Correio Braziliense (22.3.2024)
Também não faltam pesquisas com dados que
ajudam nessa reflexão. Para tanto, destaco a seguir aspectos de duas, cujos
resultados foram divulgados em 2023
Há alguns anos,
analistas têm procurado entender as novas bases da comunicação em tempos de
redes sociais. Também não faltam pesquisas com dados que ajudam nessa reflexão.
Para tanto, destaco a seguir aspectos de duas, cujos resultados foram
divulgados em 2023.
A primeira em julho, da empresa YouGov, referência internacional em pesquisas de mercado on-line, que apresentou um estudo com avaliação sobre o perfil de consumo de notícias pela população brasileira. O resultado mostra que 64,2% acessam a TV, enquanto 55,4% escolhem as redes sociais. Já o rádio é a fonte para 30% dos respondentes.
Já quanto ao tempo de uso, as redes sociais,
principalmente em plataformas como Facebook e Instagram, superam largamente
qualquer outro meio, com 33% das pessoas conectadas de uma a três horas por dia
e outros 16% durante mais de três horas diárias. Em contraposição, 51% passam
menos de cinco horas por semana assistindo TV. E as diferenças são ainda mais
gritantes em relação aos jornais: apenas 16% passam de uma a três horas diárias
lendo qualquer jornal digital.
A segunda, de um mês antes, foi realizada
pelo Instituto Reuters, em 46 países, sobre os hábitos de consumo de notícias.
Os dados apontam que 30% das pessoas preferem o acesso pelas mídias sociais,
contra 22% que optam pelos canais de imprensa, uma diferença de 8%. Essa
distância vem crescendo. Era de 5% em 2022 e 1% em 2021, sendo que até 2020 o
acesso pelos canais da imprensa sempre foi maior.
Segundo o Instituto, uma explicação estaria
na clara preferência de jovens entre 18 a 24 anos em buscar notícias pelas
mídias sociais, consumir conteúdos mais divertidos, com mistura de áudio, vídeo
e texto, em plataformas como TikTok, Instagram e Snapchat, além de valorizarem
mais influenciadores do que jornalistas. Outro dado preocupante revelado é a
tendência de queda quando o assunto é confiança nas notícias, saindo de 62% em
2015 para 43% no ano passado.
Ou seja, está cada vez mais evidente a perda
de relevância do rádio e da TV como fonte de informação para as pessoas em um
mundo cada vez mais conectado via internet. E mesmo quando uma parte delas
continua vendo noticiário na TV, o fazem apenas para confirmar suas convicções
estabelecidas previamente nas redes, especialmente nos grupos de WhatsApp.
Uma reflexão a ser feita é se o cenário
apontado pelas pesquisas se reproduz no período da propaganda no horário
eleitoral gratuito em rádio e TV, previsto de 30 de agosto a 3 de outubro.
Aqui, é importante observar que, a partir das eleições municipais de 2016, a
legislação trouxe uma novidade, que foi a possibilidade de inserções diárias,
com duração de 30 segundos, distribuídas nos intervalos comerciais ao longo da
programação regular de rádios e TVs.
Segundo especialistas em mídia, o impacto da
mensagem dessas inserções é maior, já que o espectador e/ou ouvinte é pego de
surpresa, ao contrário dos períodos de 10 minutos diários dedicados
exclusivamente e de forma contínua à propaganda eleitoral.
Outra informação relevante é que somente as
emissoras reguladas pela legislação de radiodifusão têm a obrigação legal de
transmitir a propaganda eleitoral gratuita. Assim, no caso das TVs, verifica-se
uma limitação porque, na maioria dos municípios, a cobertura é feita a partir
de uma geradora ou de uma emissora afiliada às grandes redes de TV aberta, em
geral sediadas em municípios polo. Portanto, nas menores cidades, o papel da TV
no horário eleitoral gratuito tende a ter uma influência pequena ou quase nula
no processo de decisão do eleitor.
Por outro lado, quando se analisa a situação
das rádios, ainda é possível identificar um razoável número de municípios com
emissoras instaladas enquadradas nessa obrigatoriedade que, cabe ressaltar, não
se aplica a web rádios e rádios comunitárias.
Diante desse cenário, quem trabalha em
campanhas ou pretende se candidatar em outubro deve levar em conta as seguintes
ponderações: nas 212 cidades com mais de 100 mil eleitores, é fundamental
investir em materiais de excelência para veiculação no horário eleitoral
gratuito, com destaque para as inserções de 30 segundos; nos 1.092 municípios
que têm entre 20 mil e 100 mil eleitores, vale a pena identificar as rádios
legalizadas para preparar materiais de boa qualidade, mas reconhecendo a
limitação do alcance; e para os 4.266 municípios com até 20 mil eleitores, o
foco é um só: gastar sola de sapato!
Na próxima coluna, trataremos de candidaturas
ao legislativo municipal, abordando as características valorizadas pelo
eleitorado e a narrativa mais adequada. Até lá!
*Consultor em estratégia
Um comentário:
Muito interessante e lógico! Parabéns ao autor, e ao blog por divulgar textos tão diversificados!
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