estaduais, é muito diferente e mais difícil. Não basta boa vontade ou conhecimento e experiência de pesquisa.
O mesmo se aplica a Lewandowski, como afirma a colunista, que pode ter sido um juiz correto do STF e de outros órgãos, mas não parece um político adaptado aos diferentes papéis desempenhados pelo ministro da Justiça. O mesmo aconteceu com Moro, que embora fosse corrupto e politiqueiro, era visto com algum respeito como membro do Judiciário, mas foi uma completa nulidade como ministro do DESgoverno Bolsonaro. Saiu acusando seu chefe sem provas, e em pouco tempo voltou a apoiá-lo novamente, demonstrando novamente não ter vergonha na cara, mas tendo apenas enormes ambições políticas.

ADEMAR AMANCIO disse...

Exatamente,boa como cientista,mas não pra fazer política.